SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O economista Paul Singer morreu às 20h desta segunda-feira (16), aos 86 anos, em São Paulo. Ele havia sido internado no Hospital Sírio-Libanês desde a madrugada e teve septicemia.
Integrante do grupo de fundadores do PT em 1980, Singer foi um dos responsáveis pelo que o partido teve de mais celebrado em suas quase quatro décadas: a formulação de um programa de desenvolvimento a partir do fortalecimento do mercado interno via distribuição de renda.
No campo acadêmico, autor de vários livros didáticos e de pesquisa econômica, tornou-se referência obrigatória para a divulgação do pensamento da esquerda não-marxista.
Talvez tenham sido esses os dois principais legados do professor Paul Israel Singer, nascido na Áustria em 1932 e que chegou ao Brasil aos 8 anos, quando a família judia fugiu do nazismo em seu país recém-anexado por Hitler.
O nome do meio era uma exigência do regime que defendia uma “solução final” para os judeus. Para mais fácil identificação, os judeus homens foram obrigados a anexar “Israel” ao nome.
Singer manteve o nome, mesmo quando não era mais necessário. Dizia que Hitler obrigava mesmo os judeus assimilados, como sua família de um subúrbio operário de Viena, a se voltarem para o judaísmo.
Em sua juventude, foi sionista, mas sem muita convicção. Pertencia a uma corrente socialista do movimento.
Aos 20 anos, começou a trabalhar como eletrotécnico. Filiado ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ajudou a organizar a greve dos 300 mil, que paralisou a indústria de São Paulo por mais de um mês em 1953. No ano seguinte se naturalizou. Filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro, mas não desenvolveu atividade partidária.
Foi autodidata no estudo da economia e só em 1956 ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP.
Ainda estudante, Singer foi convidado a tomar parte no “Seminário de Marx”, que mais tarde ganharia notoriedade devido às carreiras posteriores dos intelectuais que dele participavam, como o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, a antropóloga Ruth Cardoso e o filósofo José Arthur Giannotti. Na época, considerava-se um marxista.
O grupo daria origem ao Cebrap, que reuniu a nata dos intelectuais de oposição à ditadura militar. Singer chegou a ficar preso por uma semana em 1974, mas não sofreu tortura.
A atividade político-partidária só teria início com a fundação do PT. Singer foi o responsável pelo programa econômico do candidato Lula ao governo de São Paulo, em 1982, na primeira eleição direta ao cargo, ainda sob a ditadura, que só terminaria em 1985.
Lula perdeu, mas o programa foi inscrito no DNA do partido. Singer defendia a ampliação do mercado interno via inclusão social, o que acabou ocorrendo durante a Presidência de Lula, de quem seu filho, o cientista político André Singer, hoje colunista da Folha de S. Paulo, foi porta-voz.
Paul Singer considerava o programa reformista. O socialismo não entrava diretamente na equação. “A marcha para o socialismo consistia em ampliar a democracia, aprofundar a democracia para redistribuir a renda”, como disse em entrevista a Guido Mantega e José Marcio Rego, em 1997, registrada no livro “Conversas com Economistas Brasileiros”.
No plano municipal, como secretário de Planejamento de Luiza Erundina, prefeita de São Paulo a partir de 1989, não conseguiu implementar ideias que dependiam de uma ação do governo federal. Mas nunca desistiu da ideia.
Em 2002, Singer aprofundou a proposta com a publicação do livro “Introdução à Economia Solidária”, obra de militância, editada pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Defendia como princípios “a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual”. Pela sua proposta, haveria também “um poder público com a missão de captar parte dos ganhos acima do considerado socialmente necessário para redistribuir essa receita entre os que ganham abaixo do mínimo considerado indispensável”.
No ano seguinte, no início do governo Lula, assumiu a Secretaria Nacional de Economia Solidária, ligado ao Ministério do Trabalho, onde defenderia a criação de bancos comunitários como instrumento de erradicação da miséria.
Apesar das crises do PT, Paul Singer se manteve ligado ao partido que ajudou a fundar, criticando-o pontualmente à esquerda, como fez em 2015, quando o governo de Dilma Rousseff promoveu um ajuste fiscal que, para ele, afastaria o PT de suas bases sociais.
Foi autor de muitos livros, além da obra citada, entre os quais se destacam “Desenvolvimento e Crise” (1968) e “A Crise do Milagre Brasileiro” (1976).
Viúvo, Paul Singer deixa, além de André, as filhas Helena e Suzana, ex-ombusdsman da Folha e atual editora de Treinamento do jornal.
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