Rir ainda é considerado por muitos como o melhor remédio. E existem aqueles capazes de levar o riso e a diversão como um reflexo puro das vivências do dia a dia. Eles são os atores da vida real, que buscam no humor fazer com que o público se identifique com as situações sobre si mesmos e sobre o meio em que vivem. Esses atores ocupam hoje um destaque nas redes sociais, com números de seguidores surpreendentes.
Como é o caso do influenciador Isaías, hoje com 8,8 milhões de seguidores ele compartilha e diverte a sua audiência com situações que geram uma conexão com o público. “O principal fator de identificação é justamente porque eu pego coisas que as pessoas acreditam que só elas fazem. E na hora que ela vê um vídeo sobre aquilo que ela jurava que era uma coisa exclusiva dela, ela se identifica e tem a sensação tipo: ‘Putz, fui descoberta, eu preciso compartilhar’”, explica Isaías em entrevista exclusiva ao Diário de Goiás.
Ele conta que teve a ideia de reproduzir as cenas (Como a do vídeo acima), quando entendeu que: “A gente só acha graça daquilo que a gente se identifica. Ou você vai assistir porque é uma situação realmente engraçada, ou você vai sentir uma graça no desconforto, na vergonha alheia. Então, foi estratégico”, afirma o influenciador que reforça que também é uma forma de ironizar as escolhas das pessoas.
Ele afirma reconhecer o impacto positivo que o riso proporciona para uma sociedade protagonizada por conflitos e tensões diárias. “A risada ela entra num lugar em que a gente nem sabia que a gente tinha. É um lugar de descontração, é um alívio mesmo, um fôlego. Ainda mais no tempo que a gente tá vivendo. As pessoas têm um sentimento muito bom e é isso que eu gosto de levar para as pessoas”.
Eu levo isso comigo de que se você fazer uma pessoa rir, ela vai lembrar de você para o resto da vida!
Isaías
Você já conheceu uma pessoa que tem uma risada contagiante que não resta outra alternativa a não ser rir também? Essa é a proposta da goiana Ari Reis, influenciadora que se denomina como ‘a contadora de histórias da vida real’. Hoje, com 1 milhão de seguidores, Ari leva o riso aos seus seguidores com base em vivências da mulher moderna. Simples conversas por áudio com as amigas fez com que a humorista alcançasse números expressivos nas redes.
“Os áudios aconteceram de uma forma muito natural. No início eu mandei para uma amiga minha contando como tinha sido meu encontro. E sempre quando eu conto alguma coisa, vem a risada. Eu quero passar toda a emoção e a parte engraçada. Aquela “lâmpada” acendeu quando decidi começar a trazer todos os meus encontros. Comecei a buscar todas as minhas outras conversas com as minhas amigas, em que eu conto alguma história e comecei a postar”, relembra Ari sobre o seu começo na internet.
Atualmente ela não conta apenas as suas histórias, ela se tornou uma verdadeira porta-voz das mulheres com encontros desastrosos, mas que rendem boas risadas. “As mulheres solteiras querem viver a vida, querem curtir. Então, hoje eu recebo muitas histórias de mulheres querendo que eu conte a história delas. Eu acho que elas têm medo de serem julgadas. E a identificação acontece por eu ser a mulher que teve coragem de falar dos seus encontros para o Brasil, para o mundo”, explica a comediante.
Como o Paulo Gustavo dizia, rir é um ato de resistência. Quando você ri, você esquece de muitos problemas. Por alguns segundos, você esquece que que tem uma vida, que você está passando por momentos tão difíceis. Então o rir, ele te eleva para outro patamar.
Ari Reis
A humorista reconhece que a profissão de humorista vem crescendo e sendo reconhecida. Para ela, a sociedade tem uma carência de rir e levar uma vida mais leve. “Com certeza eu amo o que eu faço e é prazeroso saber que isso tem impactado na vida das pessoas. Recebo relatos de gente que teve depressão, crise de ansiedade, crise de pânico, e que a minha risada acalmou essas pessoas. Para mim isso não tem preço”, conta Ari.
“O riso libera endorfinas, que nos deixa mais felizes, bem como outros hormônios que promovem a redução do estresse, além de fortalecer os relacionamentos sociais”. É o que afirma Ana Cláudia Carvalho, coordenadora de psicologia da Estácio Goiás. A especialista afirma que a liberação desses hormônios trazem sentimentos de alegria, com maior nível de conexão social, aumentando a positividade e a criatividade.
Ela também conta que há uma explicação sobre a identificação de tantas pessoas com os conteúdos que são reflexo do cotidiano. “Quando um ator reproduz o comportamento comum ao nosso cotidiano, isso nos aproxima, gera aproximação e conexão. O psicólogo social Henry Tajfel realizou estudos a respeito do comportamento humano ao se vincular com determinados grupos sociais, bem como da necessidade de pertencimento. Desse modo, o riso pode conectar as pessoas e é uma excelente saída para desabafarmos situações difíceis de maneira mais leve”, conclui.
Em entrevista, a especialista destaca que vê essa tendência como algo positivo. “Nos dias de hoje, um dos motivos do aumento de adoecimento psíquico se deve às comparações que as pessoas em relação às outras. Portanto, acessar conteúdos reais, engraçados, nos gera um sentimento de pertencimento, de identificação”, conta Ana Cláudia.
A vida em si é a grande fonte de ideias desses artistas. O repertório é diversificado e até mesmo é entregue pelo próprio público, como é o caso da Ari. Porém, o bloqueio emocional, inerente a todo o ser humano, faz com que eles estabeleçam limites. “Tem dias que eu não tô bem. Quando eu não estou bem, eu pego uma história que é boa e guardo. Digo: ‘Você tem um grande potencial, mas hoje eu não tô bem, hoje não dá para criar em cima de você’. E é normal, vão acontecer esses bloqueios”, conta Ari em entrevista ao Diário de Goiás.
Isaías, da mesma forma prioriza respeitar os seus bloqueios e ter uma rotina mais saudável para exercitar sua criatividade. “Quando eu tô muito inspirado, eu tento escrever o máximo de ideias possíveis. E quando eu não tenho ideias, procuro as ideias já escritas e eu aciono elas. Mas o bloqueio emocional vem quando não estou bem, ou estou estressado ou dormi mal”, compartilha o influenciador.
A psicóloga Ana Cláudia conta que é possível respeitar esse momento sem perder a conexão do dia a dia com o público. “Precisamos mostrar que somos reais, com problemas, alegrias, tristezas. É preciso fazer pausas para estimular a criatividade, então o desafio é conseguir se respeitar em nossos momentos, mostrando assim, nossa humanidade. Mas é preciso ter cautela, pois precisamos também valorizar os momentos que não estamos online, ou seja, precisamos cuidar da vida que acontece além das redes sociais”, finaliza.