07 de agosto de 2024
SÉRIE AGROTÓXICOS • atualizado em 22/01/2024 às 11:31

Faeg sinaliza a importância dos agrotóxicos e fala em crescente uso racional

“Produtor não gosta de aplicar defensivos”, afirma assessor técnico da Faeg; DG ouviu federação na série sobre as implicações do uso de agrotóxicos; confira a 5ª reportagem
Federação defende uso racional de agrotóxicos e vê aumento no uso de biodefensivos - Foto: Agrodefesa Goiás
Federação defende uso racional de agrotóxicos e vê aumento no uso de biodefensivos - Foto: Agrodefesa Goiás

O consumo de agrotóxicos em Goiás pelos produtores rurais é correspondente à necessidade. Mas está em fase de racionalização tecnológica, bem como de aceitação dos biodefensivos. Os motivos são o crescente controle social e dos mercados nacional e internacional. Como também os custos.

Já a convicção da necessidade de defensivos para uma maior produtividade, permanece inabalável.

Esse é o entendimento da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), também ouvida para esta série especial do Diário de Goiás sobre as implicações do uso de defensivos agrícolas.

Grande consumidor de agrotóxicos

Dados de consumo nos órgãos de controle apontam que, do total de agrotóxicos comercializado na Região Centro-Oeste em 2022, 65.252 foram consumidos em Goiás. Enquanto o volume total dos três estados da região (mais Distrito Federal) passou de 292.800 toneladas. A do Centro-Oeste foi a maior quantidade de pesticidas consumida entre todas as regiões brasileiras naquele ano.

No mesmo período, o consumo de defensivos agrícolas em Goiás ficou em segundo lugar na região, sendo superado apenas pelo Mato Grosso, que teve um consumo duas vezes e meia maior, ultrapassando 176 mil toneladas.

Leonardo Machado, engenheiro agrônomo e assessor técnico da Faeg, além de consultor em marketing para o agronegócio, comenta o assunto em nome da instituição. Ele destaca que, de acordo com a mentalidade atual dos produtores rurais, o defensivo é considerado um gasto fundamental para proteger a produtividade, embora seja um investimento elevado.

“O produtor compra as melhores sementes para ter a melhor produtividade. Coloca o melhor fertilizante na quantidade adequada para ter a maior produtividade. E quando essa cultura vai desenvolvendo, vamos ter pragas, doenças, plantas invasoras que tiram essa produtividade. O defensivo agrícola é o meio do produtor se defender”, pondera.

“Produtor não gosta de usar defensivos”

Em primeiro lugar, o engenheiro enfatiza que os produtores se sentem obrigados ao uso dos agrotóxicos. E explica: “Nenhum produtor gosta de aplicar defensivos. Na aplicação ele gasta máquina, combustível, mão de obra, produto, água. E tudo isso é custo. Quanto mais aplica, fica mais caro e menor a rentabilidade. Então ele quer usar o mínimo de produto, e quando necessário”, garante ele.

Transformação pela tecnologia

Destacando que o consumo de agrotóxicos pelos produtores goianos é correspondente à necessidade, mas vem passando por racionalização tecnológica e aceitação dos biodefensivo, Leonardo Machado sustenta, neste sentido, que a pesquisa e evolução no campo têm sido primordiais para racionalizar o uso de defensivos em Goiás. “O que está transformando o campo hoje é tecnologia, inclusive nas aplicações, nas dosagens de produtos”, observa.

Conforme ele, as dosagens têm caído cada dia mais. “Antes, onde era usado um a dois litros [de agrotóxicos] por hectare, hoje usamos 500 mls, porque os produtos estão mais eficientes, exigindo menor dosagem e menos aplicações. A tendência então é essa, de reduzir a aplicação com uso de tecnologia. A aplicação por drones cada vez mais comum, e são aplicações localizadas, em pontos específicos”, detalha.

Críticas rebatidas

Além disso, ele rebate a crítica sobre uso sem controle ou excessivo, apontada por pesquisadores ouvidos pela reportagem. Antecipadamente, o técnico reverbera que o consumo de agrotóxicos pelos produtores rurais de Goiás corresponde à necessidade, está em racionalização tecnológica e avança na aceitação dos biodefensivos.

