18 de novembro de 2024
Brasil • atualizado em 13/02/2020 às 09:18

JBS foi um dos negócios mais bem bolados do BNDES, diz chefe do banco

Presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro. (Foto: EBC)
Presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro. (Foto: EBC)

O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, afirmou nesta sexta (14) que o apoio à JBS “foi um dos negócios mais bem bolados e bem sucedidos” do BNDESPar, o braço de participações da instituição, que detém 21,3% das ações da companhia.

A declaração foi dada durante a divulgação do Livro Verde do BNDES, documento elaborado para defender as operações do banco nos últimos anos e, segundo o executivo, fazer uma “grande prestação de contas, diante de dúvidas suscitadas a partir do momento político”.

O banco é o maior acionista minoritário do frigorífico e, com apoio da Caixa Econômica Federal, pediu recentemente a convocação de uma assembleia de acionistas para discutir a gestão da empresa após a crise provocada pela delação de seus controladores Joesley e Wesley Batista.

Rabello de Castro disse que o objetivo é “discutir os rumos dessa gestão” e evitou defender o afastamento da família Batista do comando. Ele admitiu, no entanto, que o tema pode ser debatido na assembleia. Um outro foco de atuação do banco será “facilitar acordo com credores” para a dívida de curto prazo, disse ele.

“Estamos conscientes de que a empresa passa por momento delicado e quem mais sofre com com isso é o mercado de carnes, já que a falta de liquidez da empresa reduz sua capacidade de comprar”, comentou o presidente do BNDES.

O apoio ao frigorífico foi alvo da Operação Bullish, da Polícia Federal, em maio, que obteve mandados de condução coercitiva de 37 pessoas ligadas à JBS e ao BNDES.

Sem favorecimento

No Livro Verde, o banco sustenta que não houve favorecimento ao grupo dos irmãos Batista e que as operações com a JBS são lucrativas para o banco.

De acordo com o documento, a JBS recebeu 26% dos recursos do banco destinados a apoiar o setor de carnes entre 2005 e 2016. A Bertin, adquirida pela empresa dos Batista, recebeu outros 12%, mas antes da aquisição.

Já a BRF ficou com 16% e a Marfrig, com 14%, e outras empresas, com 32%. Ao todo, foram desembolsados R$ 31,2 bilhões para o setor.

“É pura fantasia dizer que aqui tem um sujeito que é amigo do rei e pediu preferência para determinada empresa”, afirmou Rabello de Castro.

O BNDES defende que, até o fim de 2016, o apoio à BNDES tinha um resultado positivo de R$ 3,560 bilhões: o banco injetou R$ 8,110 bilhões na empresa, já recebeu R$ 1 bilhão em dividendos e outros R$ 4,040 bilhões com a venda de ações.

No fim de 2016, o valor da fatia na empresa valia R$ 6,631 bilhões. O valor, porém, foi reduzido com a queda no preço das ações após a delação. Rabello de Castro diz, porém, que o banco não terá prejuízo com isso porque não pretende vender os papeis agora.

Cuba

Entre as operações questionadas pelo mercado, o relatório dá destaque também ao financiamento de bens e serviços para exportações, produto que foi remodelado após a entrada da ex-presidente Maria Silvia Bastos Marques em maio de 2016.

Alguns contratos assinados por empresas investigadas pela Operação Lava Jato chegaram a ser suspensos. O banco diz que, em 20 anos de atuação, apenas um projeto de financiamento à exportação registrou atrasos nos pagamentos: o contrato do Aeroporto de Nacala, em Moçambique.

“Os financiamentos às exportações de serviços de engenharia realizados pelo banco entre 2007 e 2015 movimentaram uma rede de 4.044 fornecedores no Brasil”, defende o documento, calculando que o número de empregados nessas empresas subiu de 402 mil em 2007 para 788 mil em 2014.

O texto destaca projetos em Angola e em Cuba. Na ilha caribenha, diz, os empréstimos garantiram a exportadores brasileiros “acesso a um mercado restrito e com dificuldades de obtenção de crédito”.

PSI

No Livro Verde, o BNDES faz uma crítica ao Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado pelo governo Lula após a crise internacional de 2008 e responsável pelos aportes de R$ 440,8 bilhões do Tesouro no banco entre 2008 e 2014.

“Diante dos resultados macroeconômicos na presente década, e considerando o elevado montante dos recursos envolvidos (…) é forçoso hoje reconhecer que parte do programa não atingiu, em sua plenitude, o objetivo de manter a trajetória da Formação Bruta de Capital Fixo (FCBF) em patamares elevados no Brasil.

Para Rabello de Castro, os dados mostram que o programa deveria ter sido encerrado em 2011, já que não produzia mais efeitos de arraste de outros investimentos. Em 2009, por exemplo, cada real desembolsado no PSI gerava R$ 1,18 em investimento. Em 2010, esse número caiu para R$ 0,58.

Ainda assim, Rabello de Castro argumenta que o aporte líquido do Tesouro no banco foi menor, considerando que o banco retorna ao Tesouro impostos e dividendos. Entre 2006 e 2016, diz o documento, o banco recebeu, em valores atualizados, R$ 1,025 trilhão e devolveu R$ 866,220 billhões. 

TLP

Rabello de Castro disse que a polêmica envolvendo declarações suas a respeito da TLP foi um mal entendido e que não defende mudanças na taxa criada pelo governo para substituir a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo).

“Não foi crítica alguma, a gente [no Brasil] está muito ansioso”, reclamou, dizendo que apenas tentava explicar “uma coisa óbvia” no cálculo da nova taxa: que, por refletir o custo de captação do Tesouro no mês anterior, pode ter variações mais bruscas dependendo do momento político e econômico.

As declarações levaram ao pedido de demissão de dois diretores do banco, Vinícius Carrasco e Claudio Coutinho -este será substituído pelo ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas.

“O BNDES é executor de política econômica. Não temos que ficar pensando exageradamente, a não ser que sejamos chamados a pensar”, disse. (Folhapress)

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