Os Ministérios Públicos de Goiás (MPGO) e do Distrito Federal e Territórios (MPDTF), por intermédio de seus Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), deflagraram na manhã desta quarta-feira (22/6) a Operação Houdini S/A, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa baseada em Goiás que, desde 2011, tem cometido fraudes e feito várias vítimas em Goiás, Rondônia, Mato Grosso, São Paulo, Pará, Amazonas, Tocantins e Distrito Federal. O Comando de Operações de Divisas (COD) da Polícia Militar do Estado de Goiás e da Polícia Civil do Distrito Federal apoiam a operação. Os golpes variavam entre R$ 300 mil e R$ 1,5 milhão por vítima.
Estão sendo cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e seis mandados de busca e apreensão em Goiânia, Senador Canedo, Jussara e Brasília (DF). Os mandados foram expedidos pelo juiz titular da 2ª Vara Estadual de Combate às Organizações Criminosas, Alessandro Pereira Pacheco, que também determinou o bloqueio de bens dos investigados até o valor de R$ 1 milhão, além do sequestro de veículos.
Fabricação de dinheiro falso
O modus operandi da organização criminosa, apesar de sofrer algumas pequenas variações caso a caso, tem como mote principal a apropriação, mediante engodo, ou a subtração, mediante fraude, do dinheiro em espécie pertencente às vítimas. Estas, por sua vez, são enganadas com a falsa promessa de lucro fácil.
Fingindo-se de investidores, os membros da organização criminosa alegavam supostas ligações com servidores da Casa da Moeda, deputados e, até mesmo, agentes internacionais. Na condição de supostos “investidores” do mundo do crime, os investigados afirmavam às vítimas serem capazes de fabricar dinheiro em espécie. Para isso, diziam estar à procura de parceiros de negócios (suas potenciais vítimas), com o objetivo de converter o dinheiro fabricado em produtos de alto valor agregado, tais como gado, grãos e ouro.
Após escolherem suas vítimas, os membros da organização criminosa passam a convencê-las de que precisavam de dinheiro verdadeiro para servir de molde ou de matriz para a produção, mediante cópia, de 7 a 10 vezes a quantidade de cédulas que lhe forem apresentadas.
Ainda como forma de dar veracidade ao golpe, os investigados pediam para as vítimas devolverem, do suposto dinheiro fabricado, de 40% a 60%, dentro do prazo de 1 a 3 anos, em forma de grãos, gado e ouro.
Convencimento das vítimas
Com o objetivo de convencer as vítimas a participar do falso esquema de fabricação de dinheiro, os investigados marcavam um encontro com elas em um local luxuoso, com a presença de vários membros da organização criminosa, todos de terno, alguns com a postura de empresários e outros de segurança.
Nesses locais, sempre diversificados, os investigados montavam um falso laboratório improvisado e fingiam produzir o dinheiro falso. Eles chegavam a entregar notas verdadeiras para as vítimas, dizendo que se tratava de dinheiro que havia sido produzido previamente.
No intuito de tranquilizar as vítimas e demonstrar que o esquema oferecido era seguro, os investigados afirmavam que o dinheiro verdadeiro ficaria o tempo todo com elas, que poderiam presenciar a fabricação das notas falsas. Em seguida, os investigados pediam às vítimas que informassem a quantidade de notas de R$ 50 e de R$ 100 que iriam levar para serem copiadas, sob a alegação de que precisariam providenciar a quantidade exata de papel moeda, bem como os demais insumos.
Além disso, os investigados pediam às vítimas que escolhessem um local reservado, com ar-condicionado e um chuveiro de água bem quente, que, segundo eles, seria empregado na fabricação das notas falsas.
Após saberem a quantidade de notas de R$ 50 e de R$ 100 que as vítimas iriam levar, os investigados preparavam uma caixa, toda rodeada em algodão e cheia de papel branco por baixo, contendo apenas uma fina camada superior com dinheiro verdadeiro, compatível com o volume e a quantidade de cédulas informadas pelas vítimas.
Em seguida, já no dia e local escolhidos pelas vítimas, os investigados levavam um outro membro da organização criminosa, que se fazia passar por químico. Eles montavam o falso laboratório e comunicavam às vítimas que precisavam deixar as notas de dinheiro verdadeiro de molho em uma substância para que elas fossem amolecidas e, somente no dia seguinte, copiadas.
Ato contínuo, os investigados montavam na frente das vítimas, com o dinheiro verdadeiro que elas levaram, uma caixa idêntica àquela que haviam providenciado anteriormente, que, por sua vez, haviam levado de forma oculta para o encontro.
Concluída a montagem da caixa com o dinheiro verdadeiro das vítimas, os investigados jogavam uma falsa substância amaciante e inventavam algo para distrair a atenção delas. Neste momento, os investigados trocavam a caixa com o dinheiro das vítimas pela caixa que haviam levado de forma oculta, a qual que é idêntica externamente àquela caixa que acabaram de montar com o dinheiro das vítimas.
Na sequência, os investigados enfatizavam que o dinheiro ficaria de molho, na posse das vítimas, até o dia seguinte, quando eles retornariam para o término do processo de fabricação do dinheiro falso. As vítimas, portanto, só se davam conta no dia seguinte que sofreram um golpe, depois de abrir a caixa e verificar que só havia uma fina camada de dinheiro na parte superior.
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