30 de agosto de 2024
Opinião
Publicado em • atualizado em 05/03/2023 às 16:52

Quanto custa morar em Portugal? E por que voltei para o Brasil?

Praia em Aveiro, distrito que fica na divisa entre as regiões Norte e Centro do país. (Foto: Carlos Nathan Sampaio)
Praia em Aveiro, distrito que fica na divisa entre as regiões Norte e Centro do país. (Foto: Carlos Nathan Sampaio)

Faz um mês que eu já estou pisando em solo brasileiro e posso falar em gerúndio, dizer centavos, banheiro, celular e ônibus sem alguém me corrigir ou questionar. Mas óbvio que este está longe de ser um dos motivos que me fizeram voltar para o Brasil. Antes disso, porém, vou dizer exatamente quanto custou morar em Portugal para ter uma experiência de vida que eu considerei “razoável”. 

Vale lembrar, de novo, como digo em todos os textos: ao morar em Portugal por seis meses, escrevi sobre o que vivi e informações que obtive entrevistando moradores, sejam eles portugueses nativos ou imigrantes do Brasil e outros países. Cada experiência é única e o que acontece comigo e essas outras pessoas não é um retrato fiel da realidade, mas parte dela e do que, normalmente, acontece em Portugal. Desta vez, portanto, os gastos que registrei e compartilho foram os relativos ao de um homem de 30 anos que vive só em Porto, a segunda maior cidade de Portugal.

Quanto custa morar em Porto?

Ao fim das minhas contas, morar em Portugal de junho a dezembro de 2022 fez com que eu gastasse, em média, exatos 860 euros por mês. Claro que, um mês um pouco mais, outro mês um pouco menos, mas a soma de tudo e divisão por seis resultou nisto. O mês em que eu mais tive gastos foi em outubro, quanto gastei 1105 euros, por conta de, neste período, comprar roupas para o inverno, cortar cabelo, comprar remédios após ficar gripado, etc. Já o mês em que eu gastei menos foi agosto, com 760. Como era meu segundo mês e eu precisava ir com calma, economizei bastante nestes 30 dias.

Agora, eu também fiz a conta do que gastei detalhadamente, pois só dar o valor geral não ajuda muito. A média de gastos com aluguel, a minha maior despesa e a mais injusta em Portugal, ficou em 350 por mês, incluindo as contas da casa: eu morava em um quarto, em um apartamento de quatro quartos.

Com comunicação eu gastava 20 euros por mês, o que incluía internet ilimitada no meu celular e, com academia, eram 40 euros por mês. O transporte eu já comentei em um texto, mas eu pagava também 40 euros e podia usar o metrô e ônibus a qualquer hora do dia dentro do distrito de Porto.

Já o mercado mensal não saiu dos duzentos e pouco variando entre 205 e 250 (incluindo compras em padarias/cafés/pastelarias). Para alguns amigos meus, este valor é alto para uma pessoa apenas, só que eu como muito e como bem, optando sempre por produtos saudáveis, mas também muitos doces.

Em relação ao lazer que eu considerei pequenas viagens dentro do país (não saí de Portugal durante estes seis meses), comer fora de casa, ir ao cinema, comprar coisas para casa, foram gastos 930 euros, média de 155 por mês. Reforçando que, nestes seis meses, eu conheci praticamente toda a região norte do país e também a capital Lisboa.

Como citei acima, tive gastos extras com roupas para o inverno, remédios – quando fiquei gripado – e alguns gastos extras de uber, muito pouco, cerca de 60 euros nos seis meses e, claro, um troco ou outro não contabilizado ou gastos com documentação, o que também não foi muito.

Considerando isso tudo, em nenhum momento senti real necessidade de algo que eu não tinha condição de comprar. Apesar disso, é claro que eu gostaria de ter mais dinheiro para comer em lugares mais caros, comprar coisas fúteis e viajar ainda mais do que viajei, mas quem não quer, não é mesmo?

Por que desisti?

Na verdade, não foi uma desistência oficial. Eu viajei oito mil quilômetros com o objetivo de viver uma nova experiência e vivi… Por seis meses. Na real, o Brasil é realmente um bom país no geral, e especificamente bom para mim. Quem vive no Brasil com subemprego, e querendo ou não só tem essa saída e consegue uma oportunidade de fazer o mesmo, só que em outro país, acredito que há uma evolução melhor na qualidade de vida, sim. Ao menos, a maioria das pessoas com quem falei me comprovou isso. 

Eu, por outro lado, acabo de completar dez anos de carreira na comunicação e tive uma ascendência profissional ano após ano neste período. Por isso julguei, após a experiência vivida em Portugal, que financeiramente não compensa continuar vivendo ali. Proporcionalmente, mesmo em euros, eu estaria ganhando muito menos por hora de trabalho em trabalhos muito mais cansativos fisicamente e psicologicamente.

Além de tudo isso, a inflação no país fez com que os preços de tudo aumentassem muito. Muitas pessoas, tanto portugueses quanto imigrantes, reclamam muito disso, então esse grande detalhe também não colaborou muito com a experiência. Ah! Outro fator que me incomodou muito foi o frio, algo com que eu pensei que me daria bem, mas não, hoje eu assumo: prefiro o calor e o sol em abundância. Abençoadas sejam as zonas tropicais.

Resumindo: Morar em Portugal foi uma experiência razoável em termos financeiros e profissionais. Mas emocionalmente, e como algo pessoal, foi a melhor experiência da minha vida. Não me arrependo de nada (talvez poderia ter processado um xenofóbico ou outro, mas vida que segue) e durou o que tinha que durar. Eu faria tudo novamente e vou. Talvez eu volte a Portugal, talvez outro país, pois esta experiência acendeu em mim um desejo de experimentar mais ainda o mundo em que eu vivo. 

Leia os outros textos que escrevi, na ordem cronológica:

1 – O que não dizem sobre brasileiros morando em Portugal

2 – Ser imigrante em Portugal: uma experiência que exige paciência e subordinação

3 – Viagem: 8 ótimos destinos para conhecer na Região Norte de Portugal

4 – Salários baixos, inflação, desamparo e xenofobia: seis meses morando em Portugal

Carlos Nathan é comunicador, formado pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) em 2013 e escreve periodicamente para o portal Diário de Goiás.

A opinião deste artigo não necessariamente reflete o pensamento do jornal.