17 de novembro de 2024
Atualidades • atualizado em 13/02/2020 às 01:08

Especialistas pedem aprovação mais ágil de novas terapias contra o câncer

O Brasil tem pesquisadores e instituições capazes de gerar conhecimento e tecnologia para combater o câncer, mas é preciso criar mecanismos mais transparentes e mudar o planejamento da saúde para que isso se transforme em tratamentos que favoreçam o paciente.

Essa é a visão de Paulo Hoff, oncologista do Hospital Sírio-Libanês e diretor do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), na palestra de abertura do segundo dia do Fórum A Jornada do Paciente com Câncer, nesta terça (25). O evento é promovido pela Folha de S.Paulo com patrocínio do laboratório Bristol-Myers Squibb.

“Além de flagelo, o câncer é caro de tratar, por isso é preciso mudanças na forma de planejar a saúde”, disse Hoff. Ele calcula que, em poucos anos, o Brasil passe dos 600 mil casos anuais para 1 milhão de pessoas com algum tipo de câncer.

Simplificar a pesquisa clínica, aumentar a qualidade -e não só a quantidade- dos cursos de medicina e aprimorar a assistência são medidas urgentes, segundo ele.

“Se, por milagre, tivéssemos equipamentos de radioterapia suficientes em todo país, não teríamos médicos e técnicos para operar o equipamento”, afirmou.

Para Hoff, um os gargalos do tratamento do câncer no Brasil é a oferta de cirurgias oncológicas. “Não aumentou a oferta, hoje gastamos pouco mais do que há cinco anos”, disse ele, que defende realismo no uso dos recursos.

Além de investimento em tratamentos cirúrgicos iniciais, Hoff sugere discutir quais, como e para quem servem as novas tecnologias e tratamentos. “Precisamos exigir às farmacêuticas que incluam em suas pesquisas métodos para identificar quem se beneficia com o novo tratamento. A indústria tem direito de lucrar, mas também precisa ter consciência social.”

A identificação de quem realmente ganha com uma nova droga, por exemplo, permite um uso mais inteligente dos recursos. “Uma vida não tem preço, mas tem custo. Não é possível, em país nenhum, dar tudo para todos”, afirmou.

Novos tratamentos

A aprovação de novas drogas foi o tema da primeira mesa do segundo dia do fórum. Participaram da mesa Fábio Franke, oncologista do Hospital de Caridade de Ijuí, Karla Coelho, da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), e Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida. A mediação foi da jornalista Cláudia Collucci, da Folha de S.Paulo.

Franke reforçou a necessidade da criação de leis que facilitem a pesquisa clínica, única forma de acesso a tratamentos mais sofisticado para uma boa parte da população brasileira.

“No Brasil, leva-se mais de um ano e meio para abertura do protocolo. Isso faz com que muitas pesquisas nem cheguem aqui”, afirmou Franke. Segundo ele, o Brasil recebe no máximo 2% do total de estudos clínicos feitos no mundo.

A forma como novos tratamentos são incluídos no sistema de saúde suplementar foi apresentada por Coelho, da ANS (Agência Nacional de Saúde suplementar). A incorporação de novas tecnologias nos planos de saúde são revistas pela agência a cada dois anos.

“Temos muitas tecnologias novas disponíveis, mas nem todas são oportunas”, afirmou.

Além de avaliar benefícios dos tratamentos, a questão do valor do tratamento contra o câncer no custo da saúde precisa ser discutida com transparência e os investimentos têm que ser feitos também em cuidados paliativos, não só em tratamentos, segundo Coelho.

A importância da prevenção foi assinalada por Oliveira, do instituto Lado a Lado, assim como a necessidade de envolver o paciente nas discussões.

“O paciente tem pressa. Temos que começar a trabalhar em conjunto: governo, centros de pesquisa, associações de pacientes, para olhar o Brasil como um todo”, disse Oliveira.

Trabalho conjunto pode acelerar a aprovação de novas drogas, segundo Franke. “No Brasil, a aprovação é separada. Primeiro vem o registro na Anvisa, só depois vem a incorporação pela ANS. Precisamos de um sistema mais ágil para beneficiar o paciente”, disse Franke.

Oliveira lembrou que também é preciso investir no básico. “Há lugares no Brasil em que as pessoas não têm informações sobre cuidados primários, O Ministério da Saúde precisa olhar para isso. Diálogo mesmo só existe até a página um”, afirmou. (Folhapress)

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