Segundo dados do Censo Demográfico de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Palmelo, em Goiás, é o único município brasileiro em que os espíritas representam o maior grupo religioso da população. Na pequena cidade, 42,6% dos moradores com 10 anos ou mais se declararam espíritas. O dado chama a atenção e encontra explicação em uma história centenária de fé, cura e formação comunitária.
Com pouco mais de 2.300 habitantes, Palmelo é conhecida como a “Cidade da Paz” e considerada a capital do espiritismo no Brasil. O motivo remonta à fundação do Centro Espírita Luz da Verdade, em 9 de fevereiro de 1929. Antes mesmo de se tornar um município emancipado, a cidade nasceu em torno da casa espírita, fundada para atender, espiritualmente, pessoas vindas de várias regiões em busca de cura e consolo.
Hoje, quase cem anos depois, o centro continua ativo, mantendo uma escola, projetos sociais e atendendo cerca de 200 pessoas por semana para tratamentos espirituais e psicografias. Os visitantes, muitas vezes, permanecem na cidade por vários dias e movimentam a economia local com hospedagens e alimentação. Todo o trabalho é realizado de forma voluntária por cerca de 350 médiuns, segundo o presidente da instituição, Barsanulfo Zarur, que também é médium vidente e escritor.
A origem espiritual de Palmelo
A história de Palmelo é contada com riqueza de detalhes no documentário “Palmelo, a Cidade Espírita”, disponível gratuitamente no YouTube, com mais de 700 mil visualizações. O filme de 45 minutos mostra como famílias oriundas de São Paulo, empregadas na antiga fazenda Palmela, iniciaram os cultos espíritas ainda no fim do século XIX. A mediunidade de Jerônimo Candinho, discípulo do educador espírita Eurípedes Barsanulfo, passou a atrair centenas de pessoas, inclusive com relatos de curas de doenças graves, como o fogo selvagem (pênfigo).
Em 1953, 24 anos após a fundação do centro, Palmelo conquistou sua emancipação política e administrativa, tornando-se oficialmente uma cidade. Seu nome, inclusive, deriva da antiga sesmaria doada ao Barão de Palmela, no tempo do Brasil Império.
A fama do lugar ultrapassou fronteiras e já foi tema de reportagens em veículos como a Revista Manchete, Cruzeiro, Fantástico e Globo Repórter. Segundo Zarur, o que chama a atenção do público é a combinação de fé, cura espiritual sem cortes e psicografia. “Muitas pessoas chegam aqui depois de passarem por tratamentos convencionais, sem sucesso, e veem em Palmelo uma última esperança”, diz.
Espiritismo e identidade local
Além dos tratamentos espirituais, o documentário destaca a estrutura das atividades no Centro Luz da Verdade, como os exames espirituais feitos por grupos mediúnicos e as chamadas “microcirurgias”, realizadas sem incisões físicas, nas pousadas onde os visitantes se hospedam. São mostrados também os tratamentos de desobsessão, que envolvem correntes magnéticas de médiuns de mãos dadas, com foco na limpeza espiritual.
A cidade também realiza ações sociais como distribuição de cestas básicas, doação de enxovais e apoio a gestantes. Com foco educativo e espiritual, mantém uma escola com mais de 90 alunos. “Trabalhamos com o pensamento positivo, fé e oração. E sempre reforçamos: não somos nós que curamos, é Deus”, pontua Zarur.
Em tempos recentes, com a pandemia da Covid-19, o centro passou a realizar reuniões online, que chegaram a reunir até 1.800 pessoas simultaneamente, além de manter um serviço de tratamento à distância e web rádio.
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