Estudantes da Universidade Federal de Goiás matriculados no Campus da cidade de Goiás estão vivendo momentos críticos com o fechamento do Restaurante Universitário (RU) há cerca de dois meses. Mas os problemas não são só esses. Os relatos são de alunos dividindo em três as refeições compradas na cidade que seriam suficientes para um consumidor, não há Casa do Estudante e nem tradutor para os indígenas.
O Campus da cidade de Goiás tem características peculiares porque abriga também muitos alunos vindo de povos originários. Além de grande número de estudantes de fora que se deslocam diariamente para a cidade, e por isso dependem da refeição do RU, existe um núcleo com 29 indígenas (nos cursos de licenciatura em Educação no Campo, Serviço Social e Direito) e sete quilombolas.
Os dois grupos dependem totalmente das bolsas para se manterem em Goiás. O núcleo de alunos indígenas e quilombolas só perde para o da UFG em Goiânia, onde existe um curso intercultural há mais tempo.
Pedidos de doação de comida se espalham e situações graves, como alunos desmaiando em sala de aula por que não estão se alimentando direito já foram repassadas à direção. Também há relatos de professores mobilizando para levantar recursos para ajudar os alunos com maior dificuldade.
Há alguns meses, os alunos fizeram um protesto no espaço destinado ao RU, quando souberam do fechamento. A empresa que prestava o serviço decidiu não renovar o contrato e a licitação para a contratação da nova ainda vai ocorrer. O pregão está previsto para dia 15, mas não se sabe se haverá interessados e nem quando o eventual vencedor vai reabrir a unidade.
O auxílio-alimentação era de R$ 300, um valor totalmente insuficiente até para o almoço durante o mês todo, menos ainda para cobrir café da manhã e as outras duas refeições. Houve reuniões entre o movimento estudantil, a direção local e a Reitoria e o valor da bolsa foi elevado para R$ 400, ainda bem abaixo do necessário.
Os estudantes continuaram reivindicando uma bolsa maior e o valor foi aprovado para R$ 700. A portaria já foi assinada. Esse valor, contudo, ainda não começou a ser pago.
O aluno de Filosofia Newton Santiago David, integrante do Diretório Acadêmico do campus de Goiás, destaca que os estudantes chegaram a fazer um dossiê sobre o problema e reivindicaram a unificação das instituições de ensino superior que funcionam na cidade (UFG, Instituto Federal de Goiás e Universidade Estadual de Goiás) para um RU só para todas elas. Ele aponta que o cenário é crítico.
Uma das coordenadoras do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFG, Tainá Rincón Vianês, aluna do curso de Direito em Goiás, também descreve como desanimadora a situação do campus. “Houve colegas desmaiando durante a aula. Tem professor que não consegue lecionar diante dessa situação e alunos tendo de faltar à aula para trabalhar e assim comprar comida”, denuncia.
Conforme ambos, houve uma tentativa de negociar diretamente com a reitora, Angelita Lima, “mas ela foi embora antes da gente falar direito sobre a situação”, afirma Tainá, sobre uma recente visita da reitora. Ela saiu antes para participar de uma formatura e as negociações prosseguiram com representantes da Reitoria, a direção do campus e os estudantes.
A assessoria de Comunicação da UFG indicou ao Diário de Goiás que o assunto deveria ser tratado diretamente com a direção do Campus da cidade de Goiás.
“A situação dos alunos já mobilizou comerciantes locais e até a Prefeitura da cidade de Goiás que doou cestas básicas. Professores fizeram vaquinhas e alguns até levaram indígenas para fazerem a refeição na casa deles, para amenizar”. Quem conta é a própria vice-diretora no campus Goiás, coordenadora do Núcleo de Acessibilidade, Denise de Oliveira Alves, que atualmente está respondendo pela diretora, em férias.
Segundo Denise, a previsão é que o novo valor do auxílio-alimentação (R$ 700) comece a ser pago entre sexta-feira (10), e segunda (13).
A professora explica que a proposta de unificar o RU apresentada pelos estudantes foi objeto de um grupo de trabalho e de diálogos com a UEG e o IFG. “Mas não avançou porque a UEG não tem interesse e a proposta do IF (levar as marmitas do RU/UFG até os alunos do IF) não era praticável face às exigências da Vigilância Sanitária”.
Em relação à moradia estudantil, ela informa que é realizada a locação de quartos no alojamento de um colégio da cidade, mas admite que são insuficientes. “São cerca de 30 quartos e todos os indígenas estão alojados, mas o problema da moradia é real e temos tentado resolver”, admite. Segundo ela, na visita realizada pela reitora, houve queixa sobre a falta de psicólogos na unidade e ficou acerto que estagiários do curso de Psicologia vão desenvolver práticas no campus.