23 de novembro de 2024
Mundo

Presidente da Bolívia renuncia; “Golpe de Estado”, denunciou

(Foto: Reprodução/TeleSUR)
(Foto: Reprodução/TeleSUR)

A crise política na Bolívia ganhou mais um capítulo que pode ter um sabor amargo na história do país. Após ter as eleições questionadas pela Organização dos Estados Americanos, o presidente boliviano, Evo Morales anunciou a convocação de novas eleições. No final da tarde deste domingo (10/11) no horário de Brasília, Morales apresentou sua carta de renúncia. Seu vice, Alvaro Gárcia Linera também o acompanhou.

O principal argumento de Morales foi para que a oposição parasse de cometer violência contra seus apoiadores. O histórico é de que nos últimos dias, apoiadores de Evo Morales tiveram suas casas saqueadas e queimadas por opositores. Segundo o Linera, essa onda de violência aumentou consideravelmente após o presidente anunciar a convocação das novas eleições mas não garantir sua renuncia. Carlos Mesa e Luis Fernando Camacho foram acusados de serem os principais articuladores da oposição em torno da violência.

Morales iniciou seu pronunciamento já dizendo que estava renunciando o cargo de presidente. Disse que renunciava para que tanto Mesa, como Camacho deixassem de perseguir seus aliados. “Renuncio o meu cargo de presidente. Porque decidi esta renuncia? Para que Messa e Camacho não siga perseguindo meus irmãos, não sigam queimando as casas de assembleistas, de aliados. Para que Messa e Camacho não sigam sequestrando e maltratando os familiares de entes sindicatos como aconteceu em Potosi. Que não sigam prejudicando a gente mais humilde. A comerciantes que não tem nada a ver em Santa Cruz. Estamos renunciando justamente para que os irmãos e irmãs, dirigentes e autoridades, não sejam castigados, perseguidos e ameaçados.”

Afirmou que estava sofrendo um golpe tanto de civis como de setores militares e que o ato era um atentado contra a democracia. “Lamento muito este golpe cívico e alguns setores militares para atentar contra a democracia, contra a paz social, com violência e amedrontamento intimidar ao povo boliviano”, disparou.

Apesar da renuncia, Morales disse que a luta não pararia naquele momento, mas que estava buscando uma conciliação. Ele pediu que seus opositores parassem com a onda de perseguição. “Quero dizer irmãos e irmãs, a luta não termina aqui. Os humildes, os pobres, os setores sociais, patriotas, vamos continuar com essa luta por igualdade e paz. Neste momento é importante dizer ao povo boliviano, é minha obrigação como primeiro indígena do povo boliviano buscar essa pacificação. Espero que Messa e Camacho entendam minha mensagem. Quero dizer à eles: não maltratem nossos irmãos e irmãs. Não aterrorizem a gente humilde, gente pobre”, pediu.

Também solicitou para que não mentissem e acusou grupos oligárquicos de maquinarem um golpe antes de dizer que estava enviando sua carta de renuncia. “Não os enganem com mentiras. Grupos oligárquicos conspiram contra a democracia. Nós conhecemos nossa história. Me dói muito que esses senhores provoquem violência. Por este e outras ações estou renunciando enviando minha carta de renuncia a Assembleia boliviana”,

Vice rememora histórico dos 13 anos

Linera falou logo após Morales. Estava abatido e por diversas vezes, sua voz embargava. Rememorou o que disse considerar como conquistas alguns feitos nos últimos 13 anos, período pelo qual ficaram a frente do poder boliviano. Disse que democratizou o acesso a educação, um governo que prestava assistência às mulheres pobres, grávidas e aos humildes e menos favorecidos. “Não nos curvamos aos estrangeiros para pagar salários”, mencionou. Lembrou que o governo de Morales tirou 30% dos bolivianos da extrema-pobreza convertendo-os em classe média.

“Somos um governo que todo esse tempo, convertemos a 3 milhões de bolivianos, a 30% dos bolivianos tiramos da extrema-pobreza para convertê-los em classe média. Somos um governo que não se encurvam ante aos estrangeiros para pagar os salários. Que deu de volta a dignidade de que vivemos em nosso próprio trabalho e esforço. Empregamos mais de duzentas mil emendas as famílias mais humildes, as mãe solteiras, as mães abandonadas, as família sem capacidade. Temos integrado nossa pátria de oriente a ocidente, de norte a sul. Temos industrializado nossos recursos naturais. Temos garantido a educação gratuita para os pobres, para trabalho e oportunidades do campo e da cidade. Somos o pais que mais cresceu no continente. Do país mais pobre e abandonado do continente colocamos o país numa situação de dignidade”, disse emocionado.

