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| Em 9 meses atrás

Peso do legado político vai marcar eleições desse ano em Goiânia, afirma Agenor Mariano

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Nas eleições haverá um peso especial esse ano para os candidatos à Prefeitura de Goiânia que trouxerem na bagagem a herança política de alguém que teve força na Capital e no Estado, pensa o presidente do MDB goianiense, Agenor Mariano. Na segunda parte da entrevista ao Diário de Goiás, concedida esta semana, ele leva em conta o legado político como fator eleitoral importante em 2024.

Nessa linha, Iris Rezende, Maguito Vilela, Marconi Perillo, Darci Accorsi, Ronaldo Caiado são nomes que podem cacifar muito quem estiver no páreo. Nessa parte da entrevista, Mariano rebate críticas do atual prefeito a ex-prefeitos, o que inclui Iris, mesmo sem ser citado nominalmente pelo prefeito.

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Também comemora a decisão do partido de entregar os cargos em abril de 2021. Na época, vice-prefeito, Cruz assumiu após a morte de Maguito Vilela, que era o prefeito eleito. Mas os emedebistas consideraram que o vice traiu a aliança com o líder, vítima de Covid-19. Mariano relembra os motivos do rompimento (clique e leia reportagem da época), festejando a decisão diante da baixa aprovação da atual gestão.

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Confira abaixo mais da entrevista ao editor-chefe do DG, Altair Tavares.

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Altair Tavares – A eleição de 2024 traz o debate sobre legados. O candidato do PSDB traz o legado do PSDB. O candidato do MDB traz o legado do MDB. A filha de Iris Rezende [Ana Paula Rezende] fala muito do legado dele. Em muitos momentos, a atual gestão de Goiânia criticou os ex-gestores. Quando fala sobre isso, tem o Iris Rezende como alvo. Um exemplo está nos investimentos sobre drenagem urbana, em que os ex-gestores são acusados de terem deixado essa situação, com a cidade sendo atingida pelas chuvas. Qual a dificuldade para o MDB defender o legado de Íris sendo que o prefeito [Rogério Cruz] faz essas críticas e ninguém aparece para defender?

Agenor Mariano – Acho que ninguém aparece para defender porque a crítica, vindo da atual gestão, por si só perde a credibilidade. Parece que fica sem a necessidade de alguém fazer a defesa daquilo que acusam e ninguém acredita. Então, a gente está vendo o fracasso da atual gestão, o fracasso do atual prefeito em gerir a cidade. Infelizmente, estamos pagando um preço alto né? Até quero aproveitar essa entrevista para responder porque muitas vezes dizem: foram vocês que puseram esse prefeito. Não, não pusemos esse prefeito. Nós pusemos [ele como] vice-prefeito. Infelizmente o Maguito morreu. E infelizmente esse vice-prefeito, que no trato pessoal é uma boa pessoa, não tem como não falar isso, é um homem decente que cumprimenta a gente, nos trata com respeito, mas no ponto de vista gerencial e administrativo, nos e a cidade, descobrimos agora, que ele não tem capacidade gerencial e administrativa. E a cidade está pagando um alto preço por conta disso. O que a gente sabe é que o próximo prefeito, por conta dessas situações que a cidade se encontra agora, vai encontrar um cidadão extremamente indócil com a próxima gestão, seja ela quem for. E o desafio do próximo gestor é dizer exatamente: estou assumindo uma prefeitura acabada, destruída, contas desreguladas, processos indeterminados, inconclusos, e vai ter de se virar nos trinta para ofertar para a população, consertar, e começar a fazer prefeitura voltar a andar de novo. Essa questão da drenagem, talvez vocês não se lembrem, mas no último governo de Iris Rezende, toda a avenida T-7, uma das avenidas mais longas da cidade, passou por um processo de requalificação com bueiros monstruosos, como no cruzamento do Córrego Vaca Brava, no início do Jardim América.

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Altair Tavares – Que subiu pelo Setor Bueno…

Agenor Mariano –  Subiu pelo Bueno atravessou a T-7 e fez parte do processo do Corredor Viário. Agora, a cidade cresceu desordenadamente, furando todos os planos diretores, e as gestões vêm tentando trabalhar e tentando construir. De cara, dei um exemplo do que foi feito na gestão do Iris Rezende, mostrando que havia preocupação com a drenagem do município. O difícil é uma gestão que não faz nada, que começa e para, não termina, não conclui, começa outra coisa… Parece que as obras não são norteadas pelas necessidades, mas por onde acham que vão ganhar mais votos, alimentando discurso, alimentando empresas que querem que ganhem a licitação. Parece que é isso. Pelo menos é o que a gente está observando. Não há o que se discutir. Acho até que é vergonhoso para um prefeito tão mal sucedido, tão mal avaliado na cidade, querer questionar o legado de um prefeito aprovado como Iris Rezende que entregou um caixa com quase um bilhão de reais na mão dele. E que ele já torrou todo e ninguém sabe para onde foi esse dinheiro.

Altair Tavares –  O senhor falou da situação financeira do município. A gestão atual fala que investiu em obras. O prefeito disse que, do programa de requalificação para refazer o asfalto de Goiânia, a maior parte foi cumprida na gestão dele. Então ele diz que realizou.

Agenor Mariano – Acho então que a popularidade dele beijando o chão [muito baixa], deve ser por ingratidão do eleitor, né? O eleitor deve ser muito ingrato em não reconhecer quão maravilhosa é a gestão Rogério Cruz, né? Então o problema deve ser o eleitor…

­Altair Tavares – Agora, presidente, dentro dessa perspectiva, o senhor citou um número. Na campanha do MDB vai se colocar isso de que Iris deixou uma prefeitura equilibrada e agora a eleição está chegando com o fechamento de um mandato desequilibrado?

Agenor Mariano – Isso é tão nítido, e tão claro, que quando Iris encerrou o mandato, ele abriu todas as contas para a imprensa e mostrou como ele estava deixando a prefeitura. Então não tem como o cidadão negar o óbvio. Agora precisa saber se vai ter coragem no dia em que sair, de abrir as contas e chamar a imprensa e fazer a mesma coisa, mostrar como é que ele vai entregar a prefeitura. Ou ele vai esperar o próximo prefeito chegar na prefeitura e ter que chamar a imprensa e mostrar como vão ser entregues as contas?

Altair Tavares – A história seria diferente se lá no começo do mandato tivesse sido feito um acordo e o MDB tivesse permanecido na gestão? O senhor esteve no miolo daquela discussão?

Agenor Mariano –  Estive. Eu, inclusive, juntamente com o vice-governador [Daniel Vilela] na época presidente do MDB estadual, fomos nós que estartamos o processo de retirada [do MDB] da administração. E por que que nós fizemos isso?

Altair Tavares – O que aconteceu naquele momento?

Agenor Mariano – Na verdade, nós constatamos que a forma como o prefeito gostaria de conduzir a gestão, era uma forma que não daria certo. Nos temos experiência em gestão. Nós passamos e já consertamos gestões ruins, participamos de gestões exitosas. Então, a experiência mostrou para nós que, se nós estávamos com o prefeito e não tínhamos poder de decisão, sabendo que as decisões que estavam sendo almejadas colocavam a cidade no buraco… Então aqueles que vivem, que são políticos, não podem ficar reféns de salário de secretário. Ficar quatro anos em uma gestão para ganhar salário não é o ideal de quem quer ver a melhoria da sua cidade. Então, se fosse por conta de salário, entregamos os cargos.

Altair Tavares – Qual foi o ponto-chave naquele momento? O que rompeu?

Agenor Mariano –  O ponto-chave foi a percepção da ausência de autoridade do prefeito de fato, de ser o prefeito.

Altair Tavares – Aquela polêmica do grupo de Brasília?

Agenor Mariano –  Quando nós constatamos que o prefeito, na nossa opinião, não seria o prefeito. Eu até falei assim: até me submeto como secretário a ser chefiado pelo prefeito, que foi eleito pela sociedade. A gente reconhecia a legitimidade [de Rogério Cruz]. O que eu, como secretário não reconhecia, era receber ordens de alguém de fora que não foi eleito. Então, simplesmente nós entendemos o seguinte: eu não posso continuar nesse cargo. E foi por isso que nós do MDB entregamos 14 cargos de primeiro escalão e dissemos ao prefeito: se você entende que essa é a melhor forma, o governo é seu, fique à vontade.

Altair Tavares – E o MDB não se arrependeu?

Agenor Mariano – Rapaz, foi a melhor decisão que nós tomamos na nossa vida. Isso provou para nós que o poder não pode ser conquistados a qualquer preço e qualquer custo. Existe preço caro a ser pago por querer ficar no poder. E quando nós fizemos isso, e isso ninguém faz, partido nenhum entrega poder, entrega função, cargos. Eles querem são mais cargos, negociam cargos. Pela primeira vez na história de Goiânia e acho até que do estado… Nenhum partido, de forma voluntária, entregou 14 cargos de secretários de primeiro escalão. Nos fizemos disso, marcamos a história. Entregamos os cargos com três meses só de gestão. Porque entendemos que não teríamos voz ativa e ainda seríamos co-partícipes da situação que hoje a sociedade enxerga. Infelizmente tivemos que sair e acredito eu que foi a melhor decisão que já tomamos.

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Marília Assunção

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. Também formada em História pela Universidade Católica de Goiás e pós-graduada em Regulação Econômica de Mercados pela Universidade de Brasília. Repórter de diferentes áreas para os jornais O Popular e Estadão (correspondente). Prêmios de jornalismo: duas edições do Crea/GO, Embratel e Esso em categoria nacional.