23 de dezembro de 2024
Cinema • atualizado em 13/02/2020 às 09:37

Exibidos em Toronto, filmes com Matt Damon são fortes candidatos ao Oscar

Se o Festival de Toronto é a vitrine do Oscar, a largada para a premiação do ano que vem foi dada com a exibição de duas sátiras sociais protagonizadas por Matt Damon e que são claras alegorias para a situação dos Estados Unidos de hoje: “Suburbicon”, dirigida por George Clooney, e “Pequena Grande Vida”, de Alexander Payne (diretor de “Nebraska” e “Os Descendentes”).

No primeiro, Clooney se ancora em roteiro escrito pelos irmãos Coen sobre um típico subúrbio de famílias brancas dos anos 1950 em que tudo vai bem conforme prega o “american way of life”. Isso até a chegada de uma família negra, que coincide com uma sucessão de infortúnios para os habitantes locais.

Tangenciando questões como racismo e segregação, “Suburbicon” é um claro recado sobre os EUA de hoje dado por um diretor que é um notório crítico a Donald Trump.

O longa de Payne pega emprestada a mesma premissa da comédia “Querida, Encolhi as Crianças”, mas a reveste com forte caráter político: Damon interpreta Paul, fisioterapeuta que se submete a um novo tipo de avanço tecnológico que permite diminuir o tamanho das pessoas e assim permitir que elas consumam menos recursos do planeta.

Há claras vantagens em passar pela miniaturização, como o personagem de Damon logo descobre. Diminuto, ele custa menos e pode viver uma vida luxuosa, morar numa mansão. Mas a tecnologia logo desdobra implicações graves: o governo americano passa a ser assolado por terroristas em miniatura, ditadores africanos optam por reduzir minorias étnicas.

Duas vezes vencedor do Oscar, Payne diz que queria explorar a premissa de um mundo em miniatura, “mas de forma realista e com um contexto político”, diz. Ele evita, no entanto, rotular seu filme como ficção científica. “Sempre tenho como norte a ideia de que estou fazendo comédias; os rótulos sabem aos outros, não a mim”, afirmou em conversa com a imprensa em Toronto.

Damon vê semelhanças no fato de protagonizar duas sátiras com carga social. “Filmes são uma forma tecnológica de contar uma história”, disse o ator. “E eu espero que essa tecnologia seja sempre usada para trazer mais empatia, apesar do momento político pelo qual passa o meu país.”

Drama agrário

Outro forte concorrente a dar as caras no Oscar é o drama agrário “Three Billboards Outside Ebbing, Missouri”, que pode render uma indicação de melhor atriz para Frances McDormand. Aqui, a atriz vive uma mãe que entra em conflito com as autoridades locais após elas falharem em investigar o assassinato de sua filha. Com mensagens em outdoors na beira da estrada, ela pretende humilhar o xerife da cidadezinha.

O violento drama, ambientado no meio rural dos EUA, encontra ressonância particular no momento atual: o descrédito às instituições da personagem de McDormand ecoa o ressentimento de boa parte dos americanos.

Outro forte candidato a estar no Oscar, Darren Aronofsky, de “Cisne Negro” e “Requiem para um Sonho”, decepcionou com o filme mais macabro de sua carreira, “Mãe!”. Aqui, Jennifer Lawrence vive a jovem mulher de um escritor narcisista que é atormentada pela chegada inesperada de visitantes desconhecidos à sua casa.

As situações absurdas vão subindo de tom, numa espiral surreal que muitas vezes descamba no humor involuntário.

Em Toronto, a sessão para a imprensa do longa terminou com um enorme silêncio e uma única palma tímida. Quem pode embolar a disputa do prêmio da Academia é o mexicano Guillermo del Toro, que desembarca no Canadá nos próximos dias depois de seu “The Shape of Water” ter levado o Leão de Ouro, maior prêmio do Festival de Veneza, no sábado (10).

Amigo e colaborador dos conterrâneos Alejandro González Iñárritu e de Alfonso Cuarón, ele é o único do trio que ainda não ganhou um Oscar. (Folhapress)

Leia mais:

 

 

 


Leia mais sobre: Cinema