Cidades

Interrupção de fala ainda é barreira a ser vencida por mulheres

A interrupção ao direito de fala ou manifestação feminina, seja no ambiente de trabalho, roda de amigos ou até mesmo em casa, é uma situação recorrente, por nome “menrupting” ou o mais conhecido, “manterrupting”. O assunto ganhou repercussão quando, no dia 2 fevereiro, a vereadora Camila Rosa (PSD), de Aparecida de Goiânia, teve o seu microfone cortado durante discussão sobre cotas femininas com o presidente da Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia, André Fortaleza (MDB).

Uma pesquisa feita pela Universidade George Washington, e depois por Kieran Snyder, PhD em linguística e líder de equipes na Microsoft e Amazon, mostrou que mulheres não avançam em suas carreiras a partir de certo ponto se não aprenderem a interromper ao menos em um ambiente de tecnologia dominado por homens. De acordo com a psicóloga Adriane Garcia de Paula, existe um processo de aprendizado social que beneficia o pessoas do sexo masculino e que é reforçado e normatizado pela sociedade, pelo fato de não haver um processo de consciência dos aspectos maléficos desse aprendizado.

Adriane Garcia. Foto: Arquivo Pessoal

“Não costumamos avaliar ou criticar o que nos foi entregue como aprendizado na nossa infância e juventude. Nossa fase adulta não é, muitas vezes, reflexiva e sim piloto automático, repetindo todos os hábitos aos quais tivemos acesso e não questionamos sobre sua validade, eficácia e/ou funcionalidade”, pontua a profissional. “O primeiro sinal de que há algo errado é compreender que equalizar os processos de representatividade significa se preocupar, sim, com o tempo de fala. O segundo é explorar melhor os fundamentos do seu pensamento, que a impeça de perceber que ela é uma pessoa importante, de valor e que não precisa se rebaixar por situações que julga ser inferior”, acrescenta.

A psicóloga, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, explica, no entanto, que se impor perante essas situações de interrupção pode não ser o melhor caminho. “Se impor nem sempre pode trazer resultados satisfatórios, mas se posicionar pode ser bastante reflexivo”, diz. Diante da afirmativa, Adriane Garcia ressalta que a melhor maneira de agir nesses momentos é se posicionar, de forma firme, “colocando seu sentimento em relação àquele processo e dizendo ao outro qual seria a melhor forma de ser assertivo”.

O caso de Camila Rosa, entretanto, é considerado crime político e é analisado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) com base na Lei federal nº 14.192, de 4 de agosto de 2021, referente aos atos do Poder Legislativo, que em seu artigo terceiro diz ser considerada “violência política contra a mulher toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos da mulher”. Camila é a única parlamentar do sexo feminino entre os 25 vereadores em exercício em Aparecida de Goiânia e seu caso foi o primeiro crime político contra a mulher registrado em Goiás.

Apesar de o crime ser considerado novo, a advogada eleitoral Anna Raquel ressalta que tais atitudes são recorrentes no âmbito do Poder Público. “Foi o primeiro registrado oficialmente pela ouvidoria da mulher no Estado de Goiás”, afirmou a profissional. “O simbolismo é grande. Não é uma situação da qual nenhuma mulher possa se orgulhar. Foi cometido um crime contra a vereadora enquanto parlamentar, contra o eleitorado e a democracia. Mas é icônico. Ela como representante das mulheres, que são ainda consideradas maioria minorizadas”, destacou, em entrevista ao Diário de Goiás.

“É icônico, porque nós estamos no segundo estado mais violento contra as mulheres, num país que é considerado o quinto mais violento contra as mulheres no mundo e é a primeira denúncia oficialmente registrada na ouvidoria da mulher no Estado de Goiás. Então não deixa de ser, infelizmente, um fato que vai servir de exemplo na luta das mulheres contra essa violência política de gênero. Porque se trata de uma conduta antiga. O crime pode ser novo, mas a conduta é antiga. As mulheres já sofrem há muito tempo nos espaços de poder”, ressaltou a advogada.

Adriane Garcia salienta que as formas de evitar que esses maus comportamentos se perpetuem nas próximas gerações. “É papel dos pais ensinar a normalidade e a igualdade no tratamento dos semelhantes. Não se trata de uma questão de gênero e, sim, de uma questão de humanidade. Tratar o outro com respeito é o princípio básico para tratarmos as mazelas sociais”, ressalta a especialista.

Redação / Diário de Goiás

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