Em entrevista ao Roda Viva, nesta segunda-feira (16/09), o ex-presidente da República, Michel Temer (MDB) falou pela primeira vez com jornalistas em uma TV aberta. Na conversa, ele refutou as críticas que o governo vem recebendo de caminhar a democracia brasileira à rumos autoritários. Também rememorou o período de quase três anos que ficou à frente do governo brasileiro. Disse que não fez nenhum ativismo com relação ao processo de impedimento da ex-presidente da República, Dilma Rousseff (PT) a qual usou o termo “golpe” em algumas vezes. “Eu jamais apoiei ou fiz desempenho pelo golpe”, declarou.

Temer chegou a dizer que não passa de conspiração a acusação de que se trata de um “golpista”. “Eu jamais almejei isso. De vez em quando diziam ‘o Temer é golpista’, aliás ouvi uma breve referência do que eu teria apoiado a ideia do golpe”, afirmou. Para refutar a ideia, Temer disse que quando começaram os rumores pegou as malas, foi embora de Brasília e se exilou em São Paulo. “Eu passei praticamente quatro semanas aqui em São Paulo e só voltei quatro dias antes da Câmara dos Deputados votar essa matéria. Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe”, rememorou.

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Para respaldar o fato que não foi um presidente “golpista”, argumentou utilizando uma matéria publicada pela Folha de São Paulo, que divulgava os vazamentos da Lava Jato, realizados em colaboração com o site The Intercept. Na reportagem publicada no último dia oito de setembro, Lula ligava para Temer para tentar uma conciliação do então governo petista e a base do PMDB.

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“Muito recentemente o Jornal Folha, detectou um telefonema que o ex-presidente Lula me deu onde ele pleiteava e depois esteve comigo para trazer o PMDB para impedir o impedimento e eu tentei. Mas a essa altura que a movimentação popular era tão grande, tão intensa que os partidos já estavam mais ou menos vocacionados, digamos assim, para a ideia do impedimento, mas veja que até o último momento e este telefonema do ex-presidente Lula revela exata e precisamente que eu não era adepto do golpe apenas, fui digamos assim, assumi a presidência da República pela via não só constitucional, como eleitoral. Porque evidentemente como a senhora ex-presidente foi eleita eu também fui eleito e evidentemente sendo eu representante do MDB, do PMDB, evidentemente que os votos que ela teve, especialmente porque a diferença não foi tão grande, foram votos oriundos do PMDB. A primeira coisa que eu quero dizer é essa questão do golpe”, pontuou utilizando pela quarta vez a expressão “golpe”.

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Avanço ao autoritarismo?

Temer acredita que não. Para ele há forças institucionais brasileiras respaldadas para evitar este caminho. Este diálogo não deve preocupar a população cívil, segundo o ex-presidente. Também não acha que o impeachment abriu o caminho para pavimentar a eleição do atual presidente da República, Jair Bolsonaro. Para ele, a população brasileira almeja de tempos em tempos, mudanças radicais. “Eu não faço confesso exatamente esta conexão. A conexão que eu faço é a seguinte: no Brasil, de tempos em tempos, as pessoas querem mudar tudo. Aconteceu, convenhamos, na eleição do Lula há mais de 15, 18 anos atrás e aconteceu agora, com o Bolsonaro. Houve uma monta para mudar tudo que estava presente política e administrativamente”, pontuou.

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O ex-presidente também salientou que enxerga sua gestão como boa. As críticas pontuais que os governos anteriores não atingem sua administração. “É interessante até notar uma coisa, que toda a vez que há observações governamentais ou mesmo de colunistas ou de editorialistas. Há digamos assim um salto dos governos passados e para o governo Bolsonaro. Não há críticas diretas, você deve perceber, ao meu governo. Há um impasse à aquele passado, de dois anos e meio, três anos atrás e a este momento presente do Jair Bolsonaro. Então, eu não vejo uma digamos, uma indispensável conexão, ligação entre a ideia do impedimento e a ideia da eleição do presidente Bolsonaro. Pelo menos, não vejo dessa maneira”, mencionou.

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