Os grupos homofóbicos russos foram bem diretos: gays não seriam bem recebidos durante a Copa. Mensagens ameaçando esfaquear homossexuais e transgêneros foram enviadas ao Pride In Footbaal, grupo LGBT com sede na Inglaterra. A notícia correu o mundo e chegou a Suécia, onde mora Kristian Yacob, 23 anos.
“Eu tinha medo de vir para a Rússia por causa de tudo que li na imprensa. Dois amigos desistiram por causa disso, mas ainda assim eu vim”, conta o torcedor.
Apesar do medo, ele trocava beijos com um rapaz da Noruega numa das duas boates gays localizadas em uma rua underground de São Petersburgo.
Kristian explica que estava aproveitando os primeiros dias da Copa porque sabe que está na cidade mais aberta da Rússia. “Depois eu vou para Níjni Novgorod, Sochi e Iekaterinburgo. Nestes lugares vai ser somente futebol e restaurantes, nada de festa. Sei que existe maior risco de sofrer agressões fora de São Petersburgo.”
Não que o rapaz se sinta completamente seguro na cidade onde está. Kristian fala que sempre está acompanhado de um amigo hétero e que os dois são altos e fortes. Por este motivo, acredita que não será qualquer pessoa que vai encarar a dupla. Ainda assim, comenta que toma precauções quando está em ambientes que não são amigáveis a gays.
“Tento parecer o mais hétero que consigo para evitar qualquer problema. Mas esta situação é uma vergonha. As pessoas não podem ser obrigadas a agir assim.”
Alguns prédios ao lado, funciona a outra balada gay de São Petersburgo. O ambiente é igual. Atendentes sarados sem camisa, música eletrônica em volume alto e muita gente dançando. Mas ali os torcedores homossexuais não estão com aquela camisa amarelona da Suécia. Eles entregam que são estrangeiros por causa dos olhos puxados.
Sen Wang, 24 anos, saiu de Shenzhen, na China, para ver a Copa porque pertence ao grupo de asiáticos contagiados pelas excursões de times europeus em pré-temporadas. Ele soube das ameaças e confiou na fama de cidade mais aberta da Rússia que recai sobre São Petersburgo. O rapaz crê que os moradores saberão conviver com gays. Espera que a visita deles ajude a mudar, nem que seja somente um pouco, a mentalidade dos russos.
“Mas vou evitar as cidades pequenas porque lá eu não acho que estarei seguro.”
Neil Wang, 26 anos, é morador de Pequim e viajou acompanhado de quatro amigos. Na balada gay, ele age normalmente. Repousa a mão na coxa do companheiro e beija sem preocupação. O torcedor repete a mesma história dos demais, que acredita que não será agredido em São Petersburgo.
Mas o rapaz é bastante crítico em relação ao comportamento e às leis russas a respeito de homossexuais. Lembra que desde 2013 existe a chamada lei da “propaganda gay”. Ela não permite manifestações LGBT, paradas gays e distribuição de material divulgando relacionamento entre pessoas do mesmo sexo.
A Copa já mostrou que esta lei não fica só no papel. Um ativista britânico foi preso na última quinta-feira (14) por exibir um cartaz na Praça Vermelha, em Moscou. O texto criticava o presidente russo: “Putin não agiu contra a tortura de gays na Tchetchênia”. (Folhapress)