O conceito de feminilidade não é um padrão mutável nas passarelas. Ele sempre resume os esforços da indústria da moda em, a cada seis meses, levar glamour e sensualidade ao guarda-roupa das mulheres. Miuccia Prada, em uma das melhores coleções de sua carreira, mostra um outro caminho, uma exaltação a essa mesma feminilidade, só que construída por meio do discurso feminista.
No grande quarto de mulher montado na sede da marca, em Milão, pôsteres de filmes relacionados ao feminismo ou revoluções foram adaptados com imagens de modelos do inverno 2018 da grife. Quando as luzes se apagaram, um exército de garotas vestidas com colagens de diferentes épocas, todas marcadas por mudanças no comportamento feminino, se misturaram às imagens.
Prada costurou um “patchwork” das garotas francesas da revolução cultural de 1968, das americanas do período “flower power”, das burlescas dos anos 1920 e das guerreiras ocultas, sejam da ficção ou da vida real.
Personagens com cara de pin-up seguravam armas em uma das estampas colada em vestidos curtos, que receberam sobreposições de casacos de couro e peles. Na cabeça de uma das modelos, plumas simulavam um cocar indígena. A mesma referência tribal foi aplicada em looks acetinados.
Nos pés, sapatos baixos receberam aplicações de plumas, e as botas, grossas e na altura dos joelhos, camadas de pelúcia contra o frio.
A imagem pesada e confusa parecia clamar para que as garotas saíssem da clausura dos quartos e fossem para as ruas, prontas para uma longa caminhada, uma batalha contra a indiferença da sociedade machista e a censura que se avizinha com o conservadorismo crescente no mundo.
Em rara demonstração explícita de suas ideias, a estilista colou pensamentos que norteiam o discurso politizado dessa coleção. “Moda é sobre o cotidiano, e o cotidiano é o palco político de nossas liberdades”, dizia um trecho pregado em um dos pôsteres da sala de desfile.
“Nesse momento, no qual nos confrontamos com diversas incertezas culturais, é difícil não pensar que alguma forma de produção criativa será impedida de tomar posição em favor dos valores liberais nos quais acreditamos”, completa Miuccia.
O ideal de liberdade também norteou o desfile da Emporio Armani, mesmo ela aparecendo enquadrada em uma roupa mais feminina, segundo os padrões da moda.
Na coleção desfilada na sexta (24), Giorgio Armani aplicou alfaiataria feminina, que o tornou famoso no final dos anos 1970, em roupas cobertas de brilhos e confeccionadas com tecidos leves.
A androginia feminilizada é um dos pontos altos das criações do designer, que ainda ampliou o padrão xadrez da alfaiataria masculina para aplicá-los em costumes elegantes. São roupas noturnas e de um humor festeiro que, Armani sabe, é artigo precioso em tempos de guerra.
Avaliação
- PRADA Ótimo
- EMPORIO ARMANI Muito Bom
(Folhapress)
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