05 de dezembro de 2025
DENÚNCIA NO STF • atualizado em 14/11/2025 às 16:15

Ex-dirigente da Conafer preso em Goiás, suspeito de desviar R$ 11,7 mi do INSS, é irmão do único foragido da operação

Engenheiro agrônomo Tiago Lopes é apontado como peça importante no esquema que desviou mais de R$ 640 milhões, segundo a Polícia Federal
Tiago Lopes, que já presidiu a Conafer, foi preso na operação - Foto: reprodução / Conafer
Tiago Lopes, que já presidiu a Conafer, foi preso na operação - Foto: reprodução / Conafer

Preso pela Polícia Federal em Itumbiara na quinta-feira (13), o engenheiro-agrônomo Tiago Lopes Abraão Ferreira que já presidiu interinamente a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), é suspeito de ter recebido mais de R$ 11,7 milhões, supostamente desviados do esquema que fraudou e descontou valores de aposentados atendidos pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Tiago Lopes é irmão de Carlos Ferreira Lopes, atual presidente da Conafer e o único dos alvos de mandados de prisão de quinta que ainda está solto, considerado foragido da Justiça.

Enquanto o irmão comandava a Confederação, reunindo as regionais da organização, Tiago comandava em Goiás e no Distrito Federal, uma dessas unidades: a Federação dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares (Fafer).

Valores desviados eram da Conafer e da Fafer

A investigação aponta que o engenheiro recebeu valores indevidos, tanto através da Conafer, quanto via Fafer. Além disso, teria lavado dinheiro com empresas abertas no nome de parentes.

Segundo a PF, a Conafer recebeu indevidamente mais de R$ 708 milhões do INSS, dos quais R$ 640,9 milhões teriam sido desviados para empresas de fachada e contas de operadores financeiros ligados ao grupo

A operação da PF, como mostrou o Diário de Goiás na quinta, atingiu ex-diretores do INSS e até um ex-ministro, além de parlamentares.

Conforme nota divulgada pela própria Conafer, a operação também alcançou, além de Tiago, Cícero Marcelino de Souza Santos, Samuel Chrisostomo do Bonfim Júnior e Vinícius Ramos da Cruz, todos ligados à Confederação. (Leia a íntegra da nota ao final).

Morador de Itumbiara, onde foi preso em casa, o engenheiro-agrônomo tinha papel de destaque no esquema, conforme a denúncia que embasou a decisão do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), para a prisão dele.

Segundo a denúncia da procuradoria-geral da República, Tiago tinha acesso direto ao sistema da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev), por onde ele inseria listas de beneficiários para a inclusão de descontos associativos que, no entanto, eram listas fraudadas porque os descontos não tinham sido autorizados pelos verdadeiros segurados do INSS.

Segunda operação

O engenheiro já tinha sido alvo da primeira fase da operação da PF contra o esquema de fraudes no INSS.

Foi na casa dele que duas das armas apreendidas na operação de quinta estavam. Ele tem registro de Colecionador Atirador e Caçador Desportivo (CAC). A reportagem não conseguiu contato com a defesa dele e dos demais citados pela Conafer.

Na nota oficial divulgada na quinta, a confederação informou que viu a operação da PF contra pessoas ligadas a ela “com preocupação”, defendendo o direito “à presunção de inocência”, antes de conclusões precipitadas sobre os fatos investigados.

Na nota, a entidade sugere perseguição e desequilíbrio de tratamento em relação a outras organizações montadas para os golpes previdenciários, sem citar nomes. “Enquanto organizações e estruturas de fachada, criadas somente para desviar recursos e sem a mínima estrutura operacional, permanecem relativamente ilesas, a criminalização de entidades sérias e com comprovada atuação social suscita indagações legítimas sobre motivação e proporcionalidade das ações”.

Confira a íntegra da nota!

Nota oficial da Conafer

“A CONAFER tomou conhecimento, com grande preocupação, da nova fase deflagrada hoje pela Polícia Federal no âmbito da Operação Sem Desconto, que resultou em prisões e medidas cautelares envolvendo pessoas com vínculos profissionais à nossa entidade. Entre os nomes citados pela imprensa nesta etapa estão Tiago Abraão Ferreira Lopes, Cícero Marcelino de Souza Santos, Samuel Chrisostomo do Bonfim Júnior e Vinícius Ramos da Cruz.

Nós reafirmamos, com veemência, o princípio basilar do Estado de Direito: a presunção de inocência. Todos os citados nela têm o direito processual e moral de ter sua defesa assegurada e sua honra preservada enquanto não houver decisão judicial condenatória definitiva. A CONAFER confia nas instituições e, ao mesmo tempo, exige que sejam respeitados os direitos fundamentais dos investigados.

É impossível ignorar o contexto político e midiático que envolve esta investigação. A CONAFER, entidade que empregou mais de 1.200 trabalhadores no Brasil e que construiu, ao longo de anos, trabalhos e projetos em todos os estados, está sendo colocada no centro de uma exposição pública que, a nosso ver, tem traços de cortina de fumaça. Enquanto organizações e estruturas de fachada, criadas somente para desviar recursos e sem a mínima estrutura operacional, permanecem relativamente ilesas, a criminalização de entidades sérias e com comprovada atuação social suscita indagações legítimas sobre motivação e proporcionalidade das ações.

Os impactos práticos dessa operação já são evidentes e gravíssimos. A paralisação forçada de nossas atividades prejudica milhares de famílias do campo, povos indígenas e comunidades tradicionais que dependem das ações técnicas, de saúde e de geração de renda promovidas pela CONAFER. Entre as iniciativas afetadas, destacam os programas que contribuíram para o melhoramento genético de rebanhos em pequenas propriedades, ações de assistência em saúde e centenas de milhares de atendimentos sociais que ampliaram possibilidades de autonomia e desenvolvimento para quem mais precisa. A responsabilização individual não pode, e não deve, transformar-se em punição coletiva aos beneficiários dos nossos projetos.

Reafirmamos que a CONAFER está disposta a cooperar plenamente com as autoridades competentes para elucidação dos fatos e para que a verdade jurídica se imponha. Entretanto, exigimos que a investigação transcorra com isonomia, transparência e sem espetacularização que prejudique o direito de defesa e o exercício das atividades sociais essenciais. A utilização de prisões e de exposição midiática como mecanismo de condução política de narrativas é prejudicial ao interesse público e aos milhares de cidadãos que dependem de serviços no meio rural.

Por fim, manifestamos solidariedade institucional às famílias dos colaboradores e à rede de produtores, técnicos e beneficiários que hoje enfrentam incertezas. Reiteramos nosso compromisso histórico com o desenvolvimento autônomo e sustentável do campo, com a promoção da autonomia dos povos originários e com a redução das desigualdades no país. Pedimos à sociedade, à imprensa e aos poderes públicos que respeitem a presunção de inocência, que acompanhem o processo com responsabilidade jornalística e que garantam que a investigação não sirva de instrumento para golpes políticos ou para silenciar ações sérias em favor das populações rurais e tradicionais.

A CONAFER seguirá acompanhando os desdobramentos e tomará todas as medidas legais cabíveis para garantir a defesa de seus dirigentes e proteger a continuidade dos serviços que beneficiam milhões de brasileiros no campo.”

Brasília, 13 de novembro de 2025.

Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais — CONAFER


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