A atuação de grupos armados de orientação extremista no Brasil pode se tornar alvo de uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados. A proposta, liderada pela deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), começou a ser formalizada nesta quinta-feira (29), com a coleta de assinaturas para a abertura da comissão.
A iniciativa surge após a operação da Polícia Federal que revelou a existência do “Comando C4” — sigla para “Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos” —, uma organização paramilitar composta por civis e militares da ativa e da reserva, acusada de espionagem, assassinatos por encomenda e planejamento de atentados contra autoridades públicas.
A CPI, segundo Talíria, poderá investigar a atuação de grupos de orientação nazifascista, milícias ideológicas e redes ilegais de extermínio com motivações políticas, além das conexões com agentes públicos e privados que possam estar financiando ou apoiando tais estruturas.
“O avanço da extrema-direita organizada e armada exige resposta institucional imediata e investigação profunda por parte do Parlamento”, afirmou a deputada, conforme o jornal O Globo. Ela classificou a situação como “gravíssima” e defendeu uma ação firme do Congresso diante das ameaças à democracia e aos direitos humanos.
A própria Talíria tem experiências no enfrentamento de extremistas. Por diversas vezes ela precisou de escolta da Polícia Legislativa após sofrer ameaças de morte e tentativas de intimidação por causa de seus posicionamentos políticos..
As revelações feitas pela Polícia Federal indicam que o Comando C4 atuava com um alto grau de sofisticação. O grupo oferecia serviços de espionagem e ações ofensivas com valor estipulado: até R$ 250 mil por operações contra ministros do Judiciário, por exemplo — utilizando armamento pesado, drones, hackers, e até profissionais do sexo para infiltração.
Advogado foi vítima
O grupo também é investigado pela execução do advogado Roberto Zampieri, morto a tiros em dezembro de 2023, em Cuiabá (MT). Zampieri teria sido assassinado após envolver-se em um processo que investigava a venda de sentenças judiciais no Tribunal de Justiça do Mato Grosso e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
As apurações indicam que o crime teve motivação agrária, envolvendo uma disputa por terras avaliadas em R$ 100 milhões. No entanto, a PF aponta que a atuação do Comando C4 vai muito além desse caso, incluindo tentativas de monitoramento e eliminação de figuras públicas como o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e ministros do STF como Alexandre Moraes e Cristiano Zanin.
Entre os presos na operação estão o fazendeiro Aníbal Laurindo, apontado como mandante do assassinato; o coronel da reserva Luiz Caçadini, suspeito de intermediar ações do grupo; e Antônio Gomes da Silva, acusado de ser o executor do homicídio de Zampieri. Todos negam envolvimento ou aguardam acesso aos autos para se manifestarem.
Barreiras para uma CPI agora sobre grupos armados extremistas
Apesar da gravidade dos fatos, o avanço da CPI enfrenta obstáculos regimentais. Para ser instaurada, a proposta precisa de ao menos 171 assinaturas de deputados e, depois, furar a fila de outros 13 pedidos de CPI já protocolados na Câmara. Apenas cinco comissões podem funcionar simultaneamente.
Atualmente, os pedidos prioritários envolvem temas como a CPI da 123 Milhas, do crack, do tráfico de crianças, do abuso de autoridade e do crime organizado. A proposta de Talíria Petrone só poderá avançar se uma dessas CPIs for concluída ou retirada da lista.
Mesmo assim, a deputada afirma que seguirá pressionando na Câmara para que haja apuração efetiva das denúncias. “Estamos diante de uma ameaça real, com grupos armados, organizados, ideologicamente orientados, que colocam em risco a estabilidade democrática do país”, disse.
A investigação da PF segue em curso, sob relatoria do ministro Cristiano Zanin no Supremo Tribunal Federal. Ele já autorizou a prorrogação da apuração por mais 60 dias, atendendo a pedido da Polícia Federal, que descreveu o esquema como “muito mais complexo” do que o inicialmente identificado.
Além da responsabilização criminal dos envolvidos, a CPI proposta pode ser crucial para mapear o funcionamento dessas redes e as eventuais omissões ou cumplicidades institucionais que vêm permitindo sua operação.
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