“É preciso separar as coisas. No caso da aplicação preventiva de herbicida, por exemplo, se o produtor encontra uma quantidade de ervas daninhas em determinado tamanho, ele tem que fazer a aplicação. Se não fizer, essa planta invasora cresce mais e não se consegue fazer o controle. O mesmo caso ocorre com o inseticida. Se na avaliação no campo, há o que chamamos de nível de dano econômico, ele tem que fazer a aplicação de inseticida”, reforça.

Conforme ele, no caso dos fungicidas é que o uso preventivo é maior. “Por que é muito rápido [a contaminação pelo fungo]”. E cita como exemplo a ferrugem da soja, que é favorecida pela umidade. “Se o produtor esperar para ver o problema e depois fazer a aplicação, a perda já ocorreu. Então ele sabe que vai ter a doença, aí ele faz essas aplicações [antes]”.

Culturas que mais usam

Atualmente, cita ele, as culturas que mais utilizam defensivos em Goiás são, sobretudo, as de feijão, soja, milho, algodão e tomate industrial.

“No caso da soja, as plantações se espalham por todo o Sudoeste, Sul, Entorno do DF e cresce para o Norte. O feijão está forte nas lavouras de Cristalina. O tomate e o algodão no entorno do DF, e o milho em todo o estado”, relaciona o assessor da Faeg.

Uso de biodefensivos em alta

Porém o uso de biodefensivos, ou bioinsumos, tem crescido, destaca Leonardo Machado. Esses produtos agrícolas não representam grau de toxicidade para humanos. Além disso, têm baixa periculosidade ambiental.

Eles são usados para controle biológico na agricultura. Bem como dispensam ou substituem os industrializados, os agrotóxicos sintéticos tradicionais.

Esses produtos são classificados como “Bio” (Produto Formulado Biológico, Microbiológico, Bioquímico, Extrato Vegetal, Regulador de Crescimento ou Semioquímico e de Baixo Risco), e  “Bio/Org” (Produto Bio para a Agricultura Orgânica).

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), no Brasil, cerca de 40 milhões de hectares são cultivados com bactérias promotoras de crescimento de plantas. Além disso, 10 milhões de hectares utilizam outros bioinsumos para controle de pragas.

As principais aplicações ocorrem para melhoramento do solo, como defensivos agrícolas naturais. Também ocorrem no tratamento de massa residual para utilização como coproduto. Por fim, eles têm função acaricida, inseticida, fungicida e formicida.

Investimento de R$ 17 bi em bioinsumos até 2030

Os dados de mercado de bioinsumos são periodicamente coletados em grandes empresas do setor pela Croplife, uma associação de monitora a cadeia agrícola. Em 2023, foi divulgado um estudo (CropLife e S&P Global) projetando um valor de R$ 17 bilhões para o mercado de bioinsumos até 2030 e taxa de crescimento entre 2022 e 2023 de 23%.

O estudo faz eco ao que sustenta Leonardo Machado em relação ao volume de agrotóxicos consumido por produtores goianos no limite da necessidade, ligado à racionalização tecnológica, bem como à crescente aceitação dos biodefensivos

Cenário nacional de uso de bioinsumos – Imagem CroplifeBrasil / S&P Global

De acordo com o estudo, uma empresa com sede em Rio Verde e Uberaba (MG), a Biovalens, aparece como a terceira com maior quantitativo de bioinsumos registrados no Brasil no ano passado, com 22 produtos registrados no Mapa. Os bioinsumos dela que aparecem no levantamento são fungicidas microbiológicos.

Leonardo Machado afirma que em Goiás também há um crescente uso de bioinsumos. “É a área que mais cresce na agricultura hoje. Um exemplo, são as aplicações de inóculos de bactérias predadoras de pragas, lagartas, e o uso de sementes transgênicas que reduziram as aplicações”, apresenta.

Boom no Registro de bioinsumos

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) confirma que a série histórica de 2000 a 2023 registrou um grande avanço no registro de bioinsumos.

Principais culturas alvos dos biodefensivos – Imagem CroplifeBrasil S&P Global

Em 2020, apenas dois produtos desses foram registrados no Mapa. Ao longo da série os registros foram oscilando ao passo que, em 2020, chegaram a 95. Na sequência, em 2022, os registros saltaram para 136 num único ano.

Contudo, em 2023, foram registrados apenas 34. Uma baixa sensível que coincidiu com a expectativa de agilidade e flexibilização para o registro de defensivos sintéticos pelo Projeto de Lei 1459/2022, que estava tramitando no Congresso Nacional, apelidado de PL do Veneno.

