A gestão do prefeito João Doria (PSDB) já dá como certo que o novo endereço da cracolândia no centro de São Paulo, na praça Princesa Isabel, não é mais temporário.
Ao menos 600 usuários de drogas migraram para o local após operação policial há dez dias, que prendeu traficantes e desobstruiu vias usadas para uma feira ilícita livre, a cerca de 400 metros dali.
A gestão Doria tem planos para a antiga cracolândia, que terá demolição de construções e um projeto urbanístico específico. Para a praça, por enquanto, a ideia é montar uma estrutura de atendimento aos viciados que se estabeleceram ali.
Em um prédio da prefeitura ao lado da praça, por exemplo, funcionará um centro de acolhimento. Próximo dali, até o fim da semana, também serão instalados 25 contêineres com banheiros, chuveiros, refeitório e espaço para atendimento de usuários.
Nos últimos dias, a presença da polícia cresceu em volta do local, cercando o “fluxo” -área com consumo e tráfico de drogas a céu aberto.
Quando os viciados entraram na área, duas bases da Polícia Militar cuidavam do entorno. Na tarde desta terça (30), porém, havia ao menos mais cinco carros da PM, além de um ônibus da GCM (Guarda Civil Metropolitana).
Dentro do fluxo, usuários ergueram dezenas de barracas de lona, cenário semelhante ao da antiga cracolândia. Em uma delas havia a inscrição da facção criminosa PCC, que comandava o tráfico de drogas na região.
Na praça, agentes de saúde municipal circulam com objetivo de fazer o cadastramento dos usuários de crack.
Enquanto isso, o comércio da região teme as consequências da nova cracolândia. “O movimento caiu pela metade. Nosso movimento é muito de famílias, que ficam com medo”, diz Leonice Zatti, 47, dona de uma churrascaria em frente à Princesa Isabel.
Enquanto a reportagem conversava com ela, um usuário entrou no comércio e passou a oferecer desodorantes spray para vender aos fregueses. “Antes a cracolândia estava aí, mas ficava escondido. Agora, está aí na frente”, diz ela.
Outros comerciantes relataram que a clientela, formada em geral por pessoas a caminho do terminal de ônibus no canto da praça, agora têm preferido pegar a condução em paradas nos arredores.
A prefeitura, agora, não conta mais com a possibilidade remover usuários de drogas à força para avaliação médica. O pedido foi vetado no Tribunal de Justiça, com extinção do processo nesta terça-feira (30). Ainda cabe recurso, mas a prefeitura aposta suas fichas nas entrevistas com os usuários e no convencimento para que sejam encaminhados para atendimento ambulatorial ou internação.
LEITOS
A prefeitura e o governo do Estado anunciaram nesta terça uma parceria para integração de leitos psiquiátricos em todo o Estado. As duas gestões anunciaram um comitê formado por médicos municipais e estaduais para tratar da crise na cracolândia.
Ronaldo Lajeira, coordenador do Recomeço, programa estadual de tratamento de dependentes, anunciou que mais leitos contratados pelo governo do Estado em mais de 50 cidades estarão disponíveis para tratamento de usuários.
Ao todo, a gestão Geraldo Alckmin tem 3.000 leitos -90% deles estão ocupados. Segundo Laranjeira, o restante poderia ser ocupados por possíveis egressos da cracolândia do centro de SP.
A prefeitura também terá mais 270 leitos, distribuídos em três hospitais na capital.
“A ideia é ter uma integração dos dois programas [Recomeço, do governo, e Redenção, da prefeitura]”, disse o médico Artur Guerra, novo coordenador do Redenção.
Guerra afirmou que até esta quinta-feira (1º) o comitê vai anunciar um protocolo que vai orientar o atendimento aos dependentes químicos da área.
“As pessoas precisam entender os critérios que vão definir quando uma pessoa poderá ser internada”, disse o médico psiquiatra. “São critérios dentro da lei.”
Segundo ele, atualmente há nove equipes multidisciplinares que atuam na área. Cada uma tem nove pessoas: um médico, um psicólogo, um agente social, um enfermeiro e cinco agentes de saúde.
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