04 de dezembro de 2025
Opinião
Publicado em • atualizado em 12/09/2025 às 10:31

As 6 mentiras que contamos a nós mesmos sobre o sucesso

Rafaela Veronezi. Divulgação
Rafaela Veronezi. Divulgação

Vivemos cercados por verdades aparentes. Ditados populares, frases de efeito e até exemplos históricos que se repetem de geração em geração, como se fossem bússolas confiáveis para guiar nossas escolhas. Mas muitas vezes não passam de ilusões disfarçadas de sabedoria. O comediante Stephen Colbert cunhou um termo para isso: truthiness — uma espécie de “verdade que parece verdade”, mas que não se sustenta diante da realidade. E é impressionante como estamos dispostos a acreditar nelas, moldando nossas ações e até nossas expectativas de vida com base em ideias frágeis.

Essa tendência é particularmente perigosa quando pensamos em sucesso. Sonhamos em ser mais produtivos, alcançar objetivos ousados, realizar projetos grandiosos. No entanto, no caminho, vamos absorvendo crenças que, repetidas muitas vezes, soam lógicas. E assim, ao invés de nos aproximarem do que desejamos, nos desviam do rumo certo. É o que ocorre com as chamadas “seis mentiras do sucesso” — pensamentos comuns, aceitos quase sem questionamento, mas que, no fundo, limitam nossa capacidade de realização.

A primeira dessas mentiras é a ideia de que tudo importa igualmente. Crescemos acreditando que seremos bem-sucedidos se dermos conta de tudo — responder a todos os e-mails, participar de todas as reuniões, abraçar cada oportunidade. No entanto, na prática, o que realmente transforma a vida não é a quantidade de coisas que fazemos, mas a qualidade daquilo a que dedicamos atenção. Quando acreditamos que tudo tem o mesmo peso, nos perdemos em tarefas secundárias e esquecemos de investir naquilo que realmente move nossos resultados.

Outro mito muito difundido é o da multitarefa. Vivemos como se fazer várias coisas ao mesmo tempo fosse um superpoder. Mas inúmeros estudos mostram que isso, na verdade, nos torna menos produtivos, mais cansados e mais propensos a erros. O cérebro humano não é feito para executar simultaneamente tarefas complexas. Ele apenas alterna o foco rapidamente, o que dá a ilusão de eficiência. Essa prática fragmenta a atenção, rouba energia e reduz a qualidade de tudo o que entregamos.

Também fomos ensinados a acreditar na ideia de que pessoas de sucesso levam uma vida rigidamente disciplinada. Na verdade, o segredo não é ter disciplina infinita, mas usá-la de forma estratégica, criando hábitos que funcionam quase no “piloto automático”. Em vez de tentar controlar cada detalhe, o mais eficaz é estabelecer rotinas simples e consistentes que, com o tempo, se transformam em aliadas poderosas.

Outra crença enganosa é a de que a força de vontade está sempre disponível. Quem nunca começou o dia cheio de energia, prometendo que dessa vez iria até o fim na dieta, no treino ou no projeto, e à noite já estava rendido ao cansaço? A força de vontade é como a bateria de um celular: se não recarregamos, ela se esgota. Por isso, confiar apenas nela é arriscado. Precisamos organizar nossas escolhas de forma inteligente, poupando energia para o que realmente importa.

O mito do equilíbrio perfeito também merece atenção. Quantas vezes ouvimos que sucesso significa equilibrar todas as áreas da vida como se fosse possível manter os pratos girando no ar sem deixar nenhum cair? Essa busca constante gera mais frustração do que satisfação. A vida real não é estática; ela exige foco em momentos diferentes. Haverá fases em que o trabalho exigirá mais, outras em que a família pedirá prioridade. O importante não é dividir tudo de forma igual, mas estar consciente de onde estamos investindo energia e se isso está alinhado ao que valorizamos.

Por fim, existe a crença de que sonhar grande é perigoso, quase uma irresponsabilidade. Somos incentivados a manter expectativas modestas, como se desejar algo maior fosse sinal de arrogância ou risco de decepção. Esse pensamento nos coloca em um espaço de mediocridade confortável, mas que sufoca o potencial. Grandes conquistas só acontecem quando ousamos mirar além do que parece possível. É no desconforto do sonho grande que nascem as inovações, as mudanças significativas e os resultados que transformam vidas.

O mais perigoso dessas mentiras é que, de tanto serem repetidas, acabam se tornando princípios norteadores de nossas decisões. Fazemos escolhas importantes — sobre carreira, projetos, até relacionamentos — baseados em premissas frágeis, que nos afastam daquilo que poderia realmente gerar impacto. É como correr atrás de unicórnios ou confiar em pé de coelho: distrações simpáticas, mas que não entregam o que prometem.

O caminho para o sucesso é, muitas vezes, mais simples do que imaginamos. Ele está em reconhecer que nem tudo importa, que foco vale mais do que quantidade, que hábitos sustentam mais do que disciplina rígida, que força de vontade precisa de cuidado, que equilíbrio perfeito é ilusão e que grande não é ruim — grande é inspirador.

Como disse Sócrates, “uma vida não examinada não merece ser vivida”. O sucesso, portanto, não nasce de verdades prontas, mas da coragem de questionar, repensar e escolher de forma consciente. Talvez o verdadeiro triunfo esteja justamente em parar de repetir ideias que nunca nos levaram a lugar algum e assumir a responsabilidade de criar nossos próprios caminhos. No fim, não são os obstáculos externos, mas sim as mentiras que contamos a nós mesmos, que mais nos afastam do nosso potencial.

Leia mais:

Você não está cansado de reagir sempre do mesmo jeito?

O Efeito Sombra: O Poder Escondido em Quem Somos de Verdade

Propósito: a bússola silenciosa que transforma a gestão



Rafaela Veronezi_divulgação

Neurocientista, doutora pela UNICAMP/SP. Palestrante e pesquisadora na área de Comportamento e Desenvolvimento Humano. Mentora em Autoliderança Estratégica.

A opinião deste artigo não necessariamente reflete o pensamento do jornal.