SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O sábado (30) começou com a perspectiva de épico confronto entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo nas quartas de final da Copa do Mundo. Mas havia Kylian Mbappé, 19, no meio do caminho.
O atacante, possível candidato a melhor do mundo em um futuro próximo, tirou a Argentina da Copa do Mundo com uma exibição de velocidade, técnica e finalizações em Kazan. Ele sofreu um pênalti e fez dois gols na vitória da França por 4 a 3. Pode ter sido o último jogo da carreira de Lionel Messi no torneio e, se isso acontecer, ele se despedirá do futebol sem conquistá-lo.
O único fator em que a Argentina foi superior aos franceses foi na torcida, que só se calou quando o atacante do Paris Saint-Germain, companheiro de Neymar, fez o quarto gol. Antes disso, ela havia ido da ansiedade à depressão pela queda, passando por instantes de euforia quando teve a vantagem no placar.
O esquema de Messi como falso 9 era uma aposta que só não naufragou nos primeiros 45 minutos porque Di María apareceu para salvar.
Como todas as ideias de Jorge Sampaoli para a seleção argentina, ele queria dar a maior liberdade possível para seu camisa 10 e sem a obrigação de voltar para defender. Isso cabia a Di María e Pavón. Mas isolado e bem marcado, o principal jogador da seleção quase não jogou até o intervalo.
A França era organizada e ciente do seu jogo. Tinha a referência na área que faltava ao adversário (Giroud) e dois atacantes pelas pontas que aterrorizavam os argentinos cada vez que partiam com a bola dominada: Griezmann e, principalmente, Mbappé.
Foi este último quem conseguiu o pênalti aos 11 minutos, cometido por Marcos Rojo. Depois de ser herói do gol da classificação argentina na fase de grupos, o zagueiro flertou com o papel de vilão ao decidir que era melhor derrubar o francês dentro da área e não fora. Griezmann deslocou Armani e abriu o placar.
A Argentina era dominada porque não havia como furar a retaguarda francesa com o plano de jogo desenhado por Sampaoli. As trocas de passes rápidos com Messi não funcionavam porque ninguém se aproximava do camisa 10. Os lançamentos para Di María e Pavón nas costas dos laterais, nas poucas vezes em que funcionaram, foram inúteis porque não havia ninguém na área para concluir para o gol.
A França estava armada para matar a partida. Com Griezmann e o infernal Mbappé, possuía duas peças para aproveitar a inacreditável decisão do técnico argentino de colocar sua defesa, velha e lenta, adiantada em campo. Pogba achava espaço para lançar.
A Argentina precisava de um momento de mágica para voltar ao jogo. Esperava-se de Messi. Veio de Di María. Tal qual havia acontecido em outra partida de oitavas de final da Copa do Mundo, em 2014, ele tirou sua seleção do sufoco com um golaço. Desta vez, em um chute de fora da área no ângulo aos 42.
Pior em campo e dominada na maior parte do tempo, a equipe sul-americana foi para o vestiário com seus milhares de torcedores, ampla maioria em Kazan, cantando.
Parecia que, apesar de mais uma vez jogar mal e estar com um esquema tático equivocado, a Argentina renasceria de forma improvável. Sensação que ficou ainda mais forte quando Gabriel Mercado desviou chute de Lionel Messi para fazer o segundo da partida. Sampaoli pulou, alucinado, como se fosse o responsável pela virada.
Messi se abaixou, ajeitou a meia, olhou para a torcida e cerrou os punhos, pedindo pela vibração dela. Foi atendido na hora. Com média de 26 anos, a França tem o segundo time mais jovem do Mundial da Rússia. Em um ambiente hostil e cerca de 25 mil argentinos gritando sem parar, os jogadores poderiam sentir o peso de decidir uma vaga no Mundial. Uma teoria que serviria para psicólogos. Não em campo. O lateral Benjamin Pavard, 22, fez questão de provar isso com um dos mais belos gols da Copa do Mundo, no nível da melhor partida da competição até agora.
Era a hora que a Argentina, como nunca, precisava de Lionel Messi. O camisa 10 manteve o mesmo desempenho apagado dos três jogos anteriores. Tentava criar espaços, mas impotente diante da marcação, não recebia passes. Faltava a oportunidade que sobrou a Mbappé. E o francês fez de Kazan o palco para a maior atuação individual de um jogador no Mundial até agora.
Fez dois gols e se fosse fominha, poderia ter anotado mais um. Bastaria ter dominado a bola e ido para cima da marcação do cansado e lento Mascherano. Apontada como candidata ao título pelo próprio Jorge Sampaoli antes do início da competição, a França teve uma frase de grupos burocrática. Ameaça embalar no momento mais importante e a Argentina foi vítima da velocidade dos europeus.
A imagem que fica de Lionel Messi, um dos maiores jogadores da história do futebol, foi criar uma chance nos minutos finais, chutar fraco nas mãos de Lloris e ficar cinco segundos prostrado em campo, com as mãos na cabeça. A sensação era de mais uma chance desperdiçada. Talvez a última.
Não demorou para Mbappé, o dono do jogo, sair trotando de campo ao ser substituído. Aproveitava os aplausos de pé do público em Kazan para a maior partida da sua carreira. Aguero ainda descontou para a Argentina. Apenas para dar mais um toque de drama ao adeus da seleção que marcou com a desorganização sua passagem pela Rússia.
FRANÇA
Lloris; Pavard, Varane, Umtiti e Lucas Hernández; Kanté e Pogba; Mbappe (Thauvin), Griezmann (Fekir) e Matuidi (Tolisso); Giroud.
T.: Didier Deschamps.
ARGENTINA
Armani; Mercado, Otamendi, Rojo (Fazio) e Tagliafico; Enzo Pérez (Agüero), Mascherano e Banega; Pavón (Meza), Messi e Di María.
T.: Jorge Sampaoli.
Árbitro: Alireza Faghani (Irã)
Assistentes: Reza Sokhandan e Mohammadreza Mansouri (ambos do Irã)
Cartões Amarelos: Pavard, Giroud (França); Rojo, Tagliafico, Mascherano, Banega e Otamendi (Argentina)
Gols: FRANÇA: Griezmann (pênalti), aos 13min do primeiro tempo, Pavard, aos 12min do segungo tempo, Mbappe, aos 18min e aos 22min do segundo tempo; ARGENTINA: Di María, aos 42min do primeiro tempo, Mercado, aos 3min do segundo tempo, e Agüero, aos 47min do segundo tempo. (Folhapress)