REYNALDO TUROLLO JR. E GUSTAVO URIBE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal cumpre, na manhã desta quarta-feira (19), oito mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicações) e outros investigados por um suposto esquema de recebimento de recursos ilícitos de 2010 a 2016.
A medida foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e é decorrente da delação da JBS. Um dos donos do frigorífico, Wesley Batista, afirmou que pagou propina de R$ 350 mil por mês a uma empresa ligada a Kassab, a Yape Consultoria e Debates, envolvendo contratos superfaturados de aluguel de caminhões. O valor total atingiria cerca de R$ 30 milhões, segundo o delator.
Kassab, do PSD, será o chefe da Casa Civil do governo João Doria (PSDB) a partir de janeiro.
De acordo com Wesley, seu grupo herdou esse contrato ao comprar o frigorífico Bertin, em 2009, e decidiu manter os pagamentos por considerar que Kassab poderia, em algum momento, exercer influência para favorecer sua empresa.
Um inquérito foi aberto no STF em fevereiro deste ano. Também é investigado um suposto pagamento de R$ 28 milhões ao diretório nacional do PSD, na época presidido por Kassab, com o objetivo de comprar o apoio da sigla em favor do PT nas eleições presidenciais de 2014, quando a ex-presidente Dilma Rousseff foi reeleita.
Segundo a PF, parte do dinheiro também teria sido encaminhada para a campanha de um candidato ao governo do Rio Grande do Norte e a um deputado federal, que foram eleitos naquele estado. Os envolvidos seriam o governador Robinson Faria (PSD) e seu filho, o deputado Fábio Faria (PSD-RN).
Um inquérito sobre os dois e a JBS já foi arquivado no Supremo. Mas, no âmbito da investigação sobre Kassab, surgiram novas informações que levaram a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a pedir esclarecimentos aos delatores Wesley e Ricardo Saud, ex-executivo do grupo J&F, que controla a JBS.
“Suspeita-se que os valores eram recebidos por empresas, através da simulação de serviços que não foram efetivamente prestados e para os quais foram emitidas notas fiscais falsas”, informou a PF sobre as investigações.
Cerca de 40 policiais participam da operação nesta quarta em São Paulo e no Rio Grande do Norte. As suspeitas apontam para os crimes de corrupção passiva e caixa dois eleitoral.
OUTRO LADO
Em nota, Kassab disse ter confiança na Justiça brasileira e que está à disposição das autoridades judiciais.
“O ministro confia na Justiça brasileira, no Ministério Público e na imprensa, sabe que as pessoas que estão na vida pública estão corretamente sujeitas à especial atenção do Judiciário, reforça que está sempre à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários e ressalta que todos os seus atos seguiram a legislação e foram pautados pelo interesse público”, declarou.
Segundo pessoas ligadas à investigação, foram autorizadas também as quebras dos sigilos telefônico de Kassab e bancário do ministro e de suas empresas.
A suspeita é de que os negócios familiares eram utilizados para lavagem de dinheiro. As autorizações foram baseadas em pedido da PGR (Procuradoria Geral da República), no rastro do escândalo da JBS.