25 de novembro de 2024
Abin Paralela • atualizado em 16/07/2024 às 09:54

Moraes retira sigilo de áudio de conversa de Bolsonaro relacionada ao uso ilegal da Abin

A conversa teria supostamente sido gravada por Ramagem e ocorreu em agosto de 2020. A prova estava até então sob segredo de Justiça
No áudio, o ex-presidente Jair Bolsonaro conversa sobre o uso ilegal da Abin para espionagem. (Foto: Andressa Anholete/Getty Images).
No áudio, o ex-presidente Jair Bolsonaro conversa sobre o uso ilegal da Abin para espionagem. (Foto: Andressa Anholete/Getty Images).

Na segunda-feira (15), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo de um áudio do ex-presidente Jair Bolsonaro em conversa com o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno e o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem. A gravação tem 1 hora e oito minutos e está relacionada ao uso ilegal da Abin para espionagem.

A conversa teria supostamente sido gravada por Ramagem e ocorreu em agosto de 2020. O áudio foi citado no relatório da investigação chamada de Abin Paralela, divulgado na semana passada. Além do áudio, o STF disponibilizou a gravação da conversa feita no processo da Polícia Federal. Vale destacar que o áudio estava até então sob segredo de Justiça.

Conversa divulgada

Segundo a PF, a conversa está relacionada ao uso ilegal da Abin para obter informações sobre inquérito no qual o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi investigado por “rachadinha” quando ele ocupou o cargo de deputado estadual. Em 2021, a apuração foi anulada pela Justiça.

Durante a reunião gravada, as advogadas de Flávio, Juliana Bierrenbach e Luciana Pires, discutiram formas de obter informações sobre a investigação envolvendo o senador na Receita Federal e no Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Na conversa, as advogadas buscaram uma forma de anular a investigação e sugerem que o trabalho poderia ser feito pelo Serpro.

Juliana Bierrenbach: “Então, o que eu tenho? Eu não tenho uma prova de que foi feito isso com o Flávio”.

Luciana Pires: “A gente quer essa prova”.

Após Juliana sugerir o acionamento do Serpro, Bolsonaro disse que iria falar com Gustavo Canuto, então presidente da Dataprev, empresa pública de dados.

Bolsonaro: “Eu falo com o Canuto. Agora, isso aí eu falo com o Flávio, então. Qualquer hora do dia amanhã”.

Ramagem: “fala com o Canuto para saber do Serpro, tá”.

Bolsonaro: “ninguém gosta de tráfico de influência. A gente quer fazer [inaudível]”.

Em outro momento da gravação, Ramagem sugere a busca de “alguma vulnerabilidade” envolvendo os fiscais da Receita que fizeram a investigação contra o parlamentar.

Ramagem: “Porque esse é o caminho correto de averiguar alguma possível vulnerabilidade ali. O que circula realmente é a promiscuidade entre MP e Receita desde o começo”.

Em um trecho do áudio, Bolsonaro e o general Heleno demonstraram preocupação com o vazamento da conversa.

Heleno: “tem que alertar ele [chefe da Receita], ele tem que manter esse troço fechadíssimo. Pegar de gente de confiança dele”.

Bolsonaro: “Tá certo. E deixar bem claro – a gente nunca sabe se alguém está gravando alguma coisa –, que não estamos procurando favorecimento de ninguém”.

Defesa de Flávio Bolsonaro

Em nota, o senador Flávio Bolsonaro diz que o áudio mostra apenas suas advogadas comunicando as suspeitas de que um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal, com objetivo de prejudicar a ele e à sua família. “A partir dessas suspeitas, tomamos as medidas legais cabíveis. O próprio presidente Bolsonaro fala na gravação que não ‘tem jeitinho’ e diz que tudo deve ser apurado dentro da lei. E assim foi feito”, diz o senador.

O advogado do general Augusto Heleno, Matheus Mayer, disse que não vai se manifestar sobre o assunto, bem como a defesa do ex-presidente Bolsonaro. O Diário de Goiás está aberto para incluir o posicionamento dos citados.


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