Marcus Vinícius
Quem gosta de rock, conhece Woodstock, cidade no Condado de Greene, a 200 km de Nova York, onde foi realizado nos dias 15 a 18 de agosto o legendário concerto que reuniu Jimi Hendrix , Jannis Joplin. Santana, Creedence, The Who, Joe Cocker e outros monstros do rock e música pop. Foram três dias de música e mensagens de paz, amor e de preservação do planeta. O que pouca gente sabe é que, quase trinta anos depois, em 1996, a prefeitura de Nova York tornaria Woodstock símbolo de preservação ambiental, com o programa de conservação das nascentes que abastecem a metrópole de 8,6 mihões de habitantes.A Prefeitura de Nova York financia os produtores rurais das montanhas de Catskill, onde ficam as principais nascentes de Greene. Nova York compra propriedades, arrenda terras, paga os produtores pela preservação dos mananciais, investindo na infraestrutura do local, como na construção de pontes para a travessia de animais e de tanques para estocagem de estrume. Paga até mesmo o sistema de esgoto da região. A água chega límpa à metrópole. Nova York investiu nos últimos 20 anos 1,5 bilhão de dólares na preservação dos mananciais de Catskill. Em compensação, economizou 10 bilhões de dólares no tratamento convencional das águas – numa relação de sete para um.
NY e Canedo
O programa novaiorquino inspirou outras experiências no mundo todo, e foi iniciado no Brasil, em 2007 , no município de Extrema (MG), que criou o programa Conservador de Águas. Localizado na divisa entre MInas Gerais e São Paulo, onde nascem rios que contribuem para o abastecimento da capital paulista, o programa de Extrema começou beneficiando 40 propriedades, envolvendo 1,7 mil hectares na sub-bacia das Posses. Até 2014 foram plantadas quase 510 mil árvores e restauradas 250 nascentes, em um total de 7,2 mil hectares protegidos por 187,5 mil metros lineares de cercas construídas pela Prefeitura e foram investidos R$ 1,6 milhão, beneficiando 161 propriedades rurais pelos serviços de preservação das nascentes. Os exemplos de Nova York e Extrema, incentivaram a Agência Nacional de Águas à criação do Programa Produtor de Águas. Em Goiás um dos municípios que aderiram foi Senador Canedo. O prefeito Divino Lemes (PSC), , incentiva ações que garantem a preservação dos mananciais, ao mesmo tempo em que possibilita o aumento e conservação das reservas hídricas da cidade. O trabalho é realizado junto a produtores rurais, sob a coordenação Sanesc, a empresa municipal de saneamento de Senador Canedo.
Preservar 150 nascentes
O programa de Senador Canedo usa o conceito de pagamento por serviços ambientais (PSA), que estimula produtores a investirem no cuidado com as reservas hídricas de sua propriedade, com apoio técnico e financeiro que garante conservação. Em Senador Canedo, o grande objetivo é a preservação de 150 nascentes d´água e a a conservação e recuperação da Bacia do Rio Sozinha e do Bonsucesso.Segundo Divino Lemes, “os trabalhos não só identificaram áreas rurais, indústrias e demais estabelecimentos comerciais que estão junto ao leito, nascentes e em áreas de preservação permanentes são mapeadas, e ações de fiscalização são realizadas de forma constante, com o objetivo de garantir o cuidado com o recurso ambiental.
Outros trabalhos, como controle e proteção dos recursos hídricos, são realizadas, como a implantação do Viveiro Municipal, da AMMA, que atua recuperação de mata ciliar de nascentes.
O prefeito Divino Lemes prioriza toda atenção do programa à conscientização dos produtores rurais sobre a necessidade de manutenção das nascentes. Os técnicos da Sanesc e dos outros órgãos, realizam estudos de mapeamento da Bacia Hidrográfica, em aspectos gerais, climatológicos, geológicos e morfológicos, além do estudo da fauna e flora da região. Junto a isto um planejamento de atuação, atua diretamente junto aos proprietários da zona rural do município. O diagnóstico das nascentes e das áreas de preservação permanente ao longo do leito é imprescindível para o planejamento de medidas de recuperação.
Mundo reestatiza serviços de água
Em todo o mundo a tendência é a reestatização ou a municipalização dos serviços de água e esgoto.De acordo com o Transnational Institute (TNI), organismo internacional de pesquisa e financiamento que há mais de 40 anos atua ao lado de movimentos sociais, sindicais e acadêmicos, há em todo o mundo 835 casos de retomada do controle sobre serviços públicos por governos locais, dos quais 267 na gestão da água.Em Goiás há estudos no sentido de privatização da Saneago, a empresa estadual de saneamento de água e esgoto. Especialistas no entanto demonstram que a privatização prejudica o usuário com serviços de péssima qualidade. Segundo levantamento do TNI correspondente ao período de 2000 a 2017 – com número de “reestatização” cinco vezes maior a partir de 2009 – a remunicipalização da água ocorre sobretudo na França, onde há 106 casos. O país passou pelo mais longo período de privatização da água e nele estão sediadas as grandes multinacionais do setor, como a Suez e a Veolia.Senador Canedo é um dos poucos municípios do Estado que tem a sua própria empresa de tratamento de água. A Sanesc (Agência de Saneamento de Senador Canedo) completou 27 anos e leva água tratada para 90% da população canedense. “A Sanesc é fundamental para Senador Canedo. Ela representa o municipalismo, a nossa vontade de valorizar as nossas riquezas, e fazer com que possamos oferecer com qualidade os serviços à nossa população”, afirma Divino Lemes.
Woodstock 40 anos depois
No próximo dia 15 de agosto o Festival de Woodstock completa 40 anos. A geração hippie, que pregava paz, amor e a reconexão dos seres humanos à natureza, lançou as sementes do que hoje é conhecido como preocupação com o meio ambiente. As cidades de Nova York (EUA), Extrema (MG) e Senador Canedo (GO) são um exemplo de que é possível unir desenvolvimento e conservação da natureza. O sonho de um mundo melhor, enfim, não acabou em 1969, ele continua com as novas gerações.
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