Filho de Aroldo Cedraz, ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), o advogado Tiago Cedraz é um dos alvos da 45ª fase da Operação Lava Jato, denominada Abate 2, que cumpre mandados de busca e apreensão na manhã desta quarta-feira (23).
A reportagem apurou que a Polícia Federal está em sua casa, em Brasília, e que Cedraz será intimado a depor.
O caso de Cedraz é um dos quatro mandados de busca e apreensão desta quarta (23) em desdobramento da Operação Abate, como foi batizada 44ª fase da Operação Lava Jato. Deflagrada na semana passada, a ação ordenou a prisão do ex-deputado-federal Cândido Vaccarezza, ex-líder do PT na Câmara. O ex-parlamentar foi solto na terça (22), por decisão do juiz Sergio Moro.
No desdobramento desta quarta, a PF está nas ruas de Salvador, Brasília e de Cotia, na região metropolitana de São Paulo.
Segundo as investigações, Cedraz teria recebido US$ 20 mil em comissões pela contratação da Sargeant Marine em contas de off-shore na Suíça, ao intermediar o negócio com a Petrobras. O valor foi relatado em depoimento do lobista Jorge Luz, que está preso em Curitiba e tentou fechar um acordo de delação premiada, sem sucesso.
“Era um grupo que tinha uma pauta de negócios interessantes a ele na Petrobras”, afirmou o procurador Athayde Ribeiro Costa.
O grupo se autodenominava “Trade Brasil”, segundo as investigações, e tinha o objetivo de fazer negócios como uma “trading internacional”, de acordo com Jorge Luz. A PF encontrou inclusive uma proposta de participação societária e de negócios vislumbrados pelo grupo, como participação em uma refinaria na Argentina; tanques em um terminal do porto de Tampa, na Flórida; e fornecimento de etanol e de biocombustíveis à Petrobras.
O documento também estabelece que, pelo “alto custo de implementação de uma trading no Brasil”, a Trade Brasil operaria inicialmente por meio de offshores, ou seja, seria constituída no exterior.
A Polícia Federal não descarta que Cedraz, portanto, tenha participado de outros acertos ilícitos na estatal.
Meses depois do acerto da Sargeant Marine, o advogado deixou o grupo, dando lugar a um representante do senador Edison Lobão (PMDB), segundo o depoimento de Luz. Lobão seria outro dos “padrinhos políticos” da associação.
Além de Cedraz, também teria atuado no negócio o advogado Sérgio Tourinho Dantas, seu antigo sócio. Ele também recebeu vantagens indevidas, de acordo com a PF -o total recebido pela dupla chegaria a US$ 50 mil.
“Embora Sergio Tourinho Dantas e Tiago Cedraz Leite Oliveira sejam advogados, a imunidade profissional não abrange suas atividades, já que aqui há indícios, em cognição sumária, de sua participação em esquema criminoso que envolveu o pagamento de vantagem indevida a agentes da Petrobrás, além de comissões para eles próprios”, escreveu o juiz Sergio Moro, no despacho que autorizou as buscas.
O magistrado autorizou o bloqueio de R$ 6 milhões dos dois advogados -valor equivalente ao total supostamente pago em comissões pela Sargeant Marine.
Também foi alvo da operação a ex-assessora de Vaccarezza, Ana Cláudia de Paula Albuquerque, suspeita de receber parte das vantagens indevidas. Sua casa foi alvo de um mandado de busca e apreensão, em Cotia (SP).
Histórico
Não é a primeira vez que Cedraz aparece na Lava Jato.
Até aqui, seu nome havia sido mencionado em investigações envolvendo o TCU, do qual seu pai, Aroldo Cedraz, é ministro.
A operação desta quarta (23) levanta uma nova suspeita contra o advogado, como suposto intermediário e lobista na Petrobras.
Delator da operação, o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, já havia acusado o advogado de atuar no TCU, junto ao ministro Raimundo Carreiro, para facilitar o processo da usina Angra 3, sob análise no tribunal. Cedraz teria recebido R$ 50 mil mensais da empreiteira.
Um delator da Odebrecht, Henrique Pessoa, também mencionou ter feito o pagamento de R$ 1 milhão ao escritório de Tiago Cedraz, para atuação no mesmo processo de Angra 3.
Uma reportagem da Folha de S.Paulo publicada em 2015 ainda mostrou que advogados do escritório de Tiago Cedraz atuam ou atuaram em 182 ações no TCU.
As delações geraram um inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), que está em andamento.
Cedraz sempre negou as suspeitas e afirma que nunca recebeu pagamentos da UTC ou da Odebrecht.
De acordo com a assessoria, o escritório do advogado “sempre pauta sua atuação pelo rigoroso cumprimento da legislação vigente, resultando inclusive na observância dos devidos impedimentos”.
Abate
Vaccarezza é acusado de supostamente ter recebido pelo menos US$ 478 mil (cerca de R$ 1,5 milhão, no câmbio atual) por contratos da Petrobras com a Sargeant Marine, empresa norte-americana que fornecia asfalto à estatal.
As investigações apontam que o ex-deputado influenciava negócios na diretoria de Abastecimento, sob influência do PP, e que ele “apadrinhou” 12 contratos de fornecimento de asfalto.
Moro contrariou o pedido de prisão preventiva do político feito pelo Ministério Público Federal, que venceria na terça (22). O juiz considerou que as provas sobre o envolvimento de Vaccarezza em outros crimes eram limitadas e que, por não ter sido reeleito em 2014, o ex-deputado não teria mais influência política.
Vaccarezza terá de entregar seu passaporte e pagar R$ 1,5 milhão em fiança, no prazo de dez dias.
Outro lado
Em nota, Cedraz reiterou “sua tranquilidade quanto aos fatos apurados por jamais ter participado de qualquer conduta ilícita”.
Disse ainda que confia na apuração conduzida pela força-tarefa da Lava Jato e permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários.
O advogado de Vaccarezza, Marcellus Ferreira Pinto, nega que o ex-deputado tenha intermediado negociações entre empresas privadas e a Petrobras.
“Estamos convictos da inocência de Vaccarezza, que teve seu nome indevidamente incluído nos fatos investigados”, afirmou Pinto. (Folhapress)
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