Representantes da Igreja Católica procuraram a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) ainda em setembro do ano passado para expressar preocupação com os valores movimentados pela Associação Filhos do Divino Pai Eterno (Afipe), liderada pelo Padre Robson Oliveira.
De acordo com o secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda, religiosos de Goiás levaram o tema ao Vaticano. “A Igreja Católica é vítima. As notícias chegaram ao Vaticano por religiosos de Goiás, levantando essa suspeição”, disse à Rádio Bandeirantes em Goiânia.
Miranda afirmou que a investigação revelou que somente duas das três Afipes movimentaram cerca de R$ 2,2 bilhões nos últimos dez anos. O valor, no entanto, pode ser de até R$ 10 bilhões. “Há a suspeição de que esse número possa ser de quatro a cinco vezes maior nesse período de dez anos. Seria mais de R$ 1 bilhão por ano”, conta. “É um número absurdo, que merece atenção”, completa.
Segundo o secretário, as aplicações desses valores, em compras de imóveis, aviões e outros bens “desviam da finalidade, que seria evangelização e construção da Basílica”. “Essas aquisições, no entender dos investigadores, não têm nada a ver com essa finalidade”, pontua Miranda.
A investigação agora analisa informações coletadas na operação da semana passada. Miranda diz que um ponto crucial da é descobrir de onde vem o dinheiro. “O Vaticano nos procurou e disse que é impossível uma paróquia arrecadar esse volume de recursos. Aparecida (do Norte, em São Paulo) recebe muito mais fiéis e romeiros e não chega a um milésimo do que se arrecada em Trindade”, frisa. “Mesmo se o Brasil todo resolvesse contribuir, não chegaria nem perto desse valor que foram movimentados. É isso que temos que entender e esclarecer”, completa.
O secretário reforça ainda que não é a Igreja Católica a investigada. “É um grupo que está sendo beneficiado com esses recursos”, cita. Miranda diz ainda que os próprios fiéis são vítimas e garante que todos os investigados terão direito à ampla defesa. “Tomara que não seja o que estamos pensando, mas todos os indícios apontam para isso”, finaliza.
Defesa
Ao Diário de Goiás, a defesa do Padre Robson afirmou que “não houve” desvio de finalidade na execução dos recursos arrecadados pelas Afipes. Sobre o valor movimentado pelas associações, segundo o secretário de R$ 2,2 bilhões, a defesa disse que somente teve acesso ao inquérito próprio (PIC) do Ministério Público na segunda-feira (24).
A defesa atestou ainda que as Afipes jamais cometeram irregularidades nas movimentações. “A associação sempre se pautou na legalidade, que incondicionalmente conduziu todas as suas movimentações”. Os advogados também negam que exista qualquer ilicitude na origem do dinheiro, como suscitado pelo secretário.