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| Em 4 anos atrás

Revoltados com decreto que proíbe até som mecânico, músicos protestam na Prefeitura

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Um grupo de músicos preocupados com as constantes restrições impostas à categoria para conter o avanço do coronavírus irá ao Paço Municipal nesta quinta-feira (25/02) às 10h da manhã protestar. No último decreto publicado na segunda-feira (22/02) os bares e restaurantes sequer podem tocar som mecânico. 

O presidente da Ordem dos Músicos em Goiás, Emerson Biazon, em entrevista ao Diário de Goiás, lamenta todo o cenário mas enxerga no texto uma ‘perseguição’ aos artistas. O novo texto foi um duro golpe aos músicos que já veem os grandes eventos cancelados desde o começo da pandemia em março. As lives do primeiro momento da pandemia não conseguiram sustentar todos, principalmente aqueles que se limitavam a tocar nos bares e restaurantes em bairros da capital. 

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“O problema é que assim, parece que está sendo até uma classe que está sendo perseguida. Porque proibir bebidas, ok, a gente até entende porque o pessoal realmente vacila, né, dentro do bar. Tá restringido, tem todas as regras, e ele bebe, acaba levantando, deixando a máscara de lado. A gente entendeu perfeitamente isso daí. Só que agora, restringir até um som ambiente”, lamenta. 

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Ele vê uma falsa simetria no rigor do decreto, principalmente quando vê o texto liberar as reuniões em templos religiosos, sem uma restrição à música nestes locais. “Se não pode ter música nos bares e restaurantes, então também não pode ter música nas igrejas”, contrapõe.

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Emerson promete uma manifestação pacífica. “Não chega nem a ser um protesto”. O pedido maior é que a Prefeitura apenas permita que a música ao vivo possa retornar aos estabelecimentos. “A nota-técnica em nenhum momento fala que a música ao vivo, quanto mais mecânica, sejam proibidas. Fala apenas em limitação a capacidade do estabelecimento. E é isso que pediremos para que seja mantido em uma manifestação pacífica”, pondera.

Músicos estão deixando as carreiras de lado

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Segundo a Ordem dos Músicas – Goiás há cerca de 5 mil músicos que tocam na noite em Goiânia, mas desde que a pandemia veio com seus diversos decretos, diversos deles foram buscar alternativas de trabalho em outros setores. “Quando veio a pandemia, reduziu entre 2.800 a 3 mil músicos, sendo que muitos migraram da profissão. Saíram, porque fechou o mercado. Foram fazer qualquer outro tipo de trabalho, menos atuar na música, porque não compensa mais”, destaca.

Ao restringir a música nos estabelecimentos, há outros profissionais como técnicos de som e produtores de áudio que deixam de trabalhar também. Eles são profissionais que não são vistos pelo público, mas dependem dos que estão “na linha de frente” da música. Sem auxílio, alguns precisaram de ajudas financeiras de outros profissionais. “Organizamos muitas cestas básicas para colegas no começo da pandemia. Os eventos musicais foram os primeiros a parar e o último a voltar”. A alternativa de tocar para uma casa com uma banda menor ou mesmo apenas voz e violão, será proíbida a partir desta quinta-feira (25/02).

Lei Aldir Blanc

A Lei Aldir Blanc, que começou a ser paga no começo do ano, até deu uma desafogada, mas na prática não resolve tanto. É que há um custo para se fazer uma produção audiovisual ou algum material em troca do benefício. Músicos e artistas ouvidos pelo Diário de Goiás sequer conseguiram acesso aos recursos. É o caso de Marquynhos SP, que afirma representar Goiás no samba para todo o Brasil. “Eu vivo do samba, levo o nome de Goiânia para o Brasil todo por meio do samba”. 

Há quase 20 anos morando em terras goianas, viu negado o auxílio. “Mesmo comprovando que eu trabalhava com música, disseram que eu não enquadra nos critérios do benefício”, pondera. Marquynhos SP tem uma banda que movia outros 25 profissionais entre músicos de apoio, além da equipe de produção. “Quando as pessoas falam de um músico, às vezes elas não imaginam a quantidade de empregos diretos e indiretos que a gente faz girar”, pontua. 

Emerson Biazon pontua que os que conseguiram se beneficiar do programa já receberam os valores ao longo do mês de fevereiro. Questionado se a extensão do benefício seria uma saída, Emerson disse que no momento, quer pedir para a Prefeitura fazer valer a nota-técnica da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás. “Não precisa nada além disso, só restringir os estabelecimentos a 30% e permitir que nós músicos possamos tocar durante o período que for liberado”, destaca.

A reportagem tentou contato com a assessoria da Secretaria de Governo e do titular da pasta, Andrey Azeredo para saber os critérios adotados na definição do decreto envolvendo as restrições dos bares e restaurantes e também uma resposta para as demandas dos músicos, mas até o fechamento desta matéria, não houve resposta.

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Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.