Por Filemon Pereira, no Jornal Tribuna do Planalto.
Goiás é um Estado em que a força da máquina administrativa sempre prevaleceu de forma avassaladora sobre as demais correntes políticas. Assim, os partidos que se opõem ao Palácio das Esmeraldas sempre tiveram enormes dificuldades de sobrevivência. Foi assim nos anos em que o PMDB esteve no Poder e tem sido assim desde que o governador Marconi Perillo (PSDB) chegou ao governo há 14 anos.
A chamada oposição só esteve unida mesmo em 1998. Ainda assim, apenas no segundo turno da sucessão estadual todos os partidos que se opunham a um desgastado PMDB, na época, estiveram no mesmo palanque (no primeiro turno o PT tinha candidato próprio).
A menos de um ano para que a campanha chegue às ruas, o panorama na oposição não é diferente. Outra vez caminha para um distanciamento entre as forças que não compõem (formalmente) com Marconi Perillo.
Talvez seja até o momento mais dramático. Difícil encontrar um paralelo na história para a situação atual de falta de diálogo entre os partidos e, sobretudo, de falta de uma (ou mais) liderança que tenha legitimidade e tome para si a articulação em busca de união.
Divulgada no último final de semana, a pesquisa Serpes/O Popular apresenta um quadro animador e, ao mesmo tempo, nebuloso para a oposição goiana.
Muito desgastado e nem sombra da fortaleza política que já foi, o governador Marconi Perillo esbarra em uma aprovação pífia de sua gestão (30%) e baixa intenção de votos para uma perspectiva de reeleição – seus índices variam de 25% a 32%, dependendo do cenário apresentado pela pesquisa. E isso no momento em que ele próprio considera que seu governo tenha deslanchado.
A situação enfrentada por Marconi deveria ser um alento e motivo de comemoração pelos partidos de oposição. Mais do que isso, deveria servir para antecipar o diálogo entre os partidos e provocar uma busca rápida por unidade. O cenário é muito favorável e de perspectiva de poder em um quadro de unidade. Porém, o que se viu após o Serpes ser divulgado foi combustível na fogueira das vaidades e muitas declarações desencontradas.
O prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela (PMDB), por exemplo, apressou-se em dizer que a população quer “o novo”. Na pesquisa, o peemedebista com maior destaque é Iris Rezende, líder nos cenários em que é colocado. Mas Maguito descartou-o sem titubear.
O prefeito de Aparecida ainda afirmou que a oposição não tem projeto e que apenas ataca o governo, em mais um recado atravessado para Iris e para sua mulher, a deputada Iris de Araújo. Ao que parece, Maguito avalia ser possível vencer sem fazer oposição. Talvez queira impor seu exemplo de oposição: de proximidade e afagos ao governador.
O recado de Maguito a Iris não agrega, apenas irrita uma ala do PMDB. Todos sabem, o sobrinho do prefeito, deputado federal Leandro Vilela é um dos principais idealizadores da candidatura do empresário Júnior do Friboi, recém filiado ao partido. O jogo de cartas marcadas de Maguito ficou aparente demais.
Depois de chegar ao PMDB com aval da cúpula nacional, mas sem discussão em Goiás, tudo o que Júnior do Friboi não precisa é criar mais indisposição com Iris.
Ao que parece, a população que lembra de Iris nas pesquisas em número considerável, tem por ele mais apresso que muitos de seus companheiros de partido, que tentam tirá-lo do jogo precipitadamente. Até onde vai a motivação financeira levada por Friboi aos deputados e prefeitos do PMDB só o tempo dirá, mas fica evidente que muitos integrantes do partido perderam a inibição de se opor a Iris abertamente, os Vilelas entre eles.
E Maguito não foi o único ‘ciscar para fora’ na oposição. O deputado federal Rubens Otoni (PT), irmão do prefeito de Anápolis, Antônio Gomide (PT), também aproveitou o Serpes para externar seus pensamentos que em nada colaboram com a unidade da oposição no Estado.
Rubens Otoni é um peculiar defensor da aliança das oposições. Ele abraça a aliança desde que o candidato a governador seja do PT e, mais precisamente, seu irmão. De uma tacada só Rubens descarta Iris e Friboi, ou seja, descarta o principal aliado, o PMDB. O deputado conclui que não dá mais para Iris impor nova candidatura, já que o eleitor quer o “novo” e que o perfil de Gomide supera o de Friboi, citando nesse caso convenientemente o porcentual alcançado pelo irmão na pesquisa.
O erro de avaliação de Otoni chega a ser de difícil compreensão. O petista sabe que a prioridade do partido é a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Para isso, a aliança nacional com o PMDB é fundamental. Já foi deliberado que a legenda dará prioridade às alianças nos estados, sobretudo naqueles em que os aliados tenham nomes competitivos.
Em reunião de cúpula já foi deliberado que, se for preciso, o PT abre mão até de estar na chapa majoritária. Tudo para garantir o melhor palanque para Dilma.
Otoni, ao que parece, fecha os olhos para todas essas articulações para apostar que Gomide é o nome para vencer a disputa estadual. Há quem acredite até que Rubens acaba por queimar o próprio irmão tamanha a precipitação.
Se no PT já não é pequena a desconfiança sobre o jogo de Otoni e Gomide (a fama é de que os irmãos não são agregadores), nos demais partidos então a resistência é enorme, quase intransponível. Para completar, o prefeito anapolino copia Maguito naquilo que justamente mais constrange o PMDB e a oposição: também faz questão de subir em palanque ao lado do governador Marconi e elogiá-lo.
Até o deputado Ronaldo Caiado (DEM) mostrou-se deslumbrado com os números do Serpes. Avaliou que ele era o único a não ter recall e ser competitivo. Caiado disputou mandato em 1989 (presidência), 1990, 1994 (governo), 1998, 2002, 2006 e 2010 (as demais para deputado federal). Se ele não estiver na lembrança do eleitor, provavelmente ninguém estará.
Ponto a ponto
A pesquisa Serpes/O Popular mostra que Iris Rezende continua a ser o principal adversário de Marconi, além de ser o único que de fato se opõe ao tucano, os demais desviam-se dele (quando não o elogiam). O levantamento também mostra que o peemedebista precisa de apoios se quiser ter chances condições de vencer Marconi. Sozinho (ou se questionado) passa a ser vulnerável.
O empresário Vanderlan Cardoso (PSB), Antônio Gomide e Júnior do Friboi são nomes com potencial ressaltados na pesquisa. Entretanto, nenhum deles mostra-se competitivo em um cenário que não seja de ampla unidade. Sozinho, falta estofo e capilaridade ao ex-prefeito de Senador Canedo. Gomide só é competitivo se PT e PMDB apostarem nele. Junior do Friboi, então, tem de ser carregado por Iris e o PT, apesar de ainda não ter entendido isso.
Em síntese, a pesquisa Serpes mostra um cenário promissor para a oposição em Goiás.
Na perspectiva de união, ainda que os nomes só sejam definidos mais adiante, a possibilidade de vitória é real, os números da pesquisa deixam isso evidenciado.
A vaidade dos líderes de oposição e autoproclamação de “o novo”, porém, é hoje combustível para a reeleição do governador Marconi. Se o tucano hoje tem dúvidas de uma nova candidatura e faz questão de falar isso em público, ao encontrar os adversários divididos, certamente se animará para mais uma candidatura ao governo. Nesse cenário, até a pesquisa Serpes o encorajaria.