O padrão de uso das redes sociais nas campanhas eleitorais mudou. Nas eleições 2024, algumas plataformas, como o X (antigo Twitter) perderam espaço para outros meios, mas a televisão ainda tem grande influência. O especialista, sócio da Métis Consultoria, Luís Carlos Fernandes, aponta a relevância das redes sociais nas campanhas e a mudança no padrão de uso de cada plataforma.
Veja a entrevista na íntegra:
Altair Tavares: Não percebi reclamações da ausência do ex-Twitter nessa campanha eleitoral. Por que não fez diferença? Porque ele realmente perdeu importância no debate eleitoral e também na propaganda e na contra-propaganda que dizem, muitos analistas têm dito isso, que o TikTok é muito mais eficiente?
Luíz Carlos Fernandes: Eu não sei falar do TikTok, eu não conheço bem, não estudei bem, mas assim, o Twitter eu fiz, eu estudei meu doutorado, eu estudei quatro anos o Twitter, quando ainda era Twitter. O fato é que a mudança de propriedade do Twitter atrapalhou bastante. O atual proprietário é muito envolvido com grupos mais radicais da direita, ele toma muito partido, intervém na gestão, de tal forma que o prestígio caiu consideravelmente, inclusive, há quem diga que o investimento para os bancos que ajudaram ele a comprar tem sido um desastre financeiro. De qualquer forma, o Twitter mudou. O Twitter que eu estudei em 2010 era um Twitter que era um espaço de debate com o público politizado, formadores de opinião, jornalistas, publicitários, relações públicas, políticos, e por aí a fora, debatiam no Twitter.
Mas, ele também era um lugar onde você podia linkar todas as outras redes sociais e era um espaço onde você, inclusive, podia antecipar fatos. O Marconi anunciou a candidatura dele para governador da segunda vez no Twitter, em vez de falar com a imprensa. Então, era um outro Twitter, tinha o respaldo e o prestígio de nome. Ele foi perdendo isso e, ultimamente, ele tem servido para a polarização, para debates polarizados, para agendar a imprensa, porque a imprensa acompanha os candidatos, os nomes no Twitter, basicamente para isso. Então, acho que ele foi perdendo o prestígio e, hoje, eu acho que, mesmo que ele volte, só não acabou, eu acho, a avaliação que eu faço, é porque não tem um concorrente do mesmo tipo. Mas, na hora que tiver, eu acho que ele vai perder totalmente esse espaço. Imagino eu.
Altair Tavares: Agora, o senhor vai ter que fazer um novo doutorado, analisando o WhatsApp e os grupos em municípios pequenos.
Luíz Carlos Fernandes: Eu fiz uma pesquisa agora em Rondônia, e nessa cidade que eu estou fazendo a campanha, ela é particular, porque a cabeça de rede não está sendo a Globo, está sendo o SBT. Aí você pergunta, nenhum terço está assistindo a propaganda eleitoral, nem um terço do eleitorado. Onde é que eles estão vendo? Nas redes sociais e no WhatsApp.
Altair Tavares: Sim, eu ia dizer que nós temos o horário eleitoral da rede social.
Luíz Carlos Fernandes: Sim. Eu acho que o eleitor está mais vendo política nas redes sociais do que na própria televisão. A televisão sempre teve um pico e um vale, então ela começa alta e vai caindo, e depois ela sobe. Só que é uma audiência, no horário das nove, quarenta milhões de pessoas assistindo. Não tem nenhuma rede social que dá conta disso. Mas eu acho que agora ela está caindo.
Altair Tavares: E o fato que os novos instrumentos de comunicação estão sendo utilizados cada um de uma forma. O fator Pablo Marçal com a questão Instagram e compartilhamento, mudou isso?
Luíz Carlos Fernandes: Sim, mas o fator Pablo Marçal, eu queria fazer um ponto que eu acho importantíssimo. O debate político, onde todos os candidatos, todos não, os principais candidatos estão presentes, ele está cada vez se transformando num ponto crucial da campanha. Eu acho que Pablo Marçal destacou muito mais a presença dele de forma errada, lógico, de forma ruim nos debates, do que propriamente nas redes sociais. Porque uma coisa leva a outra. Ele se popularizou, talvez, muito mais pelo debate na televisão onde estão os outros candidatos e tal, do que propriamente pela rede social.
Porque o eleitor tende a não dar importância àquilo que ele não considera, que ele não conhece. Então, eu posso impulsionar o tanto que eu quiser, o cara simplesmente me bloqueia, me tira e não me leva a sério. Outra coisa: o agendamento da imprensa também. A imprensa tem um papel forte nessa subida do Pablo Marçal. A imprensa agenda e enquadra o debate político independente da racionalidade do eleitor. Quem fala isso não sou eu, não. Quem fala isso é um cientista político importante. A imprensa enquadra e agenda, o debate político, independente da racionalidade. E ela deu muito espaço para o Pablo Marçal.