05 de dezembro de 2025
DEDICAÇÃO AO PLANO

Julgamento no Supremo revela movimentação golpista dos kids pretos até nas férias em Goiânia

Militares de elite lotados em Goiânia são acusados de tramar sequestros e mortes de autoridades; mesmo durante férias dois deles continuaram agindo
Oficiais da elite, os cinco kids pretos que se envolveram na trama começaram a ser julgados nesta terça - Foto: arquivo / reprodução / Exército
Oficiais da elite, os cinco kids pretos que se envolveram na trama começaram a ser julgados nesta terça - Foto: arquivo / reprodução / Exército

As férias de alguns dos oficiais do Exército chamados de kids pretos, que eram lotados em Goiânia, e que começaram a ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (11), foram em boa parte dedicadas à trama golpista. Essa é uma das informações que chamam a atenção no início do julgamento dos dez réus, cinco dos quais ex-integrantes da elite do Comando de Operações Especiais (COpEsp) do Exército, no Setor Santa Genoveva.

Os tenentes-coronéis Rafael Martins de Oliveira e Hélio Ferreira Lima, que foram apontados na denúncia como líderes da estratégia do chamado plano “Punhal Verde e Amarelo” – prevendo o sequestro e o assassinato das autoridades – tiraram férias entre novembro e dezembro de 2022, mas continuaram coordenando ações de campo e trocando informações com aliados logo após a derrota de Jair Bolsonaro, apurou a jornalista Malu Gaspar, do Globo.

Movimentação em Goiânia

Como vem mostrando o Diário de Goiás, com base na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) na época, alguns dos envolvidos que moravam próximos uns dos outros, na Vila Militar, alugaram carros de locadoras de Goiânia, compraram celulares em seus nomes e das esposas, organizaram documentos falsos (carteira de motorista, por exemplo), reuniram armas e outros itens necessários para o monitoramento dos “alvos” e, provavelmente, para a conclusão do plano: o assassinato do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro do STF, Alexandre de Moraes.

Disposição homicida e brutal, diz PGR sobre kids pretos

Ao ler a denúncia contra eles nesta terça, o procurador-geral da República, Paulo Gonet enfatizou que o grupo tinha “disposição homicida e brutal”

As investigações da Polícia Federal que alimentam a denúncia da PGR mostram que, Oliveira, chamado de Joe no círculo envolvido, articulava diretamente com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Ele chegou a usar um veículo oficial do Batalhão de Ações de Comandos para se deslocar entre Goiânia e Brasília nas missões de monitoramento durante o período de férias.

A PF aponta que ele e Ferreira Lima participaram de reuniões estratégicas na casa do ex-ministro Walter Braga Netto, onde o golpe teria sido estruturado.

O grupo dos réus desta terça responde por cinco crimes: organização criminosa armada; tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima.

R$ 100 mil em sacola de vinho era dinheiro do “pessoal do agro”

Ainda conforme investigação, Oliveira providenciou celulares descartáveis e R$ 100 mil para financiar o plano. O dinheiro, que segundo Cid foi bancado pelo “pessoal do agro”, teria sido entregue por Braga Netto em uma sacola de vinhos.

O projeto acabou sendo abortado em 15 de dezembro, após a falta de adesão do Comando do Exército.

Na denúncia, a PGR reiterou que a dupla liderou “ações de campo voltadas ao monitoramento e neutralização de autoridades públicas” e “contribuíram para o planejamento de um Golpe de Estado”. Listou também que eles empregariam técnicas militares e terroristas para eliminar Moraes, Lula e Alckmin

Dos cinco oficiais de elite que eram lotados em Goiânia e que fazem parte dos dez réus do grupo que começou a ser julgado nesta terça, apenas um assistiu o julgamento presencialmente no STF: Rodrigo Bezerra de Azevedo.

Integram o núcleo 3 os seguintes réus que passaram pela unidade de Goiânia:

  • Coronel Fabrício Moreira de Bastos
  • Coronel Márcio Nunes de Resende Júnior
  • Tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira
  • Tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo
  • Tenente-coronel Hélio Ferreira Lima

Também são julgados neste grupo 04 militares de outras unidades e 01 agente da PF

Militares:

  • General de Exército Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira
  • Coronel Bernardo Romão Corrêa Netto
  • Tenente-coronel Ronaldo Ferreira de Araújo Junior*
  • Tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliére de Medeiros

Agente da PF:

  • Wladimir Matos Soares

No caso de Ronald Ferreira Júnior, a PGR pediu a desclassificação dos cinco crimes dos quais o tenente-coronel era acusado. A Procuradoria qualificou a conduta de Júnior em incitação ao crime e, por isso, ele poderá negociar a assinatura de um acordo de não persecução penal.


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