O vice também relembrou a conquista dos últimos anos de universalizar o sistema de saúde. “Temos garantido que os bolivianos depois de 194 anos possam ter um seguro universal gratuito para que tenha tratamento em um hospital digno”, pontuou. Também disse que Morales conseguiu tirar as crianças das ruas, colocando-os na escola. “Temos permitido que uma criança tenha o alcance para que estude”, pontuou. E ainda disse que a Bolívia foi o país que mais cresceu no continente nos últimos anos. “Temos garantido a educação gratuita para os pobres, para trabalho e oportunidades do campo e da cidade. Somos o pais que mais cresceu no continente”.

 

Ataque aos opostiores

Atacou seus opositores. Apesar das eleições contestadas pela OEA, disse que a oposição que não aceitou o resultado das urnas e que houve “conspiração” e trama para um “golpe de estado”. “Em outubro, tivemos eleições e o povo boliviano nos deu 47% dos seus votos. Sem embargo, forças estranhas, obscuras começaram a conspirar, queimaram instituições, casas eleitorais, intimidaram pessoas para bloquear rodovias. Formaram bandos paramilitares para intimidar, golpeando com paus mulheres humildes que levavam seus filhos à suas escolas. Insultaram gente trabalhadora. Foi a primeira etapa de um golpe de estado para não reconhecerem um governo legitimo.

Linera continuou dizendo o que para ele, foi o desenho para que o golpe se consumasse. “Não contentes com isso, golpearam mulheres, insutaram os imigrantes, discriminaram gente pobre e mais humilde de nosso pais e na última etapa com a ruptura da ordem constitucional por parte de um setor da Policia Nacional. Eles podem proteger a cidadania, proteger as instituições. Se aquartelou. Se converteu uma parte deles em grupo de choque e de forças políticas anti-democráticas e anti-bolivianas.”

O vice completou dizendo que ainda neste domingo a onda de violência se acentuou. “Nas últimas horas temos visto que policiais armados com armas de fogo, não com gás lacrimogênio passaram a perseguir camponeses nos campos e nas comunidades. Em algumas cidades, famílias de trabalhadores tem sido intimidados, sequestrados, suas casas queimadas, suas roupas destruídas”, denunciou.

Destacou que todos os 13 anos foram trabalhados pensando no “pobre” e nos “mais humildes” e que os ataques vem de “grupos institucionais” que promovem “ataques violentos”. “Somos gente trabalhadora. Gente que dedicou sua vida inteira para favorecer aos mais humildes. Para proteger pessoas mais necessitadas e desamparadas. Este é nosso compromisso e nós nunca vamos renunciar a isso. Não queremos que estes grupos violentos ensanguentem mais o povo pobre. São grupos inconstitucionais e nós não vamos restabelecer a ordem constitucional em base de sangue e fogo. Não somos quem está provocando mortes, quem está provocando violência, quem está tomando as casa de gente humilde nas cidades. Estamos renunciando e estou também renunciando meu cargo de vice-presidente e o cargo de presidente da Assembleia Legislativa Nacional. O golpe de Estado está consumado.”

Linera destacou o que Morales disse: a decisão tomada é para que a onda de violência promovida pelos opositores seja encerrada. “Tomamos essa decisão para que se use violência por parte dessas forças agressivas contra o povo. Para que não maltratem as famílias. Por isso estamos renunciando.”

“A luta continua”

Mas disse que tanto ele como Morales continuarão lutando para essa onda “obscura” seja vencida. “Seguiremos lutando, temos dedicado nossa vida para defender os pobres e humildes e seguiremos fazendo. Amanhã e sempre. Sempre estaremos ao lado do mais humilde, do pobre e do trabalhador. Estaremos ao seu lado, nas comunidades, nos bairros, na academia para seguir priorizando os interesses das pessoas trabalhadoras. Estou seguro que mais cedo que tarde, novamente Bolívia levantará a cabeça e se reestruturará essa etapa tão dura e perversa de ataque a instituição democrática, ao povo boliviano e as instituições. Vamos bolivianos, seguir juntos adiante. É uma etapa tão triste, dolorosa e perversa de ataque a instituição democrática, ao povo boliviano e as instituições. São forças que estão destruindo a democracia.”

(Com informações da TeleSUR)


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