Indústrias de olho na agricultura sustentável

A busca por um reposicionamento no mercado a partir de produtos focados na agricultura sustentável também é citada por fabricantes de agrotóxicos. Um exemplo é a Basf.

Consultada pela reportagem do DG para esta série, a empresa enfatizou que apresentou o maior número de pedidos de patentes em agricultura sustentável do Brasil na última década.

“Entre os anos 2011 e 2021, foram 272 pedidos de patentes”, informou a empresa. E citou estudo elaborado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) de forma independente, considerando classificações internacionais.

A Basf mantém em Goiás, no município de Trindade, um dos seus 26 Centros de Pesquisas Globais.

A polêmica das sementes transgênicas

Uma das críticas mais severas da atualidade referente ao uso de agrotóxicos está ligada à uma possível e proposital relação de dependência entre sementes geneticamente modificadas e agrotóxicos produzidos especialmente para elas. Ecologistas e sanitaristas citam a expressão “novo colonialismo” ao se referirem a esta relação.

Contudo, Leonardo Machado rechaça essa tese. “Tecnicamente, esse discurso não tem base científica porque o transgênico reduziu a aplicação de defensivos”, alega.

Leonardo Machado, assessor técnico da Faeg Imagem reprodução/Faeg

“Temos duas tecnologias hoje de grande uso de transgenia. Na primeira tornaram as plantas mais resistentes ao glifosato, o mais utilizado na agricultura. Mas ele matava o milho e não matava a soja. Então demos proteção para não serem impactadas pelo glifosato. Qual o ganho que temos nisso? Quando fazia na soja e no milho convencional, a gente precisava usar dois ou três herbicidas diferentes, em três ou quatro aplicações para matar a planta invasora e não matar a soja. Mas hoje [com as sementes geneticamente modificadas] usamos só um. Ou seja, reduzimos o número de moléculas aplicadas por hectares”, analisa.

Segundo ele, a outra tecnologia é o Bacillus thuringiensis (Bt) uma bactéria que mata a lagarta quando ela começa a comer a planta, e que também é usada pelo produtor goiano.

“Embora tenha elevado o consumo de glifosato com a semente transgênica, reduziu-se consideravelmente a aplicação de outros defensivos que eram necessários”, pondera, por outro lado.

Produtos banidos

Leonardo Machado também comentou o caso dos agrotóxicos banidos em outros países, como o fipronil citado na reportagem do DG sobre mortandade de abelhas.

Para ele, o banimento de defensivos pode ser comparado ao controle ou banimento de fármacos humanos. “O Ibuprofeno, por exemplo, é proibido na Europa, nos Estados Unidos e outros países porque pode causar morte, mas pode ser comprado em farmácias do Brasil”, compara, em contrapartida.

Além disso, o assessor técnico da Faeg observa que os agrotóxicos que estão sendo retirados (banidos) são os mais antigos, “que vêm sendo substituídos por moléculas novas”. E ele ainda acrescenta: “O fipronil, por exemplo, antes de ser retirado, as empresas já estavam removendo a recomendação de aplicação foliar, ficando só no tratamento de semente. Ou seja, a tecnologia saiu na frente da legislação”.

Orientação aos produtores

Em seguida, Leonardo Machado reforça também que a Faeg trabalha orientando para que o produtor busque produtos tecnológicos substitutivos aos mais potencialmente nocivos. “Mas fazemos isso correndo contra o cenário nacional, onde essa substituição esbarra na demora do registro de novos produtos”, reclama.

Em sua opinião, essa demora frequentemente deixa o produtor em uma sinuca. “As retiradas (banimentos) têm que ser acompanhadas da mesma forma, ou seja, vou retirar o fipronil, mas, ao mesmo tempo, quais são seus substitutos? Essa é a forma correta de agir técnica e cientificamente”, defende ele.

Diário de Goiás preparou série

Esta reportagem que aborda o consumo de agrotóxicos por produtores goianos em correspondência à necessidade, racionalização tecnológica e aceitação dos biodefensivos, é a quinta de uma série que o Diário de Goiás preparou especialmente para abordar as implicações do consumo de agrotóxicos em Goiás e no Brasil. Para a produção da série, foram consultados cientistas, pesquisadores de campo, produtores rurais e órgãos públicos, além de levado em conta o conteúdo de dezenas de publicações a respeito.


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