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“Moro sabe que eu sei tudo o que ele fez”, reagiu Glen contra críticas a reportagens

Desde que começou a publicar as mensagens vazadas por meio do site The Intercept, Glenn Greenwald, advogado e jornalista norte-americano tem sido considerado vilão, por aqueles que defendem a operação Lava-Jato e ao mesmo tempo como herói, para aqueles que defendem um julgamento justo aos envolvidos. “[As reportagens] Não é sobre o Moro ser vilão ou herói. Não é sobre ser a favor de Lula ou Moro. Não é questão de direita ou esquerda”, chegou a dizer em audiência na Câmara dos Deputados, no último dia 25 de junho.

Fato é que as revelações bombardearam o país. Seu passado já revelava que está disposto a ir até o fim com relação as publicações: ele já havia feito algo parecido nos Estados Unidos, em parceria com o The Guardian, com relação ao escândalo de vazamentos da Agência de Espionagem Norte-Americana, a NSA. A série de reportagens rendeu-lhe um Prêmio Pulitzer.

Para alguns, é visto como partidário. Reforçado o fato de que é casado com o deputado pessolista David Miranda, surgiram diversas teorias de conspiração que Glenn Greenwald teria ajudado o companheiro a “comprar” mandato do então deputado federal Jean Wyllys e que as revelações são uma fraude para causar descrédito na Operação Lava-Jato que colocou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atrás de grades em Curitiba. Isso alarma uma série de novas teses partidárias do que realmente está como pano de fundo para os vazamentos. Alguns setores mais extremistas, inclusive, clamam sua deportação e até prisão para o jornalista.

Seja como for, Glenn e o seu The Intercept é assunto quando tem se tratado de questões jurídicas e jornalísticas no país.

Em entrevista ao El País, publicada nesta segunda-feira (15/07), Glenn revelou algumas questões em torno da reportagem. “No jornalismo você consegue boas histórias, mas elas raramente são disruptivas. Desta vez, eu sabia que isto ia ser uma bomba no Brasil, porque o que eu estava lendo era não apenas chocante, como também implicava aquela que provavelmente é a pessoa mais respeitada e poderosa do país, mais até do que o presidente. Eu sabia que seria polêmico. Ele [Moro] é provavelmente quem dá credibilidade e legitimidade ao Governo de Bolsonaro”, respondeu quando questionado o que sentiu quando recebeu os vazamentos do então juiz federal.

Ele mais uma vez, tornou a explicar o movimento de segurança que fez em torno dos documentos adquiridos. Explicou que no The Intercept, além de jornalistas, existem “especialistas em segurança tecnológica” e que mesmo se a polícia brasileira fosse até sua casa “e levasse meu computador e meus telefones, nunca seria capaz de chegar ao arquivo, porque ele está seguro”. Seguro como, Glenn? Ele explica que os documentos já estão fora do país, em vários lugares diferentes. “Vendo o tamanho [do arquivo] entendemos que era necessário trabalhar em equipe e que era necessário que nos associassemos a outros veículos de comunicação”. A partir daí, associaram-se ao jornal Folha de São Paulo e à Revista Veja, dois dos maiores veículos brasileiros.

“Eles têm equipes grandes que cobrem a operação Lava Jato há anos, que cobriram Moro. Eles têm um conhecimento que nós não temos necessariamente […] Quanto mais jornalistas você envolve em um assunto, mais profundo é o jornalismo que você faz”, explica.

Apesar de Moro se defender dizendo que o comportamento dele como juiz não é incomum e é algo tradicional no Brasil, Glenn o rebate: “É proibido explicitamente o que ele diz que é comum e tradicional: basicamente, juízes colaborando com uma das partes. Mas mais significativo ainda é que durante os últimos quatro ou cinco anos houve suspeitas, sem provas, de que Moro estava colaborando com os procuradores e ele nunca disse que era ‘uma tradição’. Ele negou veementemente”, rememorou.

El País coloca em xeque a imparcialidade do jornalista quando aponta que o marido é político [já dito na introdução que David Miranda é deputado federal pelo PSOL]. Greenwald diz que não acredita que jornalistas devem fingir não ter opiniões e que é “mais honesto” que o profissional abra “seus pontos de vista”. E dispara: “É algo que eu acho engraçado é que no Brasil as pessoas me associam com a esquerda, enquanto nos EUA às vezes acreditam que sou de direita porque apareço na rede Fox”, explica.

Glenn diz que sempre há perigos no jornalismo. Quem está no poder, pode “castigar você ou se vingar”. Para ele no entanto, “valia a pena assumir o risco”. Ele pontua que acredita que o governo Bolsonaro é “repressor e autoritário”. Em especial quando salienta que “Moro demonstrou que está disposto a violar todas as leis”. No entanto, estão “desesperados”. “Moro sabe que eu sei tudo o que ele disse e fez. E que vamos contar tudo”, explica.

Anteriormente, Glenn já havia dito que iria até o fim com as reportagens. Nada faria com que sua equipe se sentisse intimidado. Pontuou que uma enorme equipe de jovens jornalistas brasileiros estavam trabalhando no material e mesmo que o deportassem, o material continuaria sendo publicado.

 

 

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.

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