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Cidades
| Em 6 meses atrás

Operação policial prende advogados e bancários por fraudes de R$ 30 milhões em pagamentos judiciais

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Ao menos quatro advogados e um gerente de banco estão entre os novos suspeitos de fraudar R$ 31,8 milhões em pagamentos judiciais sob controle do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), presos nesta quarta-feira (19) pela Polícia Civil (PC-GO). A Operação Alvará Criminoso realizada pelo grupo de repressão a Estelionatos e outras Fraudes, da Delegacia Estadual de Investigações Criminais, cumpriu mandados de prisão em Goiás, Bahia, Rio de Janeiro, Tocantins, Maranhão e Pará.

Em Goiás foram cumpridos mandados em Goiânia, Trindade, Anicuns, Anápolis e Aparecida de Goiânia. O nome dos advogados, do banco e do gerente suspeito ainda não foram informados pela PC-GO.

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Tribunal identificou acessos

Esta foi a segunda fase da operação, que teve início em novembro de 2022 a partir de denúncias do próprio Tribunal.  O delegado responsável pelo caso, William Bretz destaca que na primeira fazer foram cumpridos 30 mandados de prisão. A operação atingiu um grupo especializado em fraudar alvarás de pagamentos judiciais há mais de dois anos.

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Advogados e gerente presos

Chamou a atenção que alguns documentos simulando a assinatura de juízes, eram, na verdade, assinados por advogados. A investigação revelou que os advogados presos tinham acesso ao sistema do TJ-GO. Eles usavam suas senhas pessoais para rastrear processos que estavam em pausa ou arquivados há muito tempo, envolvendo valores que estivessem depositados (bloqueados pela Justiça) em bancos.

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Os suspeitos então agiam para elaborar alvarás falsos onde seus nomes apareciam como juízes. Os alvarás ordenavam que o banco liberasse os valores depositados nos processos. “Os advogados, em posse dos falsos alvarás, encaminhavam por e-mail as ordens pro banco liberar o dinheiro ou o valor era sacado direto na boca do caixa” disse o delegado.

O TJ-GO informou que não há envolvimento de servidores nas fraudes praticadas pelos advogados e o gerente de banco presos. Conforme o Tribunal, o Núcleo de Inteligência da instituição foi quem iniciou a apuração, “o que demonstra o alto padrão de segurança e de transparência dos nossos sistemas”, informou em nota enviada ao Diário de Goiás.

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Quando o crime foi descoberto, os criminosos já haviam sacado mais de R$ 30 milhões por meio dos alvarás fraudulentos, aponta a investigação.

Hierarquia

A PC-GO apontou que os investigados tinham funções definidas dentro do grupo criminoso. Eles se dividiam em núcleos financeiro, jurídico, de fraude nos alvarás e o grupo que lavava o dinheiro desviado dos depósitos bancários estavam sob controle da Justiça.

Outro núcleo envolvia os funcionários do banco. A Polícia Civil averiguou que esse núcleo trocava informações com os outros a respeito da situação das contas judiciais.

“O golpe vinha dando certo porque os criminosos tinham a ajuda do gerente de um banco”, informou William Bretz. De acordo com o delegado, os saques feitos pelo grupo variavam entre R$ 77 mil até R$ 22 milhões. “Foram 14 saques e tiveram 11 tentativas entre maio e agosto de 2022”, acrescentou.

Homem recebeu R$ 3 milhões já estando preso

Segundo o delegado, até quem foi preso na primeira fase da operação, feita em 2022, continuou recebendo valores desviados com as fraudes. Com isso, eles foram alvos de mandados nesta terça-feira novamente. William citou um dos investigados na primeira operação, que está detido no presídio de Aparecida de Goiânia e recebeu mais de R$ 3 milhões do grupo criminoso.

De acordo com o delegado eles foram presos hoje novamente por outro crime cometido, em especial lavagem de capitais, “que não havia sido identificado um primeiro momento”.

Os advogados e o gerentes que foram presos devem responder pelos crimes de estelionato, crime contra a organização pública, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) lamentou que o acompanhamento da ação “não pôde ser pleno” e que tomará providências. Procurada, a Polícia Civil não comentou.

Ao final leia notas do TJ-GO e da OAB-GO!

“A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) esclarece que foi informada sobre a operação da Polícia Civil que resultou na prisão de advogados aos quais foram imputados supostos atos de participação em uma associação/organização criminosa que, segundo as investigações, acessava o sistema do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) para fraudar documentos.

A OAB-GO, por meio de sua Comissão de Prerrogativas (CDP), acompanhou toda a investigação para garantir os direitos e prerrogativas dos advogados, bem como o respeito ao contraditório e à presunção de inocência. Em situações como essa, é prática da Seccional acompanhar de perto todas as investigações para, posteriormente, adotar as medidas necessárias na seara ética, caso seja comprovada qualquer infringência dos deveres funcionais dos advogados envolvidos.

Lamentavelmente, a OAB-GO deve registrar que o acompanhamento das diligências realizadas pela Polícia Civil não pôde ser pleno, conforme garante a Lei Federal n.º 8.906/94, devido à falta de disponibilização, no momento do comprimento dos mandados, da decisão e de elementos essenciais que permitissem a imprescindível avaliação dos limites da medida cautelar contra os advogados alvos. Essa situação ensejará a tomada de providências por parte da Ordem quanto à observância dos dispositivos de lei, que têm caráter cogente.”

Nota do TJ-GO na íntegra

O Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) esclarece que a operação em andamento resulta de decisão proferida pelo Poder Judiciário goiano, tratando-se de sequência de apuração que investiga suposta prática de crimes contra a administração pública relacionados ao levantamento de valores por meio de alvarás fraudulentos, sem notícia de envolvimento de qualquer pessoa que trabalha neste Poder.

A operação, que teve sua primeira fase deflagrada em novembro de 2022, é baseada em relatório do Núcleo de Inteligência do TJGO, o que demonstra o alto padrão de segurança e de transparência dos nossos sistemas, propiciando detectar indícios de eventuais práticas criminosas e servindo para apoiar as medidas necessárias por parte da Polícia Civil para a apuração completa dos fatos e a responsabilização dos envolvidos.

De acordo com o relatório do TJGO, a investigação revelou um esquema sofisticado, no qual os envolvidos obtinham acesso ao sistema judicial eletrônico e falsificavam alvarás judiciais. Esses documentos falsos, que simulavam autorizações de pagamento judicial, eram então apresentados à rede bancária.

Os criminosos, aparentemente utilizando-se de credenciais eletrônicas de advogados, se passaram por magistrados e, usando tais assinaturas digitais, apresentavam os documentos falsificados na rede bancária, que efetuava os pagamentos.

A operação atual cumpre 33 mandados de prisão e 35 de busca e apreensão em várias localidades, incluindo Goiânia, Trindade, Aparecida, Anápolis, Anicuns, Bahia, Rio de Janeiro, Tocantins, Maranhão e Pará.

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Marília Assunção

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. Também formada em História pela Universidade Católica de Goiás e pós-graduada em Regulação Econômica de Mercados pela Universidade de Brasília. Repórter de diferentes áreas para os jornais O Popular e Estadão (correspondente). Prêmios de jornalismo: duas edições do Crea/GO, Embratel e Esso em categoria nacional.