05 de dezembro de 2025
economia

Recuo do governo sobre IOF evidencia força do poder econômico, avalia José Kobori

Segundo Kobori, a mudança de posição em poucas horas após o anúncio evidencia a fragilidade do Executivo frente às pressões do mercado
José Kobori analisa o recuo do governo na proposta de alteração do IOF e discute as implicações dessa decisão para a economia. Foto: Reprodução.
José Kobori analisa o recuo do governo na proposta de alteração do IOF e discute as implicações dessa decisão para a economia. Foto: Reprodução.

O economista José Kobori criticou duramente, em vídeo publicado nesta quarta-feira (4), em seu canal no YouTube, o recuo do governo federal em relação à proposta de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), voltado a aplicações financeiras no exterior. Segundo ele, a mudança de posição em poucas horas após o anúncio evidencia a fragilidade do Executivo frente às pressões do mercado e a falta de um plano estruturado de longo prazo para o país.

“Poucas horas depois de divulgar o aumento do IOF, o governo teve que recuar. Isso mostra o quanto o poder econômico se traduz em poder político”, afirmou Kobori. “Bastaram algumas ligações entre representantes do setor financeiro e integrantes do Congresso para a medida ser anulada.”

O aumento em questão elevaria de 0,38% para 3,5% a alíquota do IOF sobre aplicações de fundos no exterior. A medida foi revertida após reação negativa de agentes do mercado. “O mercado entrou em polvorosa, e seis horas depois o governo voltou atrás. Isso só reforça como as decisões econômicas seguem sendo ditadas pela elite financeira e não pela lógica de justiça social”, declarou o economista.

Para Kobori, o episódio reforça um problema estrutural: “Nosso sistema tributário é extremamente injusto e regressivo. As classes mais pobres pagam proporcionalmente muito mais impostos do que as classes mais ricas.” Ele defende que qualquer mudança fiscal deveria estar inserida em um plano maior de desenvolvimento nacional, algo que, segundo ele, o Brasil ainda não tem. “Sempre se tomam decisões para cobrir buracos fiscais de curto prazo, e não com base em um projeto de país”.

O economista também criticou a forma como a proposta foi comunicada. “Houve vazamento de informações antes do anúncio oficial. Um ministro acabou antecipando a proposta na B3. Isso mostra total falta de coordenação e seriedade na condução da política econômica”, avaliou.

Apesar da crítica ao recuo, Kobori afirma que a função do IOF deve ser regulatória, e não meramente arrecadatória. “O IOF deve servir para controlar a conta de capitais, para que o Brasil não fique exposto ao livre fluxo especulativo que afeta o câmbio e, por consequência, a inflação e os juros”, explicou. “Colocar um IOF de 3,5% numa operação intraday, por exemplo, inviabiliza a especulação de curtíssimo prazo. Isso protege nossa economia”.

Kobori ainda lembrou que o governo, ao mesmo tempo em que falava em aumento de receita, anunciou cortes de despesas que surpreenderam positivamente o mercado. “Foram R$ 30 bilhões de cortes, sendo R$ 10 bilhões em bloqueios e R$ 20 bilhões em contingenciamento. O mercado esperava um corte bem menor, em torno de R$ 10 bilhões. Nisso o governo foi generoso”, reconheceu.

“Falta firmeza e estratégia”

No entanto, o economista pondera que o problema fiscal do país não será resolvido com medidas pontuais. “É preciso uma ampla reforma tributária. A gente tem que tributar menos consumo e produção, e mais renda e patrimônio”, defendeu. “Falta coragem política para enfrentar essa agenda. O governo é vacilante. Anuncia e depois volta atrás, como fazia o Trump”.

Segundo ele, a falta de firmeza e de visão estratégica só reforça a vulnerabilidade do Executivo diante das pressões de uma elite que representa “apenas 1% da população”. “O Congresso não representa a sociedade brasileira. Ele representa a elite econômica, os interesses do centrão e da direita. E o governo, infelizmente, se mantém refém desse sistema”, concluiu.

Para Kobori, enquanto o país continuar sem um plano de desenvolvimento nacional e com ações desconectadas da realidade da maioria da população, medidas como a proposta de aumento do IOF seguirão sendo apenas tentativas paliativas e fadadas ao fracasso. Confira o vídeo na íntegra:


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