O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) acendeu um sinal de alerta para o futuro do suprimento de energia no Brasil e sugeriu o retorno do horário de verão como alternativa para mitigar riscos. Segundo o Plano da Operação Energética (PEN 2025), lançado na terça-feira (8), o sistema elétrico nacional pode enfrentar problemas para atender à demanda de potência nos horários de pico, especialmente no fim do dia, pelos próximos cinco anos, caso leilões de potência não sejam realizados.
Diante do cenário preocupante, o ONS apontou o retorno do horário de verão entre as medidas alternativas estudadas.
A avaliação do ONS, que abrange o período de 2025 a 2029, aponta a crescente necessidade de despacho de usinas térmicas flexíveis para suprir a demanda nos horários de pico. É nesse contexto que a retomada do horário de verão, suspenso durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, é mencionada como uma possibilidade. A recomendação, contudo, dependerá das projeções de atendimento dos próximos meses, indicando que a medida está sendo seriamente considerada para garantir a estabilidade do sistema.
O documento detalha que a geração de energia no país tem crescido, impulsionada majoritariamente por fontes intermitentes, como a eólica, solar e a mini e microgeração distribuída (MMGD). Embora essas fontes sejam cruciais para a transição energética, a solar e a MMGD, em particular, produzem significativamente menos energia no período noturno, justamente quando a demanda por potência atinge seu pico.
Essa mudança no perfil da matriz elétrica, com a maior participação de renováveis, tem imposto novos desafios à operação do Sistema Interligado Nacional (SIN). O ONS destaca a necessidade de maior flexibilidade operacional, especialmente das usinas hidrelétricas, que são mais controláveis, e a importância do despacho de termelétricas. A expectativa é de um acréscimo de 36 Gigawatts (GW) na capacidade instalada até 2029, totalizando 268 GW. A MMGD, em conjunto com a fonte solar, deverá representar 32,9% da matriz elétrica, tornando a solar a segunda maior fonte em capacidade instalada do SIN.
A avaliação do ONS é categórica: o sistema precisará estar preparado para elevados montantes de despacho termelétrico no segundo semestre de 2025, principalmente a partir de outubro. O relatório prevê que grande parte dos cenários já indica a necessidade de uso da reserva de potência ao longo do segundo semestre deste ano. No entanto, o ONS salienta que não recomenda a inclusão de geração térmica com alta inflexibilidade ou longo tempo de acionamento, priorizando a flexibilidade demandada pelas rápidas variações de potência.
A realização de leilões anuais de reserva de capacidade na forma de potência é vista como premente pelo ONS para buscar o equilíbrio estrutural no atendimento aos requisitos de potência. O PEN 2024 já havia indicado a violação dos critérios de garantia de suprimento de potência em 2025, e os resultados do PEN 2025 mostram um aprofundamento dessas violações nos anos seguintes (2026-2029).
Um leilão crucial, previsto para agosto do ano passado, foi judicializado e teve suas regras revogadas em abril pelo Ministério de Minas e Energia, cancelando a disputa que visava contratar potência de hidrelétricas, termelétricas a gás natural e biocombustíveis.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que, se uma nova portaria for publicada, um novo leilão será coordenado, aproveitando o aprendizado e os documentos já elaborados.
Outro ponto de atenção é a inserção de cargas especiais no sistema, como plantas de datacenters e hidrogênio verde, que demandam alto suprimento de energia e possuem baixa flexibilidade. O ONS enfatiza que uma atenção especial deve ser dada para viabilizar o atendimento dessas cargas no período de ponta noturno, momento em que o sistema já apresenta maior dificuldade em atender aos requisitos de carga.
Com informações da Agência Brasil
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