Pequi é comigo mesmo. Gosto demais. Aliás, como dizem lá na minha terra, gostar mesmo eu gosto é da minha mãe, de pequi, vish!!
Essa história de uma cidade mineira ser a capital do pequi não sei tem cabimento, todos sabem, mas a discussão é boa.
Goiás valoriza sua coisas? Olha que falei coisas porque é mais abrangente. Poderia ter dito cultura.
Pequi é cultura? Pequi é a gente. Coisa que somos, ainda que nem todos gostem. Dois dos meus filhos não gostam (conste: o terceiro ama).
Pequi tem a ver com cultura, identidade, com literatura, música, com tudo quanto há. E nem falo só do caroço. As árvores tortas, a casca ranhenta, a personalidade que se impõe. Isso nos representa.
E não ter colocado ainda o pequi no palco também é muito nossa cara. Gostamos de falar bem da gente, mas na prática falamos igual ou mais, o que temos de ruim.
Não valorizamos quem e o que somos na proporção que merecemos. Temos um orgulho danado de falar que somos goianos, só que esse orgulho muitas vezes está mais para a acepção mais negativa da palavra.
Tomar nosso protagonismo como pátria do pequi é como mexer em caixa de marimbondo. Mexeu com um, mexeu com todos. Mas até onde vamos com isso? Até o orgulho ferido ou o orgulho valorizado?
Há tempos não temos valorização da cultura como merecemos em Goiás. Vivemos de cultura de evento. Com o vento (trocadilho inevitável), nossa essência passa batido, só se sobressai o fato noticiado e, logo, esquecido.
Ir fundo no que somos, no que fazemos, no que produzimos na música, na literatura, no teatro, na pintura, no cinema, ir fundo aí e mais, que é bom, nenhum governo vai.
Por isso somos o Estado da música sertaneja mas ficamos entre nos orgulhar e renegar o sertanejo. Por isso temos tantos outros talentos e nem nos damos conta, a não ser quando ganham palco nacional.
De lá para cá, valorizamos; de cá para lá, só quando o reconhecimento também vem de fora. Coisa mais sem noção, né não?!
Goiás do pequi está ameaçado faz tempo, e a culpa não é de Minas Gerais – inté porque, se num tem trem mió que ser goiano da gema, Minas é daquipracolá.
Mais vale um prato de pequi com caldo e a nossa cultura conhecida, valorizada e divulgada do que um gosto contrariado.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).