17 de novembro de 2024
Atualidades • atualizado em 13/02/2020 às 01:12

‘Foi um abuso, me senti humilhado’, diz morador de rua agredido por GCM

“Foi um abuso de autoridade. Me senti uma pessoa muito humilhada. Parece que você está sendo atropelado. Foi terrível”, diz Samir Aliahmadsati, 40, agredido por membros da GCM (Guarda Civil Metropolitana), da gestão João Doria (PSDB), nesta quarta-feira (3) na zona sul de São Paulo.

Aliahmadsati conta que estava com a mulher fazendo coleta de descartáveis quando foi abordado por agentes da GCM. “O agente já chegou pegando meus pertences e perguntando se eu tinha nota fiscal dos produtos. Falei que não, porque a maioria das coisas havia sido doada. Quando me deparei, ele já começou a me agredir: ele me chutou, me deu socos, rasteira, me emperrou três ou quatros vezes no chão”, diz.

O estudante de jornalismo Marcos Hermanson passava pelo local e gravou o momento da agressão. Nas imagens é possível ver um GCM empurrando o morador de rua, que cai no chão, enquanto outros dois guardas acompanham tudo sem fazer nada para impedi-lo. Depois, Aliahmadsati é pressionado contra a parede e tem o braço torcido para trás, além de levar uma rasteira. Durante as agressões, outros dois fiscais da prefeitura levam um carrinho de supermercado com os pertences da vítima.

“Até alguns meses atrás eu pagava meus impostos como qualquer cidadão brasileiro. Não havia a necessidade de chegar a esse ponto. Eu não reagi a eles. Eu não fiz nada de errado para eles”, afirma Aliahmadsati.

Ele diz que sua mulher, Mirela Nunes Ramos, 38, chegou na “hora em que estava quase morrendo”. Ela diz que tentou impedir a agressão, mas que um guarda civil a impediu e a ameaçou. “Falaram para eu calar a boca, senão apanhava também.”

Samir Aliahmadsati e Mirela Nunes Ramos contam que moravam no bairro de Vila Guarani, na zona sul da cidade, até seis meses atrás. Segundo o casal, eles viviam em um casa alugada e pagavam R$ 1.200 por mês, com ajuda do benefício do Bolsa Família (em torno de R$ 345) e dos produtos alimentícios que vendiam pelas ruas de São Paulo.

Mirela diz que ficou difícil manter o pagamento do aluguel depois que a polícia apreendeu suas mercadorias no final do ano passado durante uma Operação Delegada -o bico oficial pago pela prefeitura no qual PMs atuam no combate aos ilegais.

Aliahmadsati lembra que perdeu toda a sua mercadoria porque não tinha credencial para trabalhar e que tentou várias vezes fazer seu cadastro na prefeitura, mas sem sucesso. “Trabalhava por conta própria e fiquei sem as minhas mercadorias. Faltava dinheiro e tivemos que ir para rua”, diz o morador de rua. “Saímos de lá devendo aluguel”, conta Mirela.

Após deixar a casa na Vila Guarani, o casal se mudou para perto da estação Conceição, da linha 1-azul do metrô. Eles contam que dormiam no chão, com apenas uma coberta e que recebiam ajuda das pessoas. “Ali todo mundo conhece a gente e sempre recebíamos ajudas das pessoas.” Segundo Aliahmadsati, ele começaria a trabalhar como encarregado de obra nesta quinta (4), mas, como está com o braço engessado, não sabe mais quando poderá trabalhar.

Após ser agredido, Aliahmadsati e a mulher foram encaminhados para uma Casa de Acolhimento da prefeitura. O padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, diz que encontrou em contato com o prefeito João Doria (PSDB) e com outros secretários no mesmo dia para fazer a denúncia da violência.

“É um tratamento torturante, degradante. [Essas agressões] não são fatos isolados e, dessa vez, foi filmado. Isso é desumano. A gente tem denunciado há muito tempo e com a filmagem ficou claro e patente”, disse o padre.

Já Doria afirmou que a agressão ao morador de rua foi um “ato condenável” e que já solicitou ao secretário de Segurança Urbana, José Roberto Oliveira, que o agente da GCM seja afastado, para que o caso possa ser investigado e julgado.

“Hoje a noite tivemos um fato desagradável. Uma agressão a uma pessoa em situação de rua. Um GCM, exacerbando as suas funções, agrediu uma pessoa em situação de rua. Condenável o ato. Tive a oportunidade ao falar com ele e de transmitir a minha solidariedade e espero que este fato não mais se repita”, disse o tucano, em sua conta na rede social.

O tucano disse ainda que espera que esse caso sirva de referência para que situações semelhantes não se repitam. “Fica aqui o registro da minha mais absoluta solidariedade a esse rapaz”, concluiu Doria. (Folhapress)

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