Uma análise realizada pelo pesquisador e publicitário Diogo Teles, para sua dissertação no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG), explorou os estereótipos do goianiense com base na interação deste público a um perfil de humor no Instagram, que compartilha memes e piadas regionais, por nome de “Goiânia Mil Grau”.
De acordo com o pesquisador, foi observado no trabalho a forma de engajamento nas publicações exploradas pela página, com relação a culturas goianienses e até mesmo o regionalismo, ligado a determinados bairros da capital goiana. “Foi uma experiência bem enriquecedora, de se analisar um objeto de pesquisa que tinha um caráter muito demarcado no regionalismo, dentro de um ambiente como a internet. Observar o porquê de um conteúdo com essas características fazer sucesso entre o público goiano e goianiense, neste ambiente global e como isso se dava”, avaliou.
A dissertação “Estereótipos e a construção identitária da população goianiense: Os sentidos produzidos por interagentes do Instagram a partir do humor do Goiânia Mil Grau” avaliou, por meio de análises às interações, além de entrevistas com o público seguidor e os administradores do perfil, as experiências das “pessoas que riam de si mesmas”, através do conteúdo de humor no qual se identificavam.
“O que mais chamou a minha atenção nessa investigação foi justamente observar algumas representações humorísticas que pautavam muito da questão de utilizar estereótipos sobre o que seria o goianiense e o goiano. E isso é muito utilizado na página, junto com outras coisas que não são necessariamente aqui de Goiás, por exemplo uma série ou um filme americano, algum meme que bombou em uma determinada semana”, explicou.
Diogo Teles, que já observava o conteúdo humorístico publicado no perfil que possui atualmente mais de 68 mil seguidores, procurou entender, então, o motivo pelo qual, dentre tantos sites de humor, o regionalismo do Goiânia Mil Grau, relacionado ao cotidiano sociocultural de Goiânia, ganha tanto engajamento. O trabalho, de acordo com o autor, se trata de “um olhar investigativo sobre coisas que às vezes passam despercebidas no dia a dia”.
“Uma coisa que foi falada, que eu acho que demarca bem essa mistura, é a ideia do goianiense como um caubói urbano, uma pessoa que tem um pezinho ali na cultura do interior, mas também tem seus hábitos urbanos por músicas e filmes internacionais, mas no final de semana vai visitar os pais no interior, gosta de comer pamonha, que é um prato típico daqui”, exemplificou.
A conclusão da dissertação, no entanto, foi a de que não existe uma identidade única do goianiense, mas várias, até mesmo vinculadas a determinadas regiões da capital. “Foram observados outros estereótipos que fazem referência a grupos específicos de Goiânia, como por exemplo um morador de um bairro ‘X’, um frequentador de tal shopping, um torcedor de um time local. Não se limita apenas ao meio rural”, explicou.
“É um olhar específico sobre o cotidiano específico da cidade de Goiânia, que às vezes um morador por exemplo de São Paulo ou alguém da China não vai conseguir entender com tanta facilidade quanto uma pessoa que convive com esse cotidiano goianiense”, ponderou o autor.