Em uma mudança de estratégia, o empresário e ex-prefeito de Trindade, Jânio Darrot (MDB), decidiu falar, e muito, sobre a investigação que levou ao bloqueio de bens e quebra de sigilo bancário e telefônico. Desde terça (13), quando conversou com o Diário de Goiás e outros veículos, ele concedeu diversas entrevistas para reforçar que não se deixou abalar e vai continuar pré-candidato “até quanto o governador Ronaldo Caiado quiser”.
Jânio se lançou em uma disputa com aliados de Caiado para ser o escolhido da situação na corrida ao Paço Municipal em 2024. Por isso, a investigação é vista como um atropelo grave. Nesta quarta (14) ele convidou a equipe do DG para novamente detalhar o ocorrido e anunciar sua decisão de não se intimidar.
Altair Tavares: Qual a principal linha de defesa sobre esta situação jurídica complexa, envolvendo a licitação de uma máquina de seu funcionário como vencedor?
Jânio Darrot – Agradeço a oportunidade de esclarecer tudo isso. Essa licitação foi totalmente aprovada pelo TCM (Tribunal de Contas dos Municípios). Na época, todas as regras da legislação foram observadas, o chefe da licitação fez o processo obedecendo todos os trâmites legais. Foi uma licitação muito pulverizada, então havia em torno de 80 empresas participando da licitação e em torno de 60 empresas que foram contempladas no certame. E o Leonardo (o funcionário) era uma dessas 60 empresas com uma máquina que ele tinha. Ele tinha aberto o Cnae para prestar serviços para a Nova Moda Confecções (grupo de Jânio Darrot) onde é gerente e trabalha há quase 40 anos. Ele montou empresas de acabamento (em confecção). Em 2013, ele alterou o Cnae e, junto com o genro, compraram uma pá mecânica a prestação e entraram no processo licitatório, ganhando entre as 60 vencedoras. Ele prestou o serviço. Temos toda a documentação que demonstra a legalidade, impessoalidade, não houve direcionamento de licitação. Estamos provando isso nos autos, com os documentos.
Marília Assunção: o senhor poderia explicar o que está acontecendo então, na sua opinião?
Jânio Darrot – Vejo com estranheza isso (a investigação) 11 anos depois que saí da prefeitura, sobre uma licitação do primeiro ano do meu primeiro mandato, em 2013. No meu segundo mandato, de 2017 a 2020, também tive todas as contas aprovadas pelo TCM. Não temos nenhuma ressalva, nunca respondi ou fui questionado pela Justiça. Sempre procurei mostrar a lisura e demonstrar a transparência na administração pública. Então é interessante, por que justamente agora, em que estou me colocando como candidato? Provavelmente, acredito que possa ser coincidência, mas o mais importante é que eu possa comprovar a lisura. Isso, inclusive, independe de candidatura. Estou preocupado é em mostrar nossa lisura, como sempre trabalhei.
Altair Tavares: Mas, querendo ou não, a energia que o senhor dispende nesse processo de investigação, não pode ser gasta na pré-candidatura. De certa forma uma coisa prejudica a outra?
Jânio Darrot – Com certeza. É óbvio. Causa espanto. Causa ranhura nessa candidatura. Suscita dúvidas, inclusive sobre a viabilidade. Afinal, como vai ser o desdobramento disso aí? É por isso que espero que a Polícia Civil possa se pronunciar e finalizar as investigações, o inquérito o mais rápido possível, seja alguma coisa para indiciamento ou para arquivar logo o caso. É lógico que é desconfortável e dificulta o processo.
Altair Tavares: O tempo da Polícia é diferente do calendário eleitoral. O senhor teme que essa conclusão demore muito e ultrapasse os momentos do processo eleitoral?
Jânio Darrot – É lógico que a gente fica ansioso para que tudo se esclareça o mais rápido. Até porque não existe dolo, não existe má-fé, nem fraude, ilicitude, improbidade, nada nessa linha. Acredito na Justiça e na Polícia Civil de Goiás que não se possa levar a uma conclusão diferente da verdade.
Marília Assunção – O que o senhor acha que levou a essa situação? Faltou cautela já que a empresa pertenceu às suas filhas e foi transferida para ele?
Jânio Darrot – Quando essa empresa foi aberta eu nem era prefeito. Ela era para ser uma empresa prestadora de serviços. O Leonardo assumiu porque era o gerente geral, aí ele assumiu e colocou a família dele para prestar serviço para nossa empresa. Nem lembro como foi, não havia problema ele assumir. Aí, em 2011, passamos a empresa para ele. Em 2013, era outra situação. Ele foi participar da licitação estimulado pela família. Eu (já prefeito) sabia e perguntei aos chefes da Licitação e de Controle Interno da Prefeitura na época se era legal. Não foi visto ilegalidade alguma. Resta provar que não era uma empresa de fachada, que não era para mim que ele estava (a serviço). Eu jamais compraria uma máquina para alugar em nome de outra pessoa para a prefeitura. Além de ser pequeno, não é minha índole, meu perfil.
Marília Assunção – Quais fatos novos o senhor acha que levaram ao desarquivamento do caso?
Jânio Darrot – Não sei. Meus advogados é que estão olhando. O mais importante nesse momento é eu demonstrar, provar perante a lei, a Justiça, a sociedade, aqueles que estão esperando uma resposta para isso tudo. Mas é inegável o prejuízo que isso está causando na nossa candidatura. Estávamos trabalhando para colocar nosso nome, jamais pensando que 11 anos depois algo assim iria ser discutido.
Marília Assunção – Quando o senhor foi prefeito de Trindade, sofreu algum processo de investigação como esse?
Jânio Darrot – Não. Nem investigação, nem inquérito, nenhuma dúvida suscitada em oito anos.
Altair Tavares – Todas as suas contas foram aprovadas?
Jânio Darrot – Todas foram aprovadas pelo TCM. Inclusive o Tribunal deu nota 9,5 pela transparência da Prefeitura.
Altair Tavares – Um senão que pode aparecer, é que no vínculo entre o senhor e Leonardo haja alguma relação de benefício. Existe esse risco?
Jânio Darrot – Não. Os sigilos bancários dele, meu e da minha esposa foram quebrados. As contas foram bloqueadas. Vai ficar demonstrado que todos os pagamentos da Nova Moda (Grupo Jean Darrot, pertencente ao empresário) para a Inovar (pertencente a Leonardo Santos da Costa) foram pela prestação de serviços. A Inovar prestava o serviço e emitia a nota para receber. A Nova Moda nunca recebeu, só o contrário (risos).
Altair Tavares – Diante de tudo isso, sua família tem dito para o senhor desistir da pré-candidatura?
Jânio Darrot – Jamais eu me retiraria nesse momento. Eu quero muito disputar essa prefeitura para provar nossa capacidade de gestão, nossa lisura, nossa transparência. Jamais eu correria, ficaria com medo. Não vou me encolher de maneira alguma. Mas o processo passa pelas mãos do governador Ronaldo Caiado. Foi por lá que tudo começou, então a decisão final é dele. Quero que ele fique a vontade na hora de decidir isso, se for o caso de dizer que não é possível mais que não tem viabilidade minha candidatura. Se eu tiver oportunidade do governador, vou disputar, fazer política com a verdade e com transparência e zelo pela coisa pública.
Marília Assunção – Por falar no governador, ele procurou o senhor após a busca e apreensão? Alguém procurou por solidariedade?
Jânio Darrot – Várias pessoas demonstraram solidariedade. Sei que o governador está extremamente chateado com essa situação. Mas no momento, depois que entendi o que aconteceu, eu é que estou procurando atender todos os veículos de comunicação para falar sobre a verdade dos fatos. Estou vivendo um dia depois do outro. Em ano de política é bem assim. Vou em frente até a definição do governador. Se ele comprar essa briga comigo, vamos trabalhar para ter êxito.
Marília Assunção – E qual é o tempo certo para o senhor avançar com sua pré-candidatura diante desses fatos novos?
Jânio Darrot – O tempo é do governador. Sempre deixei ele a vontade para o momento em que estiver tudo certo na base aliada, aglutinando todos os apoios e até mais que nas eleições de 2022.
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