As férias de alguns dos oficiais do Exército chamados de kids pretos, que eram lotados em Goiânia, e que começaram a ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (11), foram em boa parte dedicadas à trama golpista. Essa é uma das informações que chamam a atenção no início do julgamento dos dez réus, cinco dos quais ex-integrantes da elite do Comando de Operações Especiais (COpEsp) do Exército, no Setor Santa Genoveva.
Os tenentes-coronéis Rafael Martins de Oliveira e Hélio Ferreira Lima, que foram apontados na denúncia como líderes da estratégia do chamado plano “Punhal Verde e Amarelo” – prevendo o sequestro e o assassinato das autoridades – tiraram férias entre novembro e dezembro de 2022, mas continuaram coordenando ações de campo e trocando informações com aliados logo após a derrota de Jair Bolsonaro, apurou a jornalista Malu Gaspar, do Globo.
Movimentação em Goiânia
Como vem mostrando o Diário de Goiás, com base na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) na época, alguns dos envolvidos que moravam próximos uns dos outros, na Vila Militar, alugaram carros de locadoras de Goiânia, compraram celulares em seus nomes e das esposas, organizaram documentos falsos (carteira de motorista, por exemplo), reuniram armas e outros itens necessários para o monitoramento dos “alvos” e, provavelmente, para a conclusão do plano: o assassinato do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Disposição homicida e brutal, diz PGR sobre kids pretos
Ao ler a denúncia contra eles nesta terça, o procurador-geral da República, Paulo Gonet enfatizou que o grupo tinha “disposição homicida e brutal”
As investigações da Polícia Federal que alimentam a denúncia da PGR mostram que, Oliveira, chamado de Joe no círculo envolvido, articulava diretamente com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Ele chegou a usar um veículo oficial do Batalhão de Ações de Comandos para se deslocar entre Goiânia e Brasília nas missões de monitoramento durante o período de férias.
A PF aponta que ele e Ferreira Lima participaram de reuniões estratégicas na casa do ex-ministro Walter Braga Netto, onde o golpe teria sido estruturado.
O grupo dos réus desta terça responde por cinco crimes: organização criminosa armada; tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima.
R$ 100 mil em sacola de vinho era dinheiro do “pessoal do agro”
Ainda conforme investigação, Oliveira providenciou celulares descartáveis e R$ 100 mil para financiar o plano. O dinheiro, que segundo Cid foi bancado pelo “pessoal do agro”, teria sido entregue por Braga Netto em uma sacola de vinhos.
O projeto acabou sendo abortado em 15 de dezembro, após a falta de adesão do Comando do Exército.
Na denúncia, a PGR reiterou que a dupla liderou “ações de campo voltadas ao monitoramento e neutralização de autoridades públicas” e “contribuíram para o planejamento de um Golpe de Estado”. Listou também que eles empregariam técnicas militares e terroristas para eliminar Moraes, Lula e Alckmin
Dos cinco oficiais de elite que eram lotados em Goiânia e que fazem parte dos dez réus do grupo que começou a ser julgado nesta terça, apenas um assistiu o julgamento presencialmente no STF: Rodrigo Bezerra de Azevedo.
Integram o núcleo 3 os seguintes réus que passaram pela unidade de Goiânia:
- Coronel Fabrício Moreira de Bastos
- Coronel Márcio Nunes de Resende Júnior
- Tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira
- Tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo
- Tenente-coronel Hélio Ferreira Lima
Também são julgados neste grupo 04 militares de outras unidades e 01 agente da PF
Militares:
- General de Exército Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira
- Coronel Bernardo Romão Corrêa Netto
- Tenente-coronel Ronaldo Ferreira de Araújo Junior*
- Tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliére de Medeiros
Agente da PF:
- Wladimir Matos Soares
No caso de Ronald Ferreira Júnior, a PGR pediu a desclassificação dos cinco crimes dos quais o tenente-coronel era acusado. A Procuradoria qualificou a conduta de Júnior em incitação ao crime e, por isso, ele poderá negociar a assinatura de um acordo de não persecução penal.
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