O Laboratório de Métodos de Extração e Separação da Universidade Federal de Goiás (Lames-UFG) desenvolveu um procedimento para atestar a qualidade do álcool gel 70% — produto muito usados nos últimos meses ante a pandemia da covid-19.
Após o desenvolvimento do ensaio, a equipe do Lames coletou 70 amostras de álcool gel 70% vendidos em mercados de Goiânia, Aparecida de Goiânia e Senador Canedo. Dessas 70 amostras, 28 estavam com padrões de qualidade inadequados para uso, o que representa 40% do total coletado.
“Segundo a OMS [Organização Mundial da Saúde], um álcool gel que tenha concentração de etanol na faixa de 60% a 80% está adequado para se fazer assepsia microbiológica, o que inclui o combate a vírus como o coronavírus. A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], com base nessa faixa de 60% a 80%, estabeleceu que toda amostra comercial de álcool gel deveria ter concentração de etanol na faixa de 63% a 77%. A questão é que 40% das amostras estavam com conteúdo abaixo disso”, relatou Antoniosi.
O professor explica ainda que esse produto disponível para venda é o álcool gel sanitizante de mãos e, com concentração de etanol abaixo de 63%, apresenta uma qualidade muito inferior ou até mesmo ineficaz no combate de alguns microrganismos.
“Se 40% dos produtos vendidos estão com conteúdo inadequado de etanol, isso significa que boa parte do nosso mercado está fornecendo à população um produto que não tem eficácia adequada para o combate à covid. Apesar de sermos o segundo maior produtor de etanol no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, nós temos uma das maiores taxas de disseminação do coronavírus e uma das razões para que isso esteja ocorrendo pode ser o conteúdo inadequado de etanol no álcool gel 70%”, destaca o coordenador do Lames-UFG.
O coordenador-geral do Lames, Nelson Roberto Antoniosi Filho, explica que já existiam normas de controle de qualidade para se produzir álcool 70% em sua forma líquida, que é a mistura do etanol com água, no entanto não havia nenhum procedimento de controle de qualidade para o álcool gel, que é o etanol misturado com água, seguido da adição do espessante.
Ainda em 2020, no começo da pandemia, a equipe do Lames decidiu colaborar com os profissionais de atuam na linha de frente da pandemia. Eles explicam que o intuito era preparar amostras de álcool em gel para as unidades hospitalares públicas. O professor Nelson Antoniosi apontou que no começo a falta de um produto no mercado poderia atrapalhar os trabalhso da equipe.
“Primeiro, para se fazer álcool gel, é preciso adquirir um polímero que dá consistência de gel ao produto e isso estava em falta no mercado. E quando você encontrava o produto, o preço estava muito alto. O segundo entrave era que não havia procedimento de controle de qualidade para o produto acabado”, explica o professor.
Devido às dificuldades enfrentadas pela equipe, os pesquisadores decidiram preparar apenas o álcool líquido 70% para que fosse distribuído ao Hospital das Clínicas da UFG e ao Hospital Araújo Jorge.
“Mas sempre que a gente encontra uma dificuldade, eu costumo dizer que isso é uma oportunidade para se fazer pesquisa. Então, nós fizemos uma proposta de projeto de pesquisa para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e para a Fundação de Amparo à Pesquisa em Goiás (Fapeg) e os dois órgãos aprovaram essa atividade de pesquisa. Essa pesquisa se tornou o tema do mestrado em Química do aluno Leonardo Alves Carvalho Rodrigues, com a participação da pesquisadora Lilian Ribeiro Batista”, conta Nelson.
O professor Nelson destaca também que a equipe começou a desenvolver polímeros nacionais, já que os importados estavam em falta e com preço muito ajustado.
“Assim, começamos e continuamos ainda a desenvolver polímeros nacionais em substituição aos importados para funcionar como o gelificante para o álcool gel. Nesse período, também concluímos o desenvolvimento e a validação de um procedimento (ensaio) de controle de qualidade para álcool gel 70%”, explicou Antoniosi.