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Categorias: Cidades
| Em 13 anos atrás

Goiás lidera o ranking nacional no tráfico de pessoas

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A informação é do juiz Rinaldo Aparecido, que esta semana coordena em Goiânia simpósio internacional sobre o tema

 

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Os números assustam. Em entrevista ao Diário do Norte, o juiz Rinaldo Aparecido Barros conta que, segundo dados da ONU, hoje o Brasil é considerado o sexto país em número de casos de tráfico de pessoas, Goiás lidera o ranking nacional há mais de dez anos, a Região Norte é um dos principais eixos do tráfico no Estado e o crime é considerado a terceira atividade criminosa mais lucrativa do mundo. Com o objetivo de orientar e prevenir, será realizado em Goiânia, nos dias 14 e 15 de maio, na sede da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego), o Simpósio Internacional para o Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. O evento promete reunir mais de cinquenta instituições públicas e privadas que estão envolvidas no combate e prevenção ao problema.

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Diário do Norte – Quem idealizou o evento?

Rinaldo Aparecido Barros – Esse evento é produzido pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo Tribunal de Justiça de Goiás, num termo de cooperação que foi firmado em maio do ano passado.

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DN – Qual é o objetivo do Simpósio?

Rinaldo – Despertar a atenção da sociedade goiana e também da sociedade brasileira para o grave problema do tráfico de pessoas que atinge, anualmente, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 2,5 milhões de pessoas e é considerada hoje a terceira atividade criminosa mais lucrativa do mundo, movimentando cerca de 32 bilhões de dólares por ano. Perde somente para o tráfico de drogas e tráfico de armas.

Queremos reunir instituições para fazer o enfrentamento direto ao tráfico de pessoas mas, atacando sobretudo, o eixo da prevenção. Nós temos que alertar a população, sobretudo, nossas crianças e adolescentes para que não caiam nas redes do tráfico.

DN – Quem é o público alvo do evento?

Rinaldo – Juízes, promotores, membros do Ministério Público nas instâncias Estadual e Federal, Ministério Público do Trabalho, policiais rodoviários federais, policiais federais, militares, civis, delegados de polícia, membros do Conselho Tutelar, do Conselho de Segurança, professores, psicólogos. O Simpósio contará também com a participação de seis Embaixadas: França, Itália, Suíça, Espanha, Portugal e Estados Unidos. São Embaixadas de países que normalmente são destinos de vítimas levadas para fins de exploração sexual e trabalho escravo.

DN – Qual é o quadro no Brasil desse tipo de crime?

Rinaldo – O Brasil hoje é considerado o sexto país em número de casos de tráfico de pessoas, tanto de pessoas que saem do Brasil quanto no caso de pessoas que chegam no Brasil. A Polícia Federal estima que existam hoje, cerca de 75 mil pessoas, a grande maioria mulheres, em situação de tráfico para fins de exploração sexual. O número, no mundo, chega a quase 2 milhões e meio de pessoas, por ano. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que no Brasil ainda existam de 25 a 40 mil pessoas em situação de trabalho escravo. Os números são grandes e acreditamos que podem ser muito maiores porque há uma subnotificação dos casos. Por receio da rede de tráfico, as vítimas acabam não denunciando, as famílias também ficam amedrontadas. Infelizmente temos informações de que esse número pode ser muito maior.

DN – Goiás está no eixo do tráfico de pessoas?

Rinaldo – Infelizmente, sim. No caso do tráfico de pessoas para fins de exploração sexual, Goiás lidera o ranking nacional há mais de dez anos. Dessas 75 mil pessoas, estima-se que quase metade seja de goianos, principalmente goianas, e o que mais assusta é que em mais de 90% dos casos, essas pessoas têm consciência de que estão indo para fins de exploração porém, elas não têm informação das condições que encontrarão no destino.

DN – Como costuma ser a vida de uma vítima do tráfico para fins de exploração sexual?

Rinaldo – Na maioria das vezes elas são submetidas a cárcere privado, têm os documentos apreendidos, chegam com dívidas altíssimas porque, são normalmente pessoas da classe C, D e E, baixa renda, baixa escolaridade. Essas vítimas mulheres têm entre 18 e 30 anos, normalmente tem um filho, e saem com a ilusão de que vão ganhar dinheiro com a prostituição fora do País e com isso vão ajudar a família. Acontece que, quando chegam no destino, elas são impedidas de ter qualquer contato com os familiares, não podem ter qualquer comunicação externa, são submetidas a uma exaustiva jornada de programas sexuais, chegam às vezes a até dez programas por noite, e são obrigadas a ingerir drogas e bebidas alcoólicas para suportar essa rotina. Segundo a Polícia Federal, atualmente essas quadrilhas estão cada vez mais agressivas e essas vítimas estão sendo descartadas, ou seja, estão sendo assassinadas após um longo período de uso.

DN – A Região Norte de Goiás está no eixo do tráfico de Pessoas?

Rinaldo – Infelizmente a Região Norte é um dos principais eixos do tráfico. Temos notícias que cidades como Niquelândia, Uruaçu, Porangatu, cidades do Vale do São Patrício, são áreas preferenciais dos traficantes. Já se criou em algumas dessas cidades uma cultura de sair do País para esse fim de exploração sexual e isso tem fomentado o tráfico de pessoas na Região Norte do Estado de Goiás.

DN – Isso preocupa as autoridades?

Rinaldo – Sim. Isso tem preocupado muitas autoridades e uma das razões as quais Goiânia foi escolhida para realização desse Simpósio é essa posição triste que Goiás ocupa no ranking nacional de vítimas de tráfico de pessoas.

DN – O que a população pode fazer para combater essa prática?

Rinaldo – A melhor forma de se enfrentar isso é com a educação. Nós estivemos no Conselho Estadual de Educação de Goiás sugerindo que fosse inserido na grade curricular uma disciplina de Direitos Humanos para que fossem abordados temas como tráfico de pessoas, pedofilia, homofobia, crimes de racismo e outros. Para que, a exemplo do que acontece com o Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência), que é um programa muito bem conduzido pela Polícia Militar, a criança, com 10 anos, já saiba dos riscos e não se deixe seduzir, no futuro, pelas redes de tráfico que, normalmente seduzem as vítimas com promessas de uma vida melhor.

DN – Deixe um recado para policiais e promotores da Região Norte.

Rinaldo – Eu deixo, não só para os promotores e policiais daquela região, onde trabalhei por cinco anos e que têm consciência desse problema. Mas para todas as pessoas que estão envolvidas na questão do tráfico de pessoas, não só no enfrentamento, mas na prevenção: professores, psicólogos, assistentes sociais e a população de uma forma geral. Tenham atenção a essas propostas. Elas não são um bom caminho. Às autoridades, peço que tentem divulgar ao máximo dentro da sua área de atuação, alertando a sociedade para a gravidade desse problema. Por meio desse Simpósio vamos trazer as maiores autoridades do Brasil e do exterior para fazer um grande esforço de conscientização com os órgãos de enfrentamento e a sociedade. (Diário do Norte)

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