SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Foram quase três minutos de “Marcha Nupcial” até que dona Valda vencesse todo o percurso coberto de pétalas de rosa. Aos 106 anos de idade e com um vestido branco comprido até os tornozelos, ela só largou o andador que apoiava seus passos ao encostar na mão do noivo, que a esperava de terno e gravata em frente ao mestre de cerimônias.
Nascida Valdemira Rodrigues de Oliveira, dona Valda tem registrados no RG bem menos do que 106 anos. O documento acusa 88 -mas ela diz que só foi registrada aos 18 anos pela família, o que era algo comum no passado e foi confirmado por alguns vizinhos.
Lavradora e empregada doméstica, Valda foi encaminhada há quatro anos ao asilo Nossa Senhora de Fátima, em Pirassununga (a 211 km de São Paulo). Foi lá que viu Jacó pela primeira vez, o homem que no último sábado (28) segurou a sua mão na cerimônia de noivado.
Aparecido Dias Jacob, 66, já vivia no asilo há 19 anos quando Valda chegou. Com sequelas de uma paralisia infantil, ele costumava vagar por Pirassununga, dormir nas ruas da cidade e pedir comida no asilo.
De tanto aparecer na instituição, acabou acolhido pela casa, que abriu uma exceção ao recebê-lo aos 43 anos de idade. A casa só recebe idosos sem família ou de baixa renda. Gratuita, a instituição é sustentada por uma fundação sem fins lucrativos.
Quando os dois se viram, foi amor à primeira vista -pelo menos da parte de Jacó, que se apaixonou rapidamente pela nova moradora. “Ela já é mais namoradeira. Até tentou engatar um namoro com outro. Mas depois acabou se encantando pelo Jacó”, diz Fabiane Zaffalon, 35, voluntária do asilo que ajudou a concretizar a festa de noivado.
No início, os dois queriam mesmo era casar e morar juntos. A ideia surgiu após uma atividade chamada Projeto dos Sonhos. Inspirada em uma iniciativa de um asilo português que viralizou na internet no ano passado, ela consiste em perguntar aos idosos o que cada um deles precisa para ser feliz hoje.
Em novembro de 2016, os 40 moradores da casa responderam à questão e tiraram uma foto com o seu sonho escrito à mão em uma lousa. A ideia era que pessoas apadrinhassem e realizassem essas vontades. Sergio, por exemplo, queria pescar. Maria gostaria de um vestido novo. José sonhava em andar de avião. E Jacó e Valda queriam casar.
“Mas era complicado. Ele dorme na ala masculina, ela fica na enfermaria, por causa da idade. Os médicos não deixariam que morassem juntos. Então sugerimos que eles noivassem. E adoraram a ideia”, conta Zaffalon, que é voluntária desde 2012 na casa e logo começou a organizar a cerimônia.
Casamento de dona Valda e Aparecido Dias Jacob
Mais de cem convidados participaram do evento, que teve direito a banda de viola, músicos para tocar a Marcha Nupcial, salgadinhos e mestre de cerimônia. Tudo doado ou feito a partir de trabalhos voluntários -o que inclui o vestido da noiva e as alianças. O evento aconteceu no próprio asilo, que funciona há cem anos em Pirassununga.
O vídeo em que Valda aparece na cerimônia e caminha com o andador por um chão coberto de pétalas teve mais de 4.500 visualizações nas primeiras 24 horas após publicado. Esse provavelmente é o primeiro registro de um noivado na vida dos dois. Valda não fala muito sobre o passado, mas já disse que nunca se casou, embora especula-se que ela tenha tido uma filha que já morreu. Jacó também diz que Valda é sua primeira noiva.
Agora os dois vão esperar e ver como ficará a relação, para só depois decidir os próximos passos. Antes disso, eles e os convidados comemoraram atacando uma mesa com um bolo de casamento de quatro andares e docinhos em forma de coração.
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