Em carta assinada por seu presidente no dia 13, a Fina (Federação Internacional de Natação) ampliou a crise com a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos).
Na missiva, à qual a reportagem teve acesso, o uruguaio Julio Maglione reiterou que a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) deve promover novas eleições presidenciais, sob pena de receber sanção ou desfiliação.
“Nós insistimos que, de acordo com as regras da Fina, a CBDA deve conduzir eleições, em acordo com sua constituição”, disse o cartola em trecho do comunicado.
Ele reiterou que não reconhece a atual diretoria da confederação e só o fará quando um novo pleito for “conduzido de acordo com o texto [estatuto] aprovado pelo Bureau [comitê executivo] da Fina”.
A próxima quinta (30) será decisiva para a questão, em Sanya, na China, onde ocorre reunião do comitê executivo da federação. Além de deliberar sobre mudanças de estatuto exigidas e já realizadas pela CBDA, o posicionamento do grupo dará o tom em relação aos desdobramentos do caso.
A assertividade da carta do presidente da federação prolongou o impasse que se criou em torno da situação da confederação. Ele já se arrasta há mais de cinco meses.
A raiz do problema está na eleição que alçou Miguel Cagnoni, ex-mandatário da Federação Aquática Paulista, ao posto de máximo da CBDA, em junho passado.
O pleito foi organizado por um interventor designado pela Justiça -o advogado carioca Gustavo Licks- depois que a juíza Simone Chevrand determinou o afastamento do líder da antiga cúpula da confederação, Coaracy Nunes.
Nunes e outros três dirigentes de sua gestão -Sérgio Alvarenga, Ricardo Cabral e Ricardo de Moura- foram presos pela Polícia Federal após investigação do Ministério Público Federal apontar que haviam desviado verbas públicas. Posteriormente, todos eles acabaram soltos. Cagnoni foi opositor de Nunes.
O pleito realizado por Licks aceitou participação de atletas e clubes, o que não está previsto no estatuto da CBDA. A diferença entre o que é determinado no documento e o que foi executado contrariou a Fina. A federação, então, passou a exigir que a gestão de Cagnoni realizasse assembleia geral para ajustar seu estatuto às exigências impostas e, em seguida, organizasse nova rodada eleitoral.
A estratégia adotada pelo cartola brasileiro foi tentar mostrar à federação que não era necessário novo pleito.
Primeiro, realizou em agosto a assembleia pedida e dela confeccionou um novo texto régio. Em seguida, para tentar comprovar que não haveria motivo para nova eleição, enviou ao órgão cartas de apoio de 19 federações.
As medidas, porém, não sensibilizaram a Fina, e isso ficou explícito nas comunicações seguintes com a CBDA.
Todas as comunicações anteriores endereçadas à gestão de Cagnoni haviam sido assinadas pelo diretor-executivo da entidade, Cornel Marculescu. O fato de a última ter sido atribuída a Maglione foi entendido pela confederação como uma elevação no tom.
REAÇÕES
A confederação brasileira, que não terá representante na reunião do comitê executivo da Fina, espera que a entidade referende o novo estatuto e aceite o compromisso proposto de promover essas novas eleições em 2021.
Por outro lado, ela não quer desrespeitar determinação da Justiça. Caso não haja entendimento, o caso pode terminar em litígio ou nos tribunais.
A reportagem apurou que dirigentes brasileiros já falam em recorrer à CAS (Corte Arbitral do Esporte), instância máxima do esporte mundial, se necessário, embora essa não seja a medida desejada por entender que prejudica a modalidade dentro do Brasil.
O temor maior é que a federação suspenda a CBDA, o que impediria a presença de representações do país em campeonatos internacionais.
Atletas brasileiros até poderiam competir em eventos promovidos pela Fina, porém sob bandeira neutra.
Houve uma ameaça do tipo antes do Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste (Hungria), realizado em julho deste ano. Apesar disso, pouco antes do evento a federação assegurou que a presença dos competidores do país não seria afetada.
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