20 de dezembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 00:49

Moradores voltam às ruas após parte da PM retomar as atividades no ES

Soldados do Exército patrulhando praia de Vila Velha (ES) / Foto: Joel Silva
Soldados do Exército patrulhando praia de Vila Velha (ES) / Foto: Joel Silva

Dez dias após o início do movimento das mulheres de policiais que bloquearam a saída dos batalhões e quartéis da Polícia Militar no Espírito Santo, a Grande Vitória teve, nesta segunda-feira (13), seu primeiro dia de quase normalidade.

O comércio abriu as portas, assim como as escolas e unidades de saúde. Os ônibus também voltaram a circular em sua normalidade, mas o medo ainda é presente na rotina dos capixabas.

Entre os depoimentos de moradores da região metropolitana de Vitória ouvidos pela Folha de S.Paulo, o consenso é de que há segurança nas ruas, mas o trauma da onda de violência que resultou em 144 mortes registradas até a noite de ontem (12), além dos saques, roubos de carro, assaltos e arrombamentos, ainda estão fortes na memória do capixaba. Aos poucos, a população tenta voltar ao seu cotidiano normal.

“Nunca vi o terminal tão protegido. Podia ser assim sempre. Eram cerca de 12 homens do Exército. Vi uma coisa interessante. Tinham mulheres no posto policial do meu bairro, já que tem essa ordem do governo para eles irem direto para o local de trabalho, sem passar pelos batalhões. Mas vi o policiamento apenas em áreas mais nobres da cidade. Na região mais periférica, não vi nada”, conta a analista contábil Alexandra Pacheco, 37, moradora de Cidade Continental, na Serra, e que trabalha em Jucutuquara, em Vitória.

A jornalista Lorena Meireles, 30, moradora de Itapuã, em Vila Velha, afirmou que não foi fácil chegar ao trabalho na manhã de hoje, no centro da mesma cidade. “Meu ônibus não passou. Tive que ir para outro ponto depois de vinte minutos esperando. Vi pessoas assustadas. O clima está estranho. Blindados passando pela rua e uma rotina tentando se encaixar. Demorei cerca de quarenta minutos para chegar. Geralmente demoro menos”, afirmou.

A bibliotecária Juliana Fernandes Costa, 37, mora na Praia da Costa, em Vila Velha, e trabalha em Jesus de Nazaré, em Vitória, na biblioteca de uma escola municipal. Segundo ela, o trajeto, feito de carro, foi bem mais demorado do que o habitual para o horário e que, inclusive, houve momentos em que a ponte ficou completamente parada, o que não é normal, já que de acordo com ela, sempre há só o trânsito lento.

“Muitas viaturas do Exército, Força Nacional e Ambulância passaram com sirenes ligadas. Vi militares ostentando armamentos pesados na saída da ponte já em Vitória, olhando bem para dentro de cada carro. Acredito que muita gente que não saiu para nada na semana passada por causa do medo, deixou para ir a Vitória hoje resolver o que não pode ser resolvido antes. Onde trabalho, é uma comunidade, e na entrada, tem cones e militares do Exército fortemente armados. Muitos dos meus colegas de trabalho disseram que saíram só hoje de casa, desde o sábado da outra semana”, relatou.

Beatriz Figliuzzi Arantes, 37, é enfermeira e moradora da Praia do Canto, em Vitória, e aproveitou a manhã de segunda-feira para correr na praia. Ela relatou que a manhã parecia normal, mas uma situação ocorrida durante a realização da entrevista ilustrou bem a sensação de medo vivida pelos capixabas. Um forte estrondo foi ouvido e ela, assustada, achou que fosse algum crime cometido na região. A tranquilidade só veio quando a profissional da área da saúde descobriu a razão do barulho. Um transformador de energia elétrica havia explodido, em um poste, na sua rua.

“Acho que a cidade está voltando a sua rotina diária e acredito que a população está dando mais crédito a esta segurança, mas ainda têm pessoas com medo. Vi muito policiamento das forças de segurança e me senti protegida. Pelo menos na Orla de Camburi e na Praça dos Namorados, notei que está tranquilo. Ainda tem muita desconfiança, mas acho que as coisas vão melhorar daqui para frente. As pessoas também estão cansadas de ficarem presas em casa. Ainda não é o ideal, mas as pessoas estão mais encorajadas. A vida não pode parar”.

(FOLHAPRESS)

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