A filósofa e professora da Universidade de São Paulo (USP) Marilena Chauí proferiu palestra no Centro Cultural Oscar Niemeyer na noite de quarta-feira, 13. Diante de um auditório lotado, Chauí discorreu sobre conceitos de sociedade, ideologia, democracia e o cotidiano em evento que integra o projeto Café de Ideias. A professora rechaçou a tentativa do Estado de relacionar violência apenas com questões sociais.
Marilena Chauí abordou a questão da violência, um assunto delicado que aflige a sociedade goiana. Para ela, temos “uma sociedade hierarquizada, oligárquica, autoritária e violenta tende a ligar criminalidade e delinquência à pobreza e à raça”. Nos últimos meses, mais de 20 moradores de rua foram assassinados em Goiânia e na região metropolitana. Além disso, houve uma explosão nos índices de violência no Estado no último ano.
Sobre os assassinatos praticados por policiais, a filósofa acredita que há uma tentativa de relativizar e naturalizar essas mortes. “Se morre um ou outro, não tem nada, a não ser uma ou outra chacina que leve a uma comoção maior”, explica ela. Chauí completa: “legitimam a violência da polícia, como se as vítimas pertencessem a uma outra sociedade, que não a mesma em si. É o nós (bons) contra eles (bandidos desvirtuados)”.
Para ela, a questão central da violência hoje é que o estado não garante os direitos mínimos estabelecidos e que são universais, como saúde e educação.
A professora afirma ainda essa prática “é o chamado mito da não violência, criado para encobrir e camuflar a realidade, por meio da difusão de que brasileiro é povo ordeiro, pacifico e cordial, e todos que fogem a essa regra são tratados como não brasileiros”.
Chauí defende uma sociedade democrática alicerçada na participação de todos nas decisões, e a participação de políticos que não queiram apenas se perpetuar no poder, sem separar o público do privado. “O essencial é que o poder não se identifique com os mandantes do poder”, ou seja, que as instituições públicas prevaleçam sobre os mandatários. Caso contrário, a sociedade passa a ser vítima de um poder totalitário, com perseguição, cerceamento de liberdade de expressão e hierarquização, onde a elite política decide e a sociedade obedece. “Isso não é democracia”, resume.
Terceirizações
Apesar de estar em evento com apoio do governo estadual, que vem recebendo críticas por decisões que terceirizam atribuições antes exclusivas do Estado, como no caso das Organizações Sociais (OSs), Marilena Chauí fez um alerta: “Sair privatizando tudo, hospitais, escolas e creches, é querer repetir os erros cometidos pela Europa que pode ter chegado a uma situação irreversível”.