21 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 15/04/2017 às 12:30

Novo país mais ou menos

Foto: Pena Filho / Agencia RBS
Foto: Pena Filho / Agencia RBS

O Jornal Nacional mostrou nesta sexta-feira, 14, o discurso de um promotor indignado com o fato de durante vários anos políticos terem recebido dinheiro de caixa 2 de campanha, embora nem todo ano tenha tido campanha.

É corrupção, definiu ele, com ênfase na constatação lógica, de quem sabe das coisas e não está ali para ser enganado.

O promotor falou sem que seu rosto fosse mostrado.

A imagem que se viu o tempo todo, enquanto ele desfiava sua verve, era a do empresário Emílio Odebrecht, diante dele fazendo sua explosiva delação.

Emílio contou tudo que a empresa fez. Quer dizer: a versão dele. Provas? No geral, a palavra dele. Contou e discursou.

Como o promotor, também emitiu opiniões e desenvolveu considerações avassaladoras sobre o comportamento dos políticos. Igualmente, sabe das coisas.

Em cadeia na Rede Globo, promotor e Emílio apareciam ali como heróis de um novo País.

Porque o alvo do discurso do promotor não era Emílio nem os outros empresários envolvidos nos escândalos.

Emílio tanto sabia que até sorriu em determinado momento, enquanto o promotor falava. Sorriso de canto de boca.

Como não era o promotor e nem a Justiça brasileira com a qual os políticos e os empresários lidaram durante todo o tempo da corrupção instalada, o alvo de Emílio.

A cena é um resumo do que temos visto no País.

Os delatores são tratados com condescendência, e suas empresas ganham o bônus de aparecerem no Jornal Nacional como colaboradoras da nova Pátria em que os vilões são apenas e unicamente os políticos brasileiros – principalmente, uns, que aparecem menos na delação, porém muito mais na tela da TV.

Mais visibilidade merece ser dada à parte da delação em que Emílio ironiza os meios de comunicação: por que só agora?

Todos sabiam, porque tudo acontece há trinta anos, argumenta ele.

Veja aqui:

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Todos sabiam.

Jornalistas, promotores, juízes, todos sabiam.

Inclusive os eleitores, que viram surgir nesse meio tempo inúmeras denúncias envolvendo certos políticos, mas que mesmo assim votaram neles e os reelegeram.

Naturalmente, nem todos sabiam exatamente como eram as coisas. Emílio inclui “todos” para destacar o essencial: todos que deveriam saber, porque lidam com isso e têm instrumentos para reagir, sabiam.

Por que só agora?

Por que não a indignação de inteiro teor?

E se os políticos fossem chamados para delatar os empresários – vice e versa na apuração de tudo e todos?

Demagogia, venha de onde vier – seja de promotores, seja de juízes, ou jornalistas –, sempre será demagogia.

Um País que se faz metade ação, metade discurso nunca será um País completo.