O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) vive momentos decisivos em busca de se reidratar. Fruto da perda de governadores, prefeitos, deputados, vereadores, do aniquilamento de poder, a legenda já foi chamada até de “nanica” pela imprensa nacional.
Agora tem a sobrevivência como desafio imediato. Tanto que, em citações genéricas, o ex-governador Marconi Perilllo, atual presidente estadual e principal nome da legenda em Goiás e um dos maiores do pessedebismo nacional, vem bradando que o PSDB não morreu.
Duas análises indicam erros que levaram o partido tucano para uma UTI não apenas em Goiás, como nacionalmente.
“Nacionalmente, o PSDB é o que é hoje graças ao equívoco partidário que cometeu após a derrota eleitoral para Dilma Roussef em 2014. O partido é vítima da articulação que Aécio Neves (que era do PSDB) fez com Eduardo Cunha (então presidente da Câmara, do PMDB) para inviabilizar o governo de Dilma. Isso desencadeou o impeachment, uma enorme crise política e a eleição de Jair Bolsonaro”.
Quem avalia é o analista político Luís Signates, professor da Universidade Federal de Goiás e Pontifícia Universidade Católica.
Desafio grande
Ele enfatiza que o PSDB tem à frente um desafio muito grande. “O modo como se posicionará nas eleições municipais do próximo ano deve contribuir muito para definir o futuro do PSDB”, observa.
Isto porque o perigo ronda os tucanos por todos os lados. O risco de repetir falhas que o desidrataram no passado, por exemplo, é real.
Uma delas envolve a pergunta: com qual ideologia o partido andará rumo às eleições de 2026?
O espólio da direita
Para Signates, ao mirar no governo Lula como Marconi Perillo tem feito, se colocando em oposição fragorosa, pode ser um sinal de que pretende disputar o espólio da direita que perdeu Jair Bolsonaro para a inelegibilidade. Mas ele alerta para o perigo de desprezar a força do Partido dos Trabalhadores, “que esteve no segundo turno de todas as eleições presidenciais que disputou”, cita.
Além disso, se buscar atrair a direita para si, o PSDB pode criar uma possibilidade mítica, afinal, ninguém imagina Ronaldo Caiado e Marconi Perillo na mesma configuração. E essa “roupa” de direitista o atual governador já vestiu.
Chumbo trocado
Outro exemplo de desgaste desnecessário que ele vê, é quando o PSDB reclama a dominação do governador, mas esquece que ela reverbera, no estilo Caiado, a que foi feita pelo ex-governador Marconi Perillo.
“De certa forma, Ronaldo Caiado devolve o que Perillo fez com ele em seu primeiro mandato, quando desidratou o antigo PFL, esvaziando a base de poder de Caiado”. Ou seja, observa o professor, o governador devolve na mesma moeda.
Marconi está vivo politicamente
De todo modo, o futuro do PSDB goiano está muito vinculado ao futuro do ex-governador. A liderança expressiva do PSDB em Goiás é de Marconi, por isso, aponta o especialista, o futuro de ambos está umbilicalmente ligado.
Risco do partido acabar
“Conforme for a posição que ele assumir, o partido pode crescer ou terminar de acabar porque o PSDB tem sofrido uma desidratação muito grande, patrocinada pelo próprio governador Caiado”, observa Signates.
Ele continua afirmando que “Marconi Perillo não está morto politicamente, de jeito algum”. E lembra que, mesmo com número de prefeitos e deputados pífio, sem apoio de candidatos ao governo e sem dar palanque a candidatos à presidência, o ex-governador perdeu a vaga no Senado em 2022, mas alcançou uma votação que seria suficiente para elegê-lo deputado federal, levando alguns outros junto.
Na opinião do analista político, se Marconi Perillo retornar ao cenário goiano em condição de maior força política, ele pode dar uma nova energia para o PSDB. “Caso não aconteça, supondo que ele mude de partido, aí sim o PSDB em Goiás pode definhar ainda mais. Para o professor, força política o ex-governador mantém”.
Por fim, reiterou que, “sozinho, Marconi enfrentou uma campanha para o Senado, não foi eleito, mas teve em torno de 600 mil votos, votação bastante expressiva”, que sinaliza sua potência.
Tucano pousado no muro
Já o consultor político e colunista do Diário de Goiás, jornalista Vassil Oliveira, alerta para o “murismo” que marca a história dos tucanos, nacionalmente.
“O PSDB sempre foi considerado um partido em cima do muro e sem firmeza de posicionamento. Se não mudar essa imagem, continuará um partido insosso”, afirma.
Outra coisa, destaca ele, é a dificuldade para os tucanos se livrarem do movimento de impeachment de Dilma Roussef, que resultou em Jair Bolsonaro na presidência.
“O PSDB não capitalizou nada, a não ser o efeito negativo dos últimos acontecimentos no País. Apenas dizer que é oposição ao governo Lula não ajuda em nada. Continua ofuscado pelo bolsonarismo e pelo PT. O PSDB está sem rumo. Este é o desafio a ser superado”, reforça Vassil.
Partido não dá palanque a Marconi
Ele considera que, em Goiás, os tucanos “nem fazem oposição de fato, nem mostram uma alternativa aos goianos”. Para ele, o partido vive da liderança de Marconi “e, como legenda pequena, não dá a Marconi o palanque necessário. Essa lógica não leva o PSDB goiano a lugar nenhum”, finaliza.
Diretório Nacional pode ser estratégia
A chance de o ex-governador Marconi Perillo, ser o próximo presidente do Diretório Nacional do PSDB, como mostrou reportagem do Diário de Goiás, fica cada dia maior. Ele já fala como líder da legenda sobre ser oposição ao governo Lula, critica a política econômica atual e até lança a candidatura do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, à presidência em 2026.
Leite é o atual comandante do partido, mas pediu afastamento alegando que deseja investir todo o tempo na gestão. As eleições estão marcadas para 29 e 30 desse mês, em Brasília.
Mas a tarefa que Perillo terá pela frente, ou quem quer que assuma o diretório, é muito maior. Tem a ver com a própria sobrevivência tucana. Nas eleições de 2022, o PSDB quase saiu de cena. Foi aí que acabou chamado de “nanico”.
Fiascos
Em termos de governadores, para quem chegou a 8 em 2010, o partido elegeu apenas 3 em 2018 e repetiu o mesmo número nas eleições do ano passado.
Em Goiás, saiu de 6 deputados estaduais em 2018 para 1 em 2022. Na Câmara Federal, tinha um em 2018 e continuou com um nas últimas eleições.
O próprio Marconi Perillo tinha como certa sua eleição ao Senado, e perdeu para o empresário Wilder Moraes (PL) que levou 25% dos votos, contra 19% do ex-governador. E Perillo tinha exercido quatro mandatos como governador, além de ter sido eleito senador e deputado federal.
Sobre uma provável eleição de Marconi para o Diretório Nacional, Luiz Signates lembra que essa estratégia já era pensada antes das eleições de 2022. “Se estão mantendo a estratégia, é porque o nome de Marconi se torna um nome importante em nível nacional diante da conjuntura em que o PSDB está”, frisa.
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