A cada cinco anos, aumenta cada vez mais em Goiás o número de mulheres cursando Engenharia de Minas. Aos poucos o universo profissional, marcantemente masculino, vai deixando de ser tabu para elas, embora ainda seja desafiador e desigual.
Com garra e persistência, mulheres estão quebrando resistências e ocupando espaços recentemente classificados como masculinos no setor da mineração. Almejam um perfil profissional que também pode encontrar oportunidade em indústrias de petróleo, cimento, carvão, químicos e fertilizantes, ou na fiscalização desses setores produtivos.
Em Goiás, o canal para que essa transformação fecunde é a Universidade Federal de Catalão (UFCat). É a única instituição de ensino superior a oferecer o curso no estado.
Ali, desde 2008, quando o curso iniciou, é onde o desafio de alunas de Engenharia de Minas começa. E vai desde a sala de aula, onde a presença de homens ainda é maior entre docentes e discentes, até se materializar no mercado altamente especializado do setor.
O Diário de Goiás ouviu engenheiras de minas formadas na UFCat nesses 16 anos. Também contou com um levantamento realizado com egressas por uma docente do curso. São profissionais que estão no mercado ocupando ou não especificamente o cargo, e em postos comuns ou de liderança. Além disso, contou com a estatística do Women in Mining Brasil, movimento que estuda a evolução feminina no setor.
O cenário é de mulheres que enfrentaram o preconceito e limitações que lhes exigiram muitas vezes provar que eram capazes. Em situações que não se exige o mesmo de homens por questão de gênero, mas sim por atributo profissional, como deveria ser para todos.
São histórias sobre a intimidação até pela falta de um banheiro para frequentarem. Humilhação de professores que duvidavam publicamente da capacidade da aluna. Ou sobre assédio sexual de colegas de trabalho.
Situações como o menosprezo de, sendo a única mulher engenheira de minas de uma reunião com 20 pessoas, ser também a única a ter a profissão omitida em um documento onde todos estavam devidamente identificados com seus nomes à frente de seus cargos. Mas o dela não, era apenas um nome feminino em uma lista.
No contraponto, a superação. A engenheira que pode trabalhar da Irlanda ou de diversos lugares do mundo para a mineradora no Brasil. A outra, cuja base é uma usina em Parauapebas (Serra dos Carajás, PA), e que trabalha de forma híbrida de outras cidades.
Ouvimos também a que está fazendo pesquisa de laboratório para o mestrado sobre rotas de processamento de terras raras e articula um doutorado sobre titânio.
Tem ainda a que não se deixou intimidar na mineração e, mesmo com os dedos apontando para uma mulher negra engenheira de minas, foi uma das 12 a se formarem numa turma de 50 alunos.
Para marcar o dia 8 de março de 2024, o DG vai trazer depoimentos e também contextos anônimos e estatísticos. Tudo para reforçar as reflexões necessárias no Dia Internacional da Mulher, e sempre. Entre essas reflexões, a importância de políticas afirmativas.