O governador do Estado, Marconi Perillo (PSDB), está derrotado. Mas ainda não perdeu a eleição.
Com 21% de avaliação positiva, a segunda pior do País, e uma administração estilhaçada pelos recorrentes escândalos do último ano, ele volta ao jogo. Como Fenix, o tucano ressurge das cinzas, ainda que acinzentado, e chama o adversário para o jogo: “Acredito que, como eu, que não pretendo disputar a eleição, Iris Rezende também deveria ficar fora.”
Pronto. Partindo de uma negação, que contraria suas atitudes – é notório que o governador tem trabalhado pela reeleição –, Marconi pauta os principais veículos de comunicação, lança seu nome no universo das especulações e escolhe, de antemão, seu adversário.
E a estratégia do governador é simples: a derrota ele já tem; agora, é preciso vencer o pleito para salvar sua biografia. Tudo ou nada. Caso contrário, diante do histórico da política goiana, Marconi pode estar próximo ao fim de sua vida como homem público. Ou, se não perto do fim, diante de um revés com força para minar suas forças para o futuro.
Como de costume, sempre que está emparedado, acuado… o governador esperneia, escolhe um alvo e atira. Joga pesado, duro, e solta os cachorros, que passam a roer os pés e a morder o pescoço das aves tonteadas.
Toda balbúrdia acaba desviando a atenção dos assuntos espinhosos e criando uma pauta em que ele normalmente domina pela força da máquina que o ampara e carrega politicamente. O barulho de sua ‘coragem’ se sobrepõe ao das cobranças.
E coragem pode, sim, ser o adjetivo da ocasião. Pois só com muita coragem um gestor consegue ignorar sua reprovação, seus aliados em guerra, sua administração caótica, sua imagem enlameada… E se lançar como o velho nome do Tempo Novo. De novo.
Marconi Perillo faz isso porque é bater o pé, que todos correm, ninguém reage, ou, se reage, mais sustenta sua estratégia do que a abala. Ou então é tudo parte de uma reação que, no final, serve para blindá-lo e criar discurso contra os adversários.
Prova disso: foi só o governador eleger Iris Rezende como seu arquirrival de 2014, para a oposição intensificar o tão praticado movimento de bater cabeças. Enquanto Marconi se levanta do desastre de sua avaliação, valendo-se até mesmo de um discurso positivo para o pior índice dos últimos 30 anos, os governadoriáveis oposicionistas mantêm o fogo amigo.
Contra um governador mal avaliado, sobram adversários do outro lado. E falta discurso. Falta planejamento. Falta política. A oposição conta, hoje, com o azar de Marconi Perillo. Não há unidade entre peemedebistas, petistas e os demais partidos. É um contra todos e ninguém contra um.
Vale lembrar que o próprio Iris, até o momento, não se manifestou sobre candidatura. Ele não se postulou sequer com uma negação. Não falou sobre o assunto. Nem sim, nem não, nem talvez… Nada. É o principal nome contra Marconi por afirmações alheias.
Iris Rezende permanece distante do debate. Distância que pode ser saudável. É possível que, com o tempo, os eufóricos pré-candidatos da oposição acalmem seus ânimos. Com a mesma cajadada, o peemedebista aumenta o espaço de Júnior Friboi no partido estimulando seu financiamento da campanha. Como usará isso depois? Deus sabe…
O PT não é o maior dos problemas. Apesar do crescente clamor pela candidatura do prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, é preciso mais. Uma andorinha sozinha não faz verão. Nacionalmente, o Partido dos Trabalhadores precisa do PMDB. Iris tem sua influência. O prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, tem suas dívidas com o peemedebista. No fim…
As declarações de aliados contra Iris são explícitas. Para os queixosos, dois argumentos: o primeiro, teórico, é o de que o povo quer algo novo. Como se o novo fosse um quesito de idade. O segundo, prático, é o de que o ex-governador não gasta dinheiro suficiente na campanha. Fato. Mas um fato feio de se usar como justificativa.
Certos ou errados, estão atrasados. Marconi atira para matar. Assessores seus, estrategicamente posicionados, como atiradores de elite, entram em ação, reverberando seus atos e sua voz.
Quem defende Iris na Assembleia? Quem defende Iris na Câmara?
Em prol do tucano, não faltam porta-vozes. O deputado estadual Túlio Isac (PSDB) é o mais articulado dos marconistas voluntariosos a defender a honra do governador. Outros deputados se revezam com ele, mas sem a sua veemência e disposição.
E naturalmente tem o labor da prodigiosa trupe governista das redes sociais, que, de seu bunker, atira sem pestanejar. São os sabujos de uma comunicação que se forma na maldade e se compraz na destruição alheia – inclusive da imagem do chefe maior, por tabela.
Há ainda os secretários da chamada cozinha, como Joaquim de Castro e, principalmente Sérgio Cardoso. São pagos para isso. Joaquim exerce a missão que em outros tempos foi bem executada por Fernando Cunha.
Cunhado do governador, Sérgio Cardoso sempre cumpriu nas campanhas eleitorais o papel do auxiliar que não vive sem uma bronca, um coice verbal do chefe. Eternamente pronto a andar à frente do carro que puxa o patrão nas carreatas, ele é de correr, de caminhar, suar, ouvir impropérios calado, ciente de seu desiderato na corte.
No atual governo, com status de secretario, Sérgio Cardoso é bate-pau: nas redes, nos bastidores, onde for preciso, contra quem quer que seja, na hora que precisar, Marconi sabe que pode contar com ele.
Nessa toada, Iris e toda a oposição, que só se opõe ao próprio grupo, seguem como peça fundamental para que Marconi Perillo continue a se sustentar no poder.
Sim, estamos em um Estado de Emergência.