Na saída do Palácio das Esmeraldas após o almoço a convite do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) detalhou aos jornalistas suas impressões sobre o evento. Ele afirmou que a conversa foi muito descontraída e que ambos continuarão conversando futuramente. “Fiquei muito feliz com o convite do governador para almoçar com ele”, disse.
Perguntado se teria falado com o senador goiano e empresário Wilder Morais (PL), seu correligionário, sobre alterações na reforma tributária, que agora segue para o Senado, Bolsonaro disse ter conversado pouco, mas ressaltou estar alinhado com o pensamento do governador de Goiás.
“Conversei pouca coisa com o Wilder, tem que conversar com a nossa bancada. Mas eu estou numa linha acho que 99% alinhada com o Caiado no tocante a reforma tributária”, disse o ex-presidente.
Jair Bolsonaro opinou sobre o fim do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim). E aproveitou para elogiar a postura do governador de Goiás sobre o tema.
“Parabéns ao Caiado. Esses colégios militarizados da Polícia Militar existem acho que há mais de 20 anos. Isso faz diferença no futuro de um estado e você pode ver. O atual mandatário foi infeliz nisso, até porque pelo que eu vi pela imprensa até agora, 19 dos 26 estados vão manter esses colégios militares”, argumentou.
Perguntado sobre uma avaliação que faria sobre a gestão de Caiado, Bolsonaro disse não ter como avaliar. “O que eu vejo aqui é conversando com o povo. A partir do momento que ninguém reclama já é um bom indício”, frisou.
Ao ser questionado se a direita estaria ameaçada, o ex-presidente pontuou: “A direita é muito jovem. A direita está unida, sabe o que quer e vai continuar fazendo esse trabalho para o futuro do nosso país”, ponderou Bolsonaro.
Questionado sobre seus projetos políticos para os próximos 8 anos, devido ao fato de estar inelegível até 2030, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro afirmou que nada acabou.
“Eu não estou morto ainda, nada acabou, tá certo? Estou na UTI e ao lado de um bom médico aqui, que é Caiado”, disse o ex-presidente em tom de brincadeira.
No entanto, Bolsonaro mostrou um certo pessimismo sobre suas possibilidades de recorrer da decisão do TSE. “Até o líder do partido, o Valdemar [Costa Neto – presidente do PL] falou que esse recurso no Supremo [Tribunal Federal (STF)] é igual quando você tem uma briga em casa e entra com o recurso para a sogra decidir”, ironizou.
Indagado se consideraria o nome de Ronaldo Caiado para a disputa pela presidência da República em 2026, o ex-presidente foi taxativo: “acho que o Brasil todo considera”, concluiu.
Caiado disse que a conversa com Bolsonaro foi totalmente descontraída, sem nenhum assunto específico. O governador ressaltou avanços que Goiás teve durante a gestão e destacou o gesto como a característica que um governante tem que ter, além de ser um reconhecimento da liderança do ex-presidente, por saber da liturgia do cargo.
O chefe do Executivo estadual relembrou que Bolsonaro foi bem votado no estado, tendo recebido mais votos nas eleições. Na época, ele teve 58,71% dos votos contra 41,29% do presidente eleito Lula (PT) no território goiano.
Em relação à reforma tributária, na qual Jair Bolsonaro se disse alinhado com Caiado, o governador voltou a criticar e demonstrar preocupação com o tema.
“Todos nós estamos extremamente preocupados com o que está aí pela frente. Goiás perde uma capacidade de crescimento que vem apresentando diante dessas mudanças. Entre elas, a desfiguração completa dos entes federados e, além do mais, uma tributação que penalizará todo setor produtivo, governo, prestadores de serviço, médias e pequenas empresas. Enfim, é algo que vai atingir a vida de cada um. Dos profissionais liberais, de todo mundo. Então, é um momento muito delicado e eu continuarei esse debate esperando que a gente possa discutir mais no Senado Federal pra ver se minimizamos esse estrago que eles propõem nessa reforma”, declarou.
O governador esclareceu que não é contra a reforma tributária, mas contra a perda da autonomia dos prefeitos e governadores. Caiado citou novamente a entrevista do economista e ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, que afirmou que a perda da autonomia seria um preço a se pagar pela prosperidade.
“Qual país foi esse que teve prosperidade? Me diga qual. ‘Ah, porque a ciência econômica…’ me dê dados! Eu busquei todos os dados, veja o México, a projeção do México, veja a Austrália, veja Nova Zelândia. Eu estou falando porque, modéstia à parte, eu estudo. Eu não estou falando no achismo. Se o Maílson da Nóbrega fosse um bom entendedor, ele teria salvo o governo do [José] Sarney quando foi ministro da Fazenda. Então, agora ele querer dar aqui palpite em Goiás e nos estados que não conhece a realidade e que faz uma reforma única e exclusivamente visando benefícios das exportadoras… essa é a verdade. Da CNI (Confederação Nacional da Indústria) de grandes empresas, quem mais? Eu não vi jornalista fazer movimento pela reforma tributária, eu não vi o servidor público, eu não vi o trabalhador rural, eu não vi o servidor das empresas médias de Goiás, Eu não vi ninguém no Brasil fazer campanha. Quem fez? A CNI e a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). E o sistema financeiro. Só eles”, questionou Caiado.
O presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), deputado estadual Bruno Peixoto (União Brasil), também teceu críticas à proposta atual da reforma tributária e afirmou que estão trabalhando para que haja mudanças.
“Entendendo a importância da unificação da carga tributária, até mesmo para facilitar e termos o conhecimento daquilo que ora pagamos, inclusive, trabalhamos a redução da carga tributária. Mas com clareza, com transparência e sem trazer prejuízo aos municípios e aos estados. Transmitir toda a força de uma distribuição de receita por parte da arrecadação com a atual redação da PEC para um conselho federativo, nós não podemos admitir. Nós fomos eleitos. Os prefeitos foram eleitos para administrar o município, o governador foi eleito para administrar o estado. Nós não podemos aceitar um conselho sobrepor a vontade popular que é feita através das eleições. Nós não podemos ter um conselho destinando recursos, sem previsão. Está errado! Tem que mudar na redação. Lembrando que, no Senado, nós temos três representantes por estado. Então nós temos certeza que o debate será ampliado. Na Câmara as cadeiras são divididas de acordo com os números de eleitores por estados. Estado com o maior número de eleitores, maior número de cadeiras. No Senado, não. Ali reina a igualdade. O debate vai acontecer, pois nós temos a igualdade em relação ao número de cadeiras por Estado”, reforçou Bruno Peixoto.
O ex-deputado federal Major Vitor Hugo (PL), que foi adversário do governador Ronaldo Caiado nas eleições de 2022, esteve presente no almoço e avaliou o encontro como muito produtivo e descontraído.
“Acho que tem muito mais pautas que os unem do que os separam. E principalmente nesse momento agora que o país está vivendo, a união da direita é imprescindível no país e também aqui em Goiás. Muito boa essa agenda aqui, muito bacana. Uma conversa muito produtiva, descontraída. Mas, mais do que qualquer conteúdo, o importante foi o gesto de pacificação”, declarou.
Segundo Vitor Hugo, a oposição a pautas como a reforma tributária e o fim do programa das escolas cívico-militares une Caiado e Bolsonaro.
“Acho que isso aí [o debate sobre a reforma tributária] foi o que motivou, talvez, essa reaproximação mais clara. E também a questão dos colégios militares. Goiás é um ícone nesse sentido, o Caiado já tinha transformado as escolas cívico-militares em Goiás em escolas militares, Goiás tem quase 80. Essa posição firme do Caiado também acabou os aproximando e nos aproximando de volta”, destacou.
Nas redes sociais, o ex-deputado federal também se disse grato por participar do encontro. “Mais uma vez ouvi as histórias de luta de ambos – por décadas – contra a esquerda no Parlamento e percebi outra vez mais a admiração mútua que os dois nutrem. A hora agora é de união, estratégia e maturidade; hora de olharmos pra frente e planejarmos 2024 e, particularmente, 2026, ano em que a direita precisa reconquistar o Palácio do Planalto. 2022 ficou pra trás. Aproveito a oportunidade para cumprimentar publicamente o governador pela posição assumida em relação à reforma tributária e à questão dos colégios militares. Muito bom ter o amigo e líder Jair Bolsonaro em solo goiano mais uma vez”, escreveu Vitor Hugo.
O deputado estadual Fred Rodrigues (DC) também classificou o encontro de forma positiva e disse haver afinidade entre Bolsonaro e Caiado.
“Bolsonaro usou muito termo ‘somos dois da velha guarda’. A gente vê, apesar das rusgas, dos conflitos, eu acho que [isso] foi uma situação excepcional e que na verdade, agora, eles estão muito alinhados, 99% alinhados em valores e em princípios. Eu acho que no Brasil de hoje, é o que a gente precisa. Pessoas dispostas a trabalhar não só pela logística, não só pela infraestrutura, mas também pelos valores e pelos princípios”, disse o parlamentar.
De acordo com Fred Rodrigues, é esperada uma aproximação política entre o governador e o ex-presidente. “O Caiado é um nome forte, como o próprio Bolsonaro disse ali. Ele acha que é um nome que todo o Brasil aceitaria pela presidência. Mas eu acho que o fruto político seria, na verdade, uma aproximação mais ligeira. Sem dúvida, que é talvez o que parte da direita espera. Acho que, em um primeiro momento, mostrar que o estado de Goiás está muito alinhado em evitar os danos causados pelo governo federal, que já se mostrou vingativo, já mostrou que está disposto a perseguir seus adversários políticos e evitar que esses danos cheguem até aqui”, concluiu o deputado.