Após os resultados das últimas pesquisas eleitorais, os candidatos à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) são vistos pelo mercado financeiro como os mais prováveis em um eventual segundo turno. Agora, investidores começam a medir riscos no caso de vitória de cada um deles.
Especialistas projetam mais oscilação do dólar nas próximas semanas, com o pico de nervosismo entre o primeiro e o segundo turnos, quando a disputa entre esse dois candidatos, caso avancem para a reta final, deve se acirrar.
Na semana passada, a moeda chegou a bater R$ 4,20, fechando na sexta-feira (14) a R$ 4,1670, com uma alta acumulada de 1,51% no período.
“Um por cento na variação do preço de um ativo com liquidez internacional como o dólar, com risco emergente e com a questão local, não é nada”, afirma Adriana Dupita, economista do Santander.
Na quinta (13), quando o dólar chegou aos R$ 4,20, não havia nenhuma notícia concreta no mercado a guiar a disparada da moeda. As explicações mais frequentes foram temores de avanço do petista nas intenções de voto e o receio sobre a saúde do líder, Bolsonaro, que passou por uma cirurgia de emergência decorrente de complicações do atentado à faca que sofreu.
O mercado ainda teria que esperar até a noite do dia seguinte para saber o resultado da última pesquisa Datafolha, que indicou a ascensão do capitão reformado, agora com 26% das intenções de voto. Haddad subiu de 9% para 13% da preferência dos eleitores, empatado com Ciro Gomes (PDT). Geraldo Alckmin (PSDB) ficou com 9% e Marina Silva (Rede), 8%.
O levantamento ouviu 2.820 eleitores, com uma margem de erro de dois pontos para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número BR 05596/2018.
O UBS projeta que o dólar vai oscilar mais na segunda fase da disputa.
Tony Volpon, economista-chefe do banco, diz que Bolsonaro pode ter dificuldades em aprovar propostas no Congresso, apesar de ser parlamentar, porque tem comportamento de “outsider”.
Já Haddad carrega a experiência do PT e não deveria enfrentar dificuldades. A questão é sua disposição em propor reformas. “O mercado tem dúvida se o partido se radicalizou após o impeachment [de Dilma Rousseff]”, afirma Volpon.
O economista acrescenta ainda a dificuldade de comparar a disputa deste ano com eleições anteriores.
“É um erro olhar pra eleições passadas, erro que muita gente cometeu com Geraldo Alckmin [PSDB] em relação ao tempo de TV. Desde 2017 defendo que Bolsonaro seria muito competitivo por causa das redes sociais”, diz.
A possibilidade de Alckmin crescer por causa do tempo de TV foi repetida à exaustão pelo mercado, que depositava no tucano esperanças de um presidente comprometido com reformas que consideram necessárias para o equilíbrio das contas públicas.
Agora, o mercado começa a abandonar essa esperança e flerta com Bolsonaro, apesar das incertezas. “Não é o grande pulo do gato pensar que haverá muita volatilidade no segundo turno”, diz Volpon.
Para os especialistas, o fato de os índices econômicos no Brasil não estarem acompanhando as oscilações internacionais mostra que as peculiaridades do momento eleitoral têm prevalecido.
“O cenário internacional não tem ajudado muito, mas, na quinta [13], a Turquia subiu juros. Na sexta, foi a vez a da Rússia fazer o mesmo. Os mercados ficaram animados, mas o Brasil não seguiu essa tendência”, diz Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest.
Além da incerteza doméstica, o Brasil é afetado pela turbulência em países emergentes desencadeada pelo processo de alta na taxa de juros nos EUA. Juros maiores lá tendem a fazer com que investidores migrem recursos antes aplicados em economias consideradas mais arriscadas.
Em dias em que o dólar se comporta diferente no Brasil, em relação a outros países, entram em jogo as nossas próprias mazelas, afirma Adriana, do Santander.
“Estamos há 20 dias das eleições e ninguém sabe quem vai ganhar. E independentemente de quem ganhar, não se sabe o que vai ser feito.” (Folhapress